|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
QUALQUER VIAGEM
Loiras, Elvis em latim e Papai Noel
DAVID DREW ZINGG
em Helsinque
"Na Finlândia, o costume é dar um
presente de Natal que cabe em qualquer pessoa: dinheiro." Milton
Berle
Tio Dave está cantando alegremente enquanto curte seu
fumegante banho finlandês.
"Vamos sair para ver o mago, o
maravilhoso mago de Oz."
Não -é a canção errada. Dave troca de melodia e começa a
cantarolar outra musiquinha
familiar. "Rudolf, a rena de nariz vermelho..."
É a estação errada (estamos
curtindo um verão nada natalino por aqui), mas o país certo.
A Finlândia é o lar oficial de
Rudolf e seu alegre dono, aquele
das risadas "ho-ho-ho": Papai
Noel. Este vosso humilde repórter está saindo para viajar até o
Círculo Polar Ártico para sentar-se no colo de Papai Noel e
lhe pedir um presente de Natal
muito especial, na forma de
uma loira finlandesa de 1,75
metro.
Sim, Joãozinho, Papai Noel
existe. Ele mora numa cidade
de nome nada fácil de pronunciar -Rovaniemi- e vive cercado de renas.
Apesar de situada bem ao sul
do Pólo Norte e cerca de 700 km
ao norte de Helsinque, Rovaniemi conseguiu convencer o mundo de que é lá que vive Papai
Noel, a ponto de receber visitantes de todo o mundo.
Alguns viajam pelo supersônico Concorde -mais ou menos o
mais próximo que a realidade é
capaz de chegar ao trenó mágico do bom velhinho-, em viagens organizadas por várias
agências especializadas.
Nesta terra nevada de renas e
auroras boreais fantasmagóricas, ninguém ousa resmungar
"bobagem".
Espírito Natalino
Zombar do espírito de Natal, como fez o infame personagem Scrooge, de Charles Dickens, é blasfêmia para o meio
milhão de pessoas que, todos os
anos, viajam até essa cidade
distante no Círculo Polar Ártico para conhecer o lar de Papai
Noel.
Brasileiros tropicais são novidade aqui na Noelândia, mas
os Pequenos Ajudantes de Papai Noel esperam mudar tudo
isso ainda este ano.
Eles querem que você venha
para cá durante o verão brasileiro, para sussurrar seus pedidos de Natal no ouvido poliglota de Papai Noel.
Ele entende português e arranha cerca de 500 outras línguas
faladas em todo o mundo, de
modo que não há como você errar. No inverno -ou seja, mais
ou menos metade do ano, por
aqui-, a aldeia de Papai Noel,
situada exatamente sobre o
Círculo Polar Ártico, a oito
quilômetros da cidade, vira
uma versão quase perfeita do
Natal à moda antiga.
Casinhas de madeira bem arrumadinhas se alinham sob pinheiros cujos ramos vergam
sob o peso da neve. Nas suas lareiras ardem fogueiras feitas de
lenha aromática, deixando tudo aconchegante, e no fundo
vêem-se algumas renas pastando.
Mas as renas passam a maior
parte de seu tempo puxando
trenós repletos de turistas que
querem conhecer a paisagem
de cartão-postal à velocidade
de galope corrido.
Rudolf para o jantar?
É melhor que galopem rápido, mesmo. Em Rovaniemi, a
rena que andar muito devagar
pode, de uma hora para outra,
se ver transformada em suculentos bifes.
A carne de rena é um dos pratos preferidos dos finlandeses.
Muitos restaurantes locais na
Lapônia a incluem em seus cardápios. Os pais desejosos de
poupar os sentimentos de seus
filhinhos talvez queiram esconder os menus dos restaurantes,
para que as crianças não percebam que estão devorando Rudolf assado.
Derivados do "lap"
As palavras que você encontra com mais frequência em
Rovaniemi são variações de
"lap" -lapônio, lapão.
Sei que você já sabe que esta
parte do mundo é conhecida
como Lapônia. Logo, deve imaginar que é aqui que vivem os
lapões, certo? Errado.
"Lapão" ou "lapônio" se referem à população nativa do norte da Escandinávia, mas são
termos usados apenas por pessoas de fora da região.
Por alguma obra da insondável lógica finlandesa, a população nativa deste território setentrional é conhecida, por
aqui, como "sami".
Os "sami" têm orgulho de suas
tradições e de sua língua e rejeitam a comercialização de sua
herança cultural pelos "não-sami". Durante a Segunda Guerra
Mundial, os alemães incendiaram muitas cidades finlandesas, incluindo Rovaniemi. Muitos "sami" voltaram a ganhar a
vida à moda tradicional de seu
povo: criando renas.
Muitos "sami" criam Rudolfs
até hoje.
Uma loira de Helsinque me
disse, enquanto tomávamos
uma vodca gelada, que "os pastores de renas conseguiram preservar a língua e a cultura "sami" melhor do que os outros "sami'".
Ela me contou que já existe
uma bandeira "sami", um hino
nacional "sami" e, o que é ainda mais importante, um manual de computador em "sami".
As loiras e Elvis em latim
Tudo que se diz sobre as loiras finlandesas é verdade. Tio
Dave esteve em Helsinque numa noite de 1º de maio, um dos
três feriados nacionais em que
os finlandeses costumam endoidar por completo.
Para maiores detalhes sobre
esse furacão de libertinagem e
devassidão, você terá que se
sintonizar nesta coluna na semana que vem.
Você também vai querer voltar na semana que vem para
ouvir sobre meu herói, o professor Jukka Ammondt, da universidade de Jyvaskyla, que
canta canções antigas de Elvis
Presley em latim, como "Glauci
Calcei" ("Blue Suede Shoes"),
"Mella Fella" ("Money Honey") e "Quate, crepa, rota"
("Shake, Rattle and Roll").
David Drew Zingg está viajando a convite da
FinnAir, Spanair e do Conselho de Turismo da Finlândia.
Tradução de Clara Allain
Texto Anterior: Iniciada uma nova aliança Próximo Texto: Patagônia nevada: Lagos Andinos dão banho de beleza Índice
|