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ÁFRICA
Luanda exibe marcas de guerra
Cidade foi praticamente esvaziada no conflito; hoje, vive boom de crescimento e tem trânsito caótico
EM ANGOLA
A história conturbada de Angola está impregnada na capital. Nos anos 60, Luanda era
uma das cidades mais avançadas e cosmopolitas do continente africano e chegou a ser
apelidada de "Paris da África".
Hoje, carrega as marcas dos
30 anos da guerra civil, encerrada em 2002, e vive efervescente reconstrução. Em 1975,
no movimento pela independência do país, 400 mil pessoas
deixaram Luanda em 30 dias.
Médicos, professores e técnicos, que faziam a cidade funcionar, abandonaram casas e pertences. Por semanas, Luanda
virou uma cidade fantasma e
foi invadida por camponeses
em fuga do avanço das batalhas.
O que estava vazio foi tomado. Casas, escritórios ou fábricas viraram lares para a população mais pobre. Na época, havia
um sistema de abastecimento
de água suficiente para abastecer torneiras, que dispensava
caixas-d'água. Sem técnicos para colocar o sistema para funcionar, a cidade ficou sem água,
e as pessoas improvisaram.
Hoje, a falta de água e luz é
quase diária, e o som dos geradores é comum. Nos prédios,
ainda é possível reconhecer o
traço elegante da arquitetura
dos anos 50, desfigurada por
grades, arames, rachaduras e
parabólicas. Em alguns casos,
há buracos de balas de fuzil.
Apesar de parecerem pouco
atraentes, essas sequelas dão
um caráter único ao lugar.
Um dos pontos mais bonitos
da cidade é a fortaleza de São
Miguel, erguida pelos portugueses em 1576. No alto de um
monte, tem vista para a baía e a
cidade. A baía de Luanda é formada por uma península de
areia conhecida como "a Ilha",
onde bares e restaurantes oferecem boa comida em frente ao
mar e com vista para a cidade.
O trânsito em Luanda faz São
Paulo parecer pacata. Além dos
muitos carros, praticamente
não há semáforos. Há só um
cruzamento controlado pelo
que aparenta ser o único guarda de trânsito da cidade.
Os carros se enfiam em qualquer centímetro vazio num angustiante tétris automobilístico. Às vezes, dois dedos separam a lanterna de um do para-
choque do outro. Raramente há
mais que 15 cm entre um carro
e outro. Dá para perder 40 minutos para andar 500 m.
Hoje, a economia do país
cresce vertiginosamente. Quase toda a produção angolana está ancorada ao petróleo, o que
atraiu o governo da China a investir ali em troca do combustível bruto. Grupos de chineses
formam exércitos incansáveis
que fazem brotar modernas
torres de vidro em meio aos
prédios antigos da cidade baixa,
com pouca ou nenhuma preocupação com a história local.
O edifício do antigo mercado
central está sendo demolido
para dar lugar a um shopping
center. Em menos de uma década, Angola será diferente.
(MARCELO PLIGER)
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