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FRONTEIRAS
Porco que come "bellota" faz o melhor presunto
DO ENVIADO ESPECIAL À EXTREMADURA
Não se come "jamón", o presunto cru espanhol, sem um estado de espírito adequado. "O presunto exige um paladar crítico,
um veredicto", sentencia o detetive particular Pepe Carvalho, personagem de ficção criado pelo
mais famoso escritor de romances policiais espanhol, Manuel
Vázquez Montalbán.
Carvalho é um gastrônomo, assim como seu criador. Não por
acaso, no ano passado, o jornal espanhol "El Mundo" comparou
Montalbán ao "jamón de pata negra". Trata-se de um presunto de
elite, equivalente a um vinho de
denominação controlada.
O melhor dos presuntos é feito
com porcos que se alimentam
quase que exclusivamente de
"bellotas", literalmente bolotas,
espécie de fruto seco que não existe no Brasil. A pata negra do melhor "jamón" é exatamente isso: a
peça de presunto vem completa,
com o casco negro do animal, deixando claro que aquilo tudo era a
coxa dele. Por isso, quando é exportado para os Estados Unidos,
o presunto de pata negra vai sem a
pata, para não ofender a sensibilidade dos clientes americanos.
Presuntos e embutidos são parcela fundamental da culinária extremenha. Porcos aparecem em
todas as paisagens. Para dizer que
o conquistador Francisco Pizarro
era de origem humilde, é praxe
contar que ele cuidava de porcos
quando era adolescente. Obviamente ainda não havia o elaborado sistema para conferir qualidade aos presuntos.
Um "jamón ibérico de bellota"
não é barato. Um presunto inteiro
pesa em média 7,5 kg. O preço é
de quase 40 por quilo.
A culinária extremenha vai
além de presunto e embutidos,
contudo. Queijos de cabra e de
ovelha são populares. Desses ingredientes todos são feitas entradas variadas, cuja descrição exigiria páginas e mais páginas.
Há as receitas preparadas com
as "criadillas de tierra", uma espécie de cogumelo. Um dos mais típicos pratos é a "caldereta", uma
caldeirada feita com cordeiro; outro é o cozido extremenho ("cocido etremeño"), que inclui grão-de-bico, repolho e carnes.
Entre as sobremesas extremenhas sobressai uma com características nitidamente de doce português. A "técula mécula" vem
justamente de Olivenza, cidade
fronteiriça que no passado foi a
portuguesa Olivença. Feita com
ovos, amêndoas e mel, a receita
exata é um segredo de um fabricante local, a Pastelería Casa
Fuentes, fundada em 1942 nessa
cidade.
(RICARDO BONALUME NETO)
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