São Paulo, segunda-feira, 29 de outubro de 2001

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ÀS MARGENS DO RIO
Menor Estado brasileiro tem 174 km de praias, cidades históricas e último trecho do rio de 2.700 km

"Velho Chico" dá charme rústico a Sergipe

Fábio Eduardo Murauskas/Folha Imagem
Pescadores em barcos, no encontro do rio São Francisco com o mar; Sergipe abriga alguns dos mais belos trechos do 'Velho Chico'


FABIO EDUARDO MURAKAWA
ENVIADO ESPECIAL A SERGIPE

Ao sul, na Bahia, o cenário onde se desenrola a trama de "Tieta do Agreste", obra de Jorge Amado. Ao norte, a foz do rio São Francisco, na divisa com Alagoas.
São dois dos pontos mais belos do litoral brasileiro e entre eles estende-se o solo de Sergipe.
Apesar de sua pequena extensão, o Estado abriga cenários variados. Possui 174 km de praias, cidades históricas, como São Cristóvão, e a rusticidade do sertão.
O que diferencia Sergipe, e também Alagoas, de qualquer outro local no Nordeste, porém, é o privilégio de guardar o último trecho de um dos rios mais importantes do país: o São Francisco.
Um pequeno vilarejo, no município de Brejo Grande, é o ponto final do trajeto de 2.700 km que o Velho Chico percorre entre o sul de Minas Gerais e o oceano Atlântico. É também um dos pontos mais bonitos de todo o rio.
Na margem sergipana, entre o rio e o mar, está a vila de Cabeço, onde cerca de 80 famílias vivem de maneira ainda rudimentar. As casas são feitas de folhas de coqueiro, e seus moradores vivem sobretudo da pesca e da caça.
Do outro lado do rio, em Alagoas, estende-se uma longa faixa de dunas. Existem ali pequenas lagoas formadas pelas cheias do rio São Francisco, que são usadas como balneários pelos turistas.
Entre uma margem e outra, barcos a vela deslizam no silêncio, quebrado apenas pelos motores das lanchas dos pescadores, conhecidas como "tó-tó-tó" devido ao ruído que produzem.
Mas a beleza desse cenário ganha contornos inusitados se o turista tem conhecimento do que está acontecendo com o rio e, por consequência, com a rotina dos moradores da região.
A mão do homem fez a natureza enlouquecer, e fenômenos curiosos ocorrem no encontro do São Francisco com o mar.
O ano é de seca severa, e as usinas hidrelétricas retêm as águas em seus reservatórios. Com isso, a vazão do rio na foz, já enfraquecida por causa das barragens, está ainda menor, e o mar avança em direção ao continente.
Os moradores de Cabeço foram os primeiros a sofrer as consequências. Já há cinco anos, o vilarejo foi invadido pelo mar, e os ribeirinhos reconstroem as casas a cada ano, fugindo das águas do oceano.
Ao turista que chega para uma visita, os nativos oferecem passeios de charrete pela vila, cobrando cerca de R$ 1 por pessoa.
O dinheiro, segundo os moradores, será usado para a compra de materiais de construção. Eles pretendem construir uma igreja, pois a antiga também se encontra embaixo d'água.
O único ponto visível da velha Cabeço é o farol antes usado para orientar as embarcações. Ele está hoje dentro do mar.
Cerca de 40 km rio acima, fica o vilarejo de Carrapicho, no município de Santana do São Francisco. Quase toda a população local vive do artesanato, cujas peças são elaboradas com a argila retirada da várzea.
Nesse trecho do São Francisco há outra prova de que o rio está enfraquecendo. Os pescadores da vizinha Penedo, cidade histórica de Alagoas, pescam constantemente peixes de água salgada.
Outro belo trecho está logo acima da usina hidrelétrica de Xingó. Ali, o São Francisco é formado por um cânion.
O acesso é feito pelo município de Canindé do São Francisco, no semi-árido sergipano.
No caminho entre Aracaju e Xingó, cerca de duas horas de carro, a paisagem vai se alterando. Primeiro o litoral, onde predominam os coqueiros. Aos poucos, eles dão lugar aos arbustos e às plantações de cana-de-açúcar, na zona da mata.
Já próximo ao ponto de chegada, o que se vê são os cactos e as imensas formações rochosas. Canindé do São Francisco está em pleno sertão. O mais belo passeio ali é subir o rio até a gruta do Talhado, no meio do cânion do São Francisco.

Fabio Eduardo Murakawa viajou a convite da Empresa Sergipana de Turismo (Emsetur) e da Varig


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