São Paulo, segunda, 28 de setembro de 1998

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Judeus de Praga têm protetor

especial para a Folha

Em Praga, há uma sinagoga diferente de todas as outras. Chama-se "Altneuschul" -antiga nova sinagoga, uma referência ao fato de que esta era a "nova sinagoga" até que uma outra foi construída.
A "Altneuschul" adquiriu renome especial por causa de um de seus rabinos, Judah Loew (1525-1609), também conhecido como "Maharal".
Grande talmudista, matemático e filósofo, o rabino Loew tornou-se objeto de muitas lendas. Conta-se que ele criou um "Golem", uma criatura desprovida de alma e com poderes sobrenaturais, para proteger os judeus de Praga dos seus perseguidores. Dizem que o corpo do "Golem" repousa até hoje no sótão da "Alteuschul", ao qual ninguém jamais teve acesso.
A sinagoga, de 700 anos, possui uma beleza mística. O ambiente interno é mal iluminado; o jogo de sombras convida a baixar a voz e a andar na ponta dos pés. É um lugar onde se respira espiritualidade.
Um aspecto interessante na "Alteuschul" é que o púlpito do oficiante é rebaixado, seguindo o costume das antigas sinagogas da Babilônia e da Palestina.
O conceito de descer a um plano inferior para dirigir o serviço religioso ressalta a humildade como atributo necessário para quem vai conduzir a congregação em suas preces.

O templo holandês
Em Amsterdã, um dos mais imponentes edifícios é o da famosa sinagoga Portuguesa. Foi construída na década de 1670 e tornou-se um símbolo do poder e da autoconfiança dos judeus sefarditas que então viviam na cidade.
Foi a primeira vez na história da Europa Ocidental que os judeus puderam construir um templo desse porte.
É uma evidência de que gozavam em Amsterdã de uma situação tão boa que não precisavam se esconder e podiam praticar sua religião abertamente.
O interior da sinagoga é sóbrio, conforme a tradição dos protestantes holandeses do século 17.
Os bancos são de madeira escura e atrás de cada assento há um suporte para uma vela.
Um gigantesco candelabro com mil velas ilumina o santuário. Até hoje, não há luz elétrica nem aquecimento no prédio. A comunidade judaica local faz questão de manter a sinagoga exatamente como era.

Monumento britânico
Situada no East End de Londres, a famosa "Bevis Marks" é a mais antiga sinagoga da Inglaterra.
Construída em 1701, teve como modelo a sinagoga Portuguesa de Amsterdã. Sua história está intimamente ligada ao restabelecimento dos judeus no Reino Unido quatro séculos após terem sido banidos do país. Considerada um monumento nacional, "Bevis Marks" é uma jóia histórico-arquitetônica.
É possível entrar lá dentro e sentar nos mesmos bancos em que os judeus se sentavam 300 anos atrás. O lampadário de bronze foi trazido a Londres por judeus holandeses. Os sete enormes candelabros pendentes representam os sete dias da semana.
Os serviços religiosos são oficiados à luz de velas. Dentro da belíssima arca santa de madeira, as capas de veludo e os adornos de prata que enfeitam os rolos da Torá -livro sagrado do judaísmo- são valiosas peças do século 17. Diante da arca, dez grandes castiçais simbolizam os Dez Mandamentos. Todo o cenário é condizente com o nome da sinagoga em hebraico, "Shaar Hashamayim" (portão dos céus).
Por fim, é indispensável mencionar a Congregação Israelita Paulista, a maior congregação judaica da América Latina, que atende hoje 1.800 famílias associadas. Foi fundada em 1936 por judeus alemães que se viram forçados a deixar sua terra natal quando os nazistas subiram ao poder.
O nome hebraico da sinagoga é "Etz Chayim", a árvore da vida. A CIP, como a chamamos, não é especialmente notável do ponto de vista arquitetônico. Mas é lá que exerço o rabinato, há 28 anos, e rezo, em companhia dos meus amigos. (HIS)



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