UOL


São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 2003

Próximo Texto | Índice

RIVIERA

Com calçadão à beira-mar financiado por ingleses, balneário francês pertenceu à Itália até 1860

Nice enfeitiçou Matisse e Fitzgerald

Silvio Cioffi/Folha Imagem
No Promenade des Anglais, a luz descrita em "Suave é a Noite" (1934), de F. Scott Fitzgerald


SILVIO CIOFFI
EDITOR DE TURISMO

Capital não-oficial da Riviera Francesa, a meio caminho entre o Principado de Mônaco (onde reinam os Grimaldi, a leste) e Cannes, Nice encerra um balneário e um grande porto, diante da baía dos Anjos, onde os Alpes e o rio Pail lon encontram o Mediterrâneo.
Quinta maior cidade da França, Nice, cujo site é www.nicetourism.com, é a única pequena metrópole da Riviera, distando 30 km da fronteira com a Itália, enquanto Paris fica a 930 km dali.
Assim, cercada por lojas de grife e por Ferraris conversíveis por todos os lados, a cidade tem sotaque próprio -curiosamente o herói da unificação da Itália Giuseppe Garibaldi lá nasceu.
Os italianos a chamam de Nizza (o balneário pertenceu à Itália até 1860); os norte-americanos até hoje acham a cidade "nice", agradável; mas foram os ingleses que, há mais de um século, transformaram o local na era vitoriana, época em que ser inglês era quase sinônimo de abraçar o turismo.
A própria rainha Vitória visitou Nice em 1895, mas, antes mesmo dela, seus súditos financiaram a construção do passeio de 5 km à beira-mar, o Promenade des Anglais, construído a partir de 1822, sob inspiração do vigário anglicano Lewis Way, para dar emprego aos pobres.
Seja no alto da colina do Le Château -local onde a cidade se originou e onde estão os restaurantes e a vida noturna, além de museus-, seja à beira-mar -no Promenade des Anglais, emoldurado por palmas-, Nice tem prédios art nouveau gloriosos e algo decadentes, além de um porto cosmopolita.
A face mais emblemática da cidade tem hotéis como o Le Négresco, edificado em 1912, além de inúmeros prédios, uns ecléticos, outros modernosos.
Nice tem um Carnaval de 18 dias entre o final de fevereiro e o início de março, único pelo espetáculo de fogos e por uma batalha de flores. Foi eleita lugar para se viver por escritores e artistas. Entre esses, figuram o norte-americano F. Scott Fitzgerald (leia trecho abaixo), e ainda o pintor Henri de Toulouse-Lautrec e o escultor Auguste Rodin.
Os pintores Henri Matisse e Raoul Dufy foram definitivamente mais longe e estão sepultados na cidade. Obras de Matisse, que viveu cercado de amigos como Pablo Picasso, Pierre Bonnard e Pierre-Auguste Renoir, artistas plásticos que viveram em cidades próximas, na Riviera Francesa, podem ser apreciadas num museu em Cimiez.
Nascido na Rússia, Marc Chagall também se rendeu aos encantos e à luz radiosa de Nice, onde o enorme Museu de Arte Moderna e Arte Contemporânea abriga inclusive obras de artistas da era pop, como Roy Lichtenstein, Andy Warhol e Christo.
A fonte do Sol, na praça Massena, e a rua France, com seu calçadão repleto de lojas, barzinhos e restaurantes turísticos, são outros lugares em que o banhista passeia a pé.
Os restaurantes turísticos ficam atrás do chamado Quai des États-Unis, no Cours Saleya, ligados à praia por um pavilhão, na área conhecida como Vieux Nice. Às terças e aos domingos, no Cours Saleya, tem lugar um mercado de flores; às segundas, ocorre ali uma feirinha de antiguidades.
A praia é pedregosa e cheia de gente nos dias ensolarados, mas pouca gente nada (os banhos de mar, aliás, só entraram na moda nos anos 1920). Os sutiãs foram abolidos há décadas, mas ninguém liga muito para o panorama humano.
Para ter privacidade, a saída é alugar um caiaque e remar até um local ermo, pois há muitas encostas escarpadas, ideais para quem, a despeito de toda a muvuca, quer apenas sossegar.
Há muitas mansões aristocráticas penduradas entre o Mediterrâneo e a estrada que leva para o leste, no rumo de Monte Carlo.
Um deles, o Palais Maeterlinck, que foi a mansão do poeta belga Maurice Maeterlinck, entre Nice e Villefranche, tem 3,5 hectares de área, de onde se avista o mar de uma perspectiva vertical. Vila que mescla os estilos barroco e renascentista, com uma imensa piscina, o local é hoje um hotel e ostenta desenhos originais de Amedeo Modigliani.


Silvio Cioffi viajou a convite da operadora Queensberry, da Alitalia e da The Leading Hotels of the World


Próximo Texto: Cannes é repleta de estrelas desde o séc.19
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.