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Cidade, a 75 km de Aracaju, tem base do Projeto Tamar; "tartarugueiros" ajudam na preservação
Areia de Pirambu é berçário de tartaruga
DO ENVIADO ESPECIAL A SERGIPE
As tartarugas marinhas elegeram Sergipe como um de seus locais prediletos no litoral brasileiro
para desovar. Quatro das cinco
espécies existentes no país estão
presentes na costa sergipana.
As areias de Pirambu, 75 km ao
norte da capital Aracaju, servem
como berçário para as tartarugas
verde, cabeçuda, pente e oliva.
Naquele município está situada
uma das bases mais importantes
do projeto Tamar no Brasil, aberta também para visitação.
Além de biólogos e estagiários,
alguns moradores trabalham no
projeto. Foi a fórmula encontrada
pelo Tamar para reverter um processo predatório que se estendia
durante décadas.
Os ovos das tartarugas sempre
foram considerados um tira-gosto muito apreciado pela população local. Hoje, grande parte dessas pessoas está envolvida direta
ou indiretamente na preservação
das tartarugas marinhas.
Surgem, assim, profissões como
a dos "tartarugueiros", que recolhem os ovos enterrados na areia e
os encaminham para as bases do
Tamar, onde estão livres dos caçadores, ainda presentes.
Outros moradores, como Mario
Cruz dos Santos, 60, cuidam dos
animais mantidos nos tanques do
projeto.
No Tamar desde 1983, ele conta
que já chegou a comer e até mesmo a vender alguns ovos de tartaruga. "Dava um bom dinheirinho", recorda. "Hoje, afeiçoei-me
aos bichinhos."
Para acabar com a caça, o Tamar teve de oferecer outras fontes
de renda à população, diz a bióloga Dayse Rocha.
Por isso, mantém ainda na cidade outros projetos. Uma confecção emprega cerca de 20 pessoas.
Outras mulheres de pescadores
trabalham como bordadeiras. Os
produtos são vendidos aos turistas que visitam Pirambu.
Além das tartarugas marinhas,
a cidade gaba-se da tradição de
manter outra espécie abundante
em sua fauna: os "cornos".
Há até uma associação municipal de maridos traídos, que todo
ano promove a "corneata" (ou
passeata dos cornos) durante o
Pirambrega.
O festival ocorre em outubro e
neste ano teve como atração principal o cantor Reginaldo Rossi,
além de Wando e Amado Batista.
Apesar de servir como palanque
para políticos locais, o Pirambrega não deixa de ter um caráter divertido. Quem procura calmaria,
no entanto, deve evitar a festa, assim como o Carnaval.
Nessas datas, a cidade é tomada
por turistas de todo o Estado. Eles
trazem gigantescas caixas de som
nos porta-malas dos carros, e a cidade vira um imenso bailão.
O som, insuportavelmente alto,
começa nas primeiras horas da
manhã e só termina na madrugada seguinte.
Comenta-se na cidade que a tradição dos "cornos" está ligada à
profissão de grande parte dos maridos de Pirambu, a de pescador.
"Eles passam muitos dias no
mar, e a mulherada fica sozinha.
Aí já viu", diz um morador.
Os barcos de pesca são abundantes em Pirambu. Todos os
dias, dezenas de embarcações
chegam do mar, trazendo peixes e
camarões.
O movimento é sempre intenso
no porto da cidade, mesmo em
datas importantes, como o Carnaval e o Pirambrega.
Enquanto os peixes são descarregados pelos trabalhadores, algumas dezenas de pessoas observam o movimento com sacolas
vazias nas mãos. Entre elas, estão
Maria Neuza dos Santos, 59, e
Maria Francisca da Silva, 57.
Sem dinheiro para comprar carne e peixe, elas vão ao porto toda
semana e contam com a solidariedade dos pescadores.
"Eles sempre nos ajudam e nos
dão uns peixinhos para fritar", diz
Maria Neuza.
Ao lado do porto funciona uma
feira livre, onde as Marias vão depois tentar ganhar dos comerciantes verdura e limão para comer com o peixe.
(FABIO EDUARDO MURAKAWA)
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