São Paulo, segunda-feira, 29 de outubro de 2001

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Cidade, a 75 km de Aracaju, tem base do Projeto Tamar; "tartarugueiros" ajudam na preservação

Areia de Pirambu é berçário de tartaruga

DO ENVIADO ESPECIAL A SERGIPE

As tartarugas marinhas elegeram Sergipe como um de seus locais prediletos no litoral brasileiro para desovar. Quatro das cinco espécies existentes no país estão presentes na costa sergipana.
As areias de Pirambu, 75 km ao norte da capital Aracaju, servem como berçário para as tartarugas verde, cabeçuda, pente e oliva.
Naquele município está situada uma das bases mais importantes do projeto Tamar no Brasil, aberta também para visitação.
Além de biólogos e estagiários, alguns moradores trabalham no projeto. Foi a fórmula encontrada pelo Tamar para reverter um processo predatório que se estendia durante décadas.
Os ovos das tartarugas sempre foram considerados um tira-gosto muito apreciado pela população local. Hoje, grande parte dessas pessoas está envolvida direta ou indiretamente na preservação das tartarugas marinhas.
Surgem, assim, profissões como a dos "tartarugueiros", que recolhem os ovos enterrados na areia e os encaminham para as bases do Tamar, onde estão livres dos caçadores, ainda presentes.
Outros moradores, como Mario Cruz dos Santos, 60, cuidam dos animais mantidos nos tanques do projeto.
No Tamar desde 1983, ele conta que já chegou a comer e até mesmo a vender alguns ovos de tartaruga. "Dava um bom dinheirinho", recorda. "Hoje, afeiçoei-me aos bichinhos."
Para acabar com a caça, o Tamar teve de oferecer outras fontes de renda à população, diz a bióloga Dayse Rocha.
Por isso, mantém ainda na cidade outros projetos. Uma confecção emprega cerca de 20 pessoas. Outras mulheres de pescadores trabalham como bordadeiras. Os produtos são vendidos aos turistas que visitam Pirambu.
Além das tartarugas marinhas, a cidade gaba-se da tradição de manter outra espécie abundante em sua fauna: os "cornos".
Há até uma associação municipal de maridos traídos, que todo ano promove a "corneata" (ou passeata dos cornos) durante o Pirambrega.
O festival ocorre em outubro e neste ano teve como atração principal o cantor Reginaldo Rossi, além de Wando e Amado Batista.
Apesar de servir como palanque para políticos locais, o Pirambrega não deixa de ter um caráter divertido. Quem procura calmaria, no entanto, deve evitar a festa, assim como o Carnaval.
Nessas datas, a cidade é tomada por turistas de todo o Estado. Eles trazem gigantescas caixas de som nos porta-malas dos carros, e a cidade vira um imenso bailão.
O som, insuportavelmente alto, começa nas primeiras horas da manhã e só termina na madrugada seguinte.
Comenta-se na cidade que a tradição dos "cornos" está ligada à profissão de grande parte dos maridos de Pirambu, a de pescador.
"Eles passam muitos dias no mar, e a mulherada fica sozinha. Aí já viu", diz um morador.
Os barcos de pesca são abundantes em Pirambu. Todos os dias, dezenas de embarcações chegam do mar, trazendo peixes e camarões.
O movimento é sempre intenso no porto da cidade, mesmo em datas importantes, como o Carnaval e o Pirambrega.
Enquanto os peixes são descarregados pelos trabalhadores, algumas dezenas de pessoas observam o movimento com sacolas vazias nas mãos. Entre elas, estão Maria Neuza dos Santos, 59, e Maria Francisca da Silva, 57.
Sem dinheiro para comprar carne e peixe, elas vão ao porto toda semana e contam com a solidariedade dos pescadores.
"Eles sempre nos ajudam e nos dão uns peixinhos para fritar", diz Maria Neuza.
Ao lado do porto funciona uma feira livre, onde as Marias vão depois tentar ganhar dos comerciantes verdura e limão para comer com o peixe.
(FABIO EDUARDO MURAKAWA)


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