São Paulo, Segunda-feira, 28 de Junho de 1999
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QUALQUER VIAGEM
Loiras, Elvis em latim e Papai Noel

DAVID DREW ZINGG
em Helsinque



 "Na Finlândia, o costume é dar um presente de Natal que cabe em qualquer pessoa: dinheiro." Milton Berle
Tio Dave está cantando alegremente enquanto curte seu fumegante banho finlandês. "Vamos sair para ver o mago, o maravilhoso mago de Oz."
Não -é a canção errada. Dave troca de melodia e começa a cantarolar outra musiquinha familiar. "Rudolf, a rena de nariz vermelho..."
É a estação errada (estamos curtindo um verão nada natalino por aqui), mas o país certo.
A Finlândia é o lar oficial de Rudolf e seu alegre dono, aquele das risadas "ho-ho-ho": Papai Noel. Este vosso humilde repórter está saindo para viajar até o Círculo Polar Ártico para sentar-se no colo de Papai Noel e lhe pedir um presente de Natal muito especial, na forma de uma loira finlandesa de 1,75 metro.
Sim, Joãozinho, Papai Noel existe. Ele mora numa cidade de nome nada fácil de pronunciar -Rovaniemi- e vive cercado de renas.
Apesar de situada bem ao sul do Pólo Norte e cerca de 700 km ao norte de Helsinque, Rovaniemi conseguiu convencer o mundo de que é lá que vive Papai Noel, a ponto de receber visitantes de todo o mundo.
Alguns viajam pelo supersônico Concorde -mais ou menos o mais próximo que a realidade é capaz de chegar ao trenó mágico do bom velhinho-, em viagens organizadas por várias agências especializadas.
Nesta terra nevada de renas e auroras boreais fantasmagóricas, ninguém ousa resmungar "bobagem".

Espírito Natalino
Zombar do espírito de Natal, como fez o infame personagem Scrooge, de Charles Dickens, é blasfêmia para o meio milhão de pessoas que, todos os anos, viajam até essa cidade distante no Círculo Polar Ártico para conhecer o lar de Papai Noel.
Brasileiros tropicais são novidade aqui na Noelândia, mas os Pequenos Ajudantes de Papai Noel esperam mudar tudo isso ainda este ano.
Eles querem que você venha para cá durante o verão brasileiro, para sussurrar seus pedidos de Natal no ouvido poliglota de Papai Noel.
Ele entende português e arranha cerca de 500 outras línguas faladas em todo o mundo, de modo que não há como você errar. No inverno -ou seja, mais ou menos metade do ano, por aqui-, a aldeia de Papai Noel, situada exatamente sobre o Círculo Polar Ártico, a oito quilômetros da cidade, vira uma versão quase perfeita do Natal à moda antiga.
Casinhas de madeira bem arrumadinhas se alinham sob pinheiros cujos ramos vergam sob o peso da neve. Nas suas lareiras ardem fogueiras feitas de lenha aromática, deixando tudo aconchegante, e no fundo vêem-se algumas renas pastando.
Mas as renas passam a maior parte de seu tempo puxando trenós repletos de turistas que querem conhecer a paisagem de cartão-postal à velocidade de galope corrido.

Rudolf para o jantar?
É melhor que galopem rápido, mesmo. Em Rovaniemi, a rena que andar muito devagar pode, de uma hora para outra, se ver transformada em suculentos bifes.
A carne de rena é um dos pratos preferidos dos finlandeses. Muitos restaurantes locais na Lapônia a incluem em seus cardápios. Os pais desejosos de poupar os sentimentos de seus filhinhos talvez queiram esconder os menus dos restaurantes, para que as crianças não percebam que estão devorando Rudolf assado.

Derivados do "lap"
As palavras que você encontra com mais frequência em Rovaniemi são variações de "lap" -lapônio, lapão.
Sei que você já sabe que esta parte do mundo é conhecida como Lapônia. Logo, deve imaginar que é aqui que vivem os lapões, certo? Errado.
"Lapão" ou "lapônio" se referem à população nativa do norte da Escandinávia, mas são termos usados apenas por pessoas de fora da região.
Por alguma obra da insondável lógica finlandesa, a população nativa deste território setentrional é conhecida, por aqui, como "sami".
Os "sami" têm orgulho de suas tradições e de sua língua e rejeitam a comercialização de sua herança cultural pelos "não-sami". Durante a Segunda Guerra Mundial, os alemães incendiaram muitas cidades finlandesas, incluindo Rovaniemi. Muitos "sami" voltaram a ganhar a vida à moda tradicional de seu povo: criando renas.
Muitos "sami" criam Rudolfs até hoje.
Uma loira de Helsinque me disse, enquanto tomávamos uma vodca gelada, que "os pastores de renas conseguiram preservar a língua e a cultura "sami" melhor do que os outros "sami'".
Ela me contou que já existe uma bandeira "sami", um hino nacional "sami" e, o que é ainda mais importante, um manual de computador em "sami".

As loiras e Elvis em latim
Tudo que se diz sobre as loiras finlandesas é verdade. Tio Dave esteve em Helsinque numa noite de 1º de maio, um dos três feriados nacionais em que os finlandeses costumam endoidar por completo.
Para maiores detalhes sobre esse furacão de libertinagem e devassidão, você terá que se sintonizar nesta coluna na semana que vem.
Você também vai querer voltar na semana que vem para ouvir sobre meu herói, o professor Jukka Ammondt, da universidade de Jyvaskyla, que canta canções antigas de Elvis Presley em latim, como "Glauci Calcei" ("Blue Suede Shoes"), "Mella Fella" ("Money Honey") e "Quate, crepa, rota" ("Shake, Rattle and Roll").


David Drew Zingg está viajando a convite da FinnAir, Spanair e do Conselho de Turismo da Finlândia.

Tradução de Clara Allain



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