São Paulo, segunda, 30 de março de 1998

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CIDADES HISTÓRICAS
Região lembra escravo que virou minerador
Mina de ouro tem jazida de histórias

em Minas Gerais

Ao caminhar nas proximidades da igreja Nossa Senhora da Conceição, onde está o museu Aleijadinho, chamam a atenção as placas que indicam a direção da mina do Chico Rei.
Conforme as setas são seguidas, a área vai perdendo as características turísticas e, caso chova, as ruas ficam cobertas de lama. A mina fica nos fundos de uma casa habitada pela família que mantém o ponto turístico.
Para entrar, é preciso pagar R$ 3 e colocar capacetes. "Esse preço é para manter a iluminação da gruta e pagar a reposição dos capacetes que os turistas quebram", justifica Maria Bárbara de Lima, conhecida como dona Mariazinha, detentora da concessão da mina.
A altura dos corredores justifica a necessidade dos capacetes, que batem repetidas vezes no teto. A umidade no chão de terra requer um sapato velho e confortável.
O passeio dura poucos minutos, já que só é permitido andar pela área iluminada, não muito grande, pois o resto do espaço é um sítio arqueológico.
Mas vale a pena conhecer o espaço, principalmente para ouvir as histórias de dona Mariazinha, 82. Sentada, ela cobra ingressos dos turistas e supre os curiosos com informações sobre o local.
Chico Rei
Foi um de seus filhos que descobriu a entrada da mina, por acaso, na década de 40. Além de atrair turistas, a descoberta tornou-se um divertido cenário de brincadeiras para os filhos de dona Mariazinha.
Hoje viúva, ela assegura que, apesar de as galerias serem quilométricas, elas nunca foram motivo de preocupação, pois as crianças sempre respeitaram os limites impostos pelos pais.
Ela oferece licores caseiros aos visitantes, que podem tomar à vontade, e os vende aos turistas.
Além da história de um passado recente, a mina guarda lendas da época em que produzia ouro e pertencia ao negro Chico Rei.
O minerador veio ao Brasil como prisioneiro de guerra, após ter sido rei de uma tribo na África.
O escravo comprou a mina porque ela estava dando prejuízos ao então proprietário. Mas, segundo a lenda, assim que a jazida mudou de mãos passou a exibir toda a riqueza que estava escondendo.
Os lucros adquiridos serviram para alforriar diversos escravos e para construir a igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos (leia texto na pág. 7-6).
O líder popular teria ainda introduzido no Brasil o congado, dança africana praticada geralmente em julho, quando é celebrada a coroação de Chico Rei.
MARISTELA DO VALLE)

Mina do Chico Rei ou da Escardideira - Rua Dom Silvério, 108, tel. (031) 551-1749. Ingresso: R$ 3



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