São Paulo, segunda, 28 de setembro de 1998

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DIA DO PERDÃO
Templos judaicos em várias cidades do mundo são museus que revelam histórias de tolerância espiritual
Sinagogas vão além da religiosidade

HENRY I. SOBEL
especial para a Folha

A sinagoga é mais do que um templo. Seu nome em hebraico, "Beit Knesset" -literalmente, casa de reunião- ressalta que, além de sua função religiosa, é um local onde os judeus se encontram.
Durante quase dois milênios, desde o ano 70, quando os judeus foram exilados após a destruição do seu templo em Jerusalém, até 1948, quando renasceu o Estado de Israel, o povo judeu não teve endereço fixo.
Mas onde quer que se estabelecessem fundavam uma sinagoga. Algumas são grandiosas, outras, modestas. Cada uma delas espelha, de certa forma, os costumes e a história da comunidade judaica local.
Entre as sinagogas que visitei, algumas me marcaram muito. A "Touro Synagogue", em Newport, Estado de Rhode Island (EUA), é uma delas. Inaugurada em 1764, é a mais antiga sinagoga nos Estados Unidos.
O primeiro presidente da nação, George Washington (1732-1799), fez uma visita oficial à congregação num "Shabat", o dia tradicional de descanso.
Em sua mensagem dirigida aos judeus naquela ocasião, ele disse: "O governo deste país não confere sua aprovação ao preconceito, nem tolera a perseguição (...) mas concede liberdade de consciência a todos seus habitantes. Que os filhos de Abraão residentes nesta terra possam sempre gozar do respeito de seus concidadãos." Essas palavras estão gravadas numa placa à entrada do santuário.
A construção, em estilo clássico, é magnífica. No interior, há 12 colunas representando as 12 tribos bíblicas de Israel. No chão da "bimá" (o altar), há um alçapão que dá acesso a um túnel subterrâneo.
Jamais foi utilizado, mas é uma recordação da Inquisição na Espanha e em Portugal. Naquela época de terror, quando os judeus tinham que rezar às escondidas, era comum cavarem um túnel que lhes permitisse escapar caso fossem descobertos.
Outra bela sinagoga norte-americana encontra-se em Charleston. Além de sua majestosa arquitetura em estilo grego, "Beth Elohim" -casa de Deus, em hebraico- tem uma história significativa.
A primeira construção, de 1749, foi destruída por um incêndio em 1838. Até então, havia sido um templo ortodoxo, mas seus serviços religiosos foram gradativamente se liberalizando até que, em 1841, quando a segunda sinagoga acabou de ser construída, "Beth Elohim" tornou-se oficialmente uma congregação reformista.
Para quem se interessa pela história norte-americana, uma vista a espaçosa e ensolarada sinagoga e ao pequeno museu anexo -com objetos que datam da época da revolução contra os ingleses e da Guerra Civil- constitui uma experiência memorável.
Outra sinagoga nos EUA que merece ser visitada é a congregação "Shearith Israel", em Nova York. O atual edifício fica na rua 70, pertinho do Central Park West. No saguão da sinagoga há uma linda placa em homenagem ao grupo de homens, mulheres e crianças que foram perseguidos pela Inquisição e encontraram liberdade de religião em Nova Amsterdã (como era chamada Nova York na época).
A "Shearith Israel" foi fundada em 1654 por 23 judeus que fugiram do Recife quando os portugueses retomaram dos holandeses o Nordeste do Brasil e passaram a atormentar os "hereges".


Henry I. Sobel, 54, é presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista.



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