São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 2011

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Enredo de Shakespeare moldou Verona

Cidade aproveitou fama por conta da peça para manter Casa de Julieta, mas "túmulo" da heroína frustra visita

Prefeitura instalou uma sacada e deixou cama de filme na Casa de Julieta; a de Romeu só pode ser vista por fora

MAURÍCIO KANNO
ENVIADO ESPECIAL A VERONA

Verona, a cerca de duas horas de Veneza via trem, é a cidade onde teria se passado a romântica e trágica história de "Romeu e Julieta", peça composta em 1595.
Mas não há registros de que seu autor, o inglês William Shakespeare, tenha visitado a Itália: ele se baseou em relatos de viajantes e em uma história italiana sobre um casal de nobres.
Ainda assim, nesse caso, a vida imitou a arte: a Casa de Julieta (Casa di Giulietta, em italiano) está aberta para visitação, perto da praça central local, a piazza Bra.
Ali fica o prédio da prefeitura e a Arena, que hoje abriga espetáculos de teatro e de orquestras, como "Notre Dame de Paris" e "Cats".
Não há registro em Verona da existência de uma família Capuleto -de Julieta-, mas, nessa construção medieval na via Cappello provavelmente residia a família Dal Cappello (traduzindo, "Do Chapéu"), desde o século 13. Por acaso, a obra literária é ambientada por volta de 1300. Assim, a crença popular acabou identificando a casa como a da personagem, apesar de o lugar ter caído em degradação, até a Câmara de Verona comprar o prédio, em 1907.
Só depois disso a lendária sacada, assim como janelas quatrocentistas, foram acrescentadas, ao longo do século 20. Nos quatro pequenos andares, há móveis e pinturas veronesas para ajudar o visitante a entrar no clima. No penúltimo andar, há cama e figurino dos protagonistas da versão cinematográfica da peça de Franco Zeffirelli (1968). Lareira, mesas e cadeiras de época completam o ambiente, assim como livros em pedestais, abertos em páginas com trechos da história, em italiano e inglês.
Junto ao pátio do edifício, além da loja de suvenires, costureiros "escrevem" com linha o nome do casal -ou de quem você preferir- em corações de tecido ou outros objetos escolhidos.
Próximo à Casa de Julieta há a Casa de Romeu, assim identificada pela tradição popular, mas o prédio só pode ser observado do lado de fora. Em estilo medieval, com tijolos aparentes, é praticamente um forte, quase sem aberturas.
No caso da família Montéquio, a de Romeu na peça, realmente um documento do século 13 indica que uma família com esse nome teria vivido na área, apesar de ter sido expulsa da cidade antes da época em que o enredo da peça é ambientado.
Também pode-se visitar o que é considerado popularmente, desde o século 16, o túmulo de Julieta, mais a sudeste da cidade. O túmulo de mármore vermelho fica onde era, desde 1230, o convento e depois igreja de São Francisco -era costume nobre enterrar filhos em igrejas.
O lugar acaba sendo um chamariz para o turista visitar um museu com afrescos e esculturas da região, sem relação com a história. Vale o mérito artístico, mas é frustrante para os fãs de Julieta.


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