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DIA DO PERDÃO
Templos judaicos em várias cidades do mundo são museus que revelam histórias de tolerância espiritual
Sinagogas vão além da religiosidade
HENRY I. SOBEL
especial para a Folha
A sinagoga é mais do que um
templo. Seu nome em hebraico,
"Beit Knesset" -literalmente, casa de reunião- ressalta que, além
de sua função religiosa, é um local
onde os judeus se encontram.
Durante quase dois milênios,
desde o ano 70, quando os judeus
foram exilados após a destruição
do seu templo em Jerusalém, até
1948, quando renasceu o Estado de
Israel, o povo judeu não teve endereço fixo.
Mas onde quer que se estabelecessem fundavam uma sinagoga.
Algumas são grandiosas, outras,
modestas. Cada uma delas espelha,
de certa forma, os costumes e a história da comunidade judaica local.
Entre as sinagogas que visitei, algumas me marcaram muito. A
"Touro Synagogue", em Newport,
Estado de Rhode Island (EUA), é
uma delas. Inaugurada em 1764, é
a mais antiga sinagoga nos Estados
Unidos.
O primeiro presidente da nação,
George Washington (1732-1799),
fez uma visita oficial à congregação num "Shabat", o dia tradicional de descanso.
Em sua mensagem dirigida aos
judeus naquela ocasião, ele disse:
"O governo deste país não confere
sua aprovação ao preconceito,
nem tolera a perseguição (...) mas
concede liberdade de consciência a
todos seus habitantes. Que os filhos de Abraão residentes nesta
terra possam sempre gozar do respeito de seus concidadãos." Essas
palavras estão gravadas numa placa à entrada do santuário.
A construção, em estilo clássico,
é magnífica. No interior, há 12 colunas representando as 12 tribos
bíblicas de Israel. No chão da "bimá" (o altar), há um alçapão que
dá acesso a um túnel subterrâneo.
Jamais foi utilizado, mas é uma
recordação da Inquisição na Espanha e em Portugal. Naquela época
de terror, quando os judeus tinham que rezar às escondidas, era
comum cavarem um túnel que lhes
permitisse escapar caso fossem
descobertos.
Outra bela sinagoga norte-americana encontra-se em Charleston.
Além de sua majestosa arquitetura
em estilo grego, "Beth Elohim"
-casa de Deus, em hebraico-
tem uma história significativa.
A primeira construção, de 1749,
foi destruída por um incêndio em
1838. Até então, havia sido um
templo ortodoxo, mas seus serviços religiosos foram gradativamente se liberalizando até que, em
1841, quando a segunda sinagoga
acabou de ser construída, "Beth
Elohim" tornou-se oficialmente
uma congregação reformista.
Para quem se interessa pela história norte-americana, uma vista a
espaçosa e ensolarada sinagoga e
ao pequeno museu anexo -com
objetos que datam da época da revolução contra os ingleses e da
Guerra Civil- constitui uma experiência memorável.
Outra sinagoga nos EUA que merece ser visitada é a congregação
"Shearith Israel", em Nova York. O
atual edifício fica na rua 70, pertinho do Central Park West. No saguão da sinagoga há uma linda
placa em homenagem ao grupo de
homens, mulheres e crianças que
foram perseguidos pela Inquisição
e encontraram liberdade de religião em Nova Amsterdã (como era
chamada Nova York na época).
A "Shearith Israel" foi fundada
em 1654 por 23 judeus que fugiram
do Recife quando os portugueses
retomaram dos holandeses o Nordeste do Brasil e passaram a atormentar os "hereges".
Henry I. Sobel, 54, é presidente do Rabinato da
Congregação Israelita Paulista.
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