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LIGÚRIA
Estadista converteu-a em república; navegador descobriu a América e arquiteto contemporâneo regenerou porto
Prole célebre traçou a história de Gênova
DO ENVIADO ESPECIAL À LIGÚRIA
Renzo Piano, 63, foi o arquiteto
escolhido para reurbanizar a área
portuária de Gênova, em 1992,
quando o mundo comemorava os
500 anos da descoberta da América. O projeto tirou do local o aspecto "dark". De lá para cá, os becos onde mascates do norte da
África se misturavam a prostitutas de todo o mundo viraram um
local limpo e aprazível.
Os prédios projetados no porto
por Renzo Piano espraiaram por
toda a cidade uma onda de renovação sem precedentes na história
das cidades européias.
Nascido em Gênova, Piano notabilizou-se mundialmente quando projetou, com o inglês Richard
Rogers, o polêmico Centro Georges Pompidou, de Paris, também
chamado de Beaubourg. Imenso
museu-maravilha dos anos 70,
"monstro com as entranhas para
fora", como dizem seus detratores, o Beaubourg pôs abaixo o
mercado Les Halles em 1969, o
que também desagradou a muitas
pessoas, e foi construído entre
1971 e 1977.
Outra obra de Piano, o aeroporto de Kansai, construído em 1994
sobre uma ilha artificial em Osaka, mostra o arrojo técnico desse
genovês.
Soberboso
Andrea Doria capitaneou Gênova à condição de uma república
independente tão rica que foi alcunhada de "La Superba" (A Soberba). Nascido em Onegila, em
1498, misturando as qualidades
de guerreiro e de homem de negócios, Doria foi um estadista que
empreendeu duas dezenas de batalhas, servindo à Itália e à França,
e que, afinal, foi cognominado "O
Pai da Paz".
Antes dele a expansão genovesa,
que advinha de sua participação
nas cruzadas e no combate às invasões mouras, vivia momentos
adversos.
Gênova, que tinha adversários
em Pisa e Veneza, havia criado a
Banca di San Giorgio, que em
1408 inventara o sistema de letras
de câmbio, mas vivia dificuldades
internas causadas pela rixa entre
as famílias aristocráticas. Com a
descoberta do caminho para as
Índias bordejando o continente
africano, a decadência tomou
conta da economia genovesa.
Foi o pulso firme de Andrea Doria, que morreu em 1560 não sem
antes ter recuperado "La Superba", que ajudou a manter uma república independente por mais
dois séculos, até cair sob Napoleão Bonaparte e ser, depois, anexada pela Sardenha.
Apátrida
Normalmente as biografias de
Cristóvão Colombo registram
que ele nasceu em Gênova, em
1451, e que começou cedo nas lides do mar, aos 14 anos, embora
fosse filho de tecelões.
Mas nem tudo é pacífico na vida
desse navegador que, sem saber,
atravessou o Atlântico para descobrir a América, em 1492.
Colombo, cujo nome em italiano é Cristofaro, pode ter tido o sobrenome Colón, ou Colom. Há
quem desconfie da origem genovesa, quem diga que a família tinha origem judaica e mesmo
quem ache que o navegador nasceu na ilha da Madeira (teria sido
português) ou na Espanha.
A celeuma é antiga, como também não se sabe ao certo onde ele
está sepultado realmente.
Mas pelo menos essa polêmica,
a da autenticidade do corpo, pode
ser decidida proximamente, com
um controvertido exame de
DNA. Sevilha, na Espanha, e Santo Domingo, no Caribe, estão em
litígio: onde estaria a verdadeiro
túmulo de Colombo?
A agência noticiosa Reuters
anunciou recentemente que pesquisadores espanhóis abriram
uma tumba de bronze em Sevilha
para comparar os supostos restos
mortais de Colombo com os de
seus descentes inequívocos, como
o filho Hernando.
No ano passado, o mesmo havia
sido feito com os despojos de Diego Colombo, irmão do navegador, sacerdote morto em 1515 e
também enterrado em Sevilha.
Colombo, é certo, morreu em
Valadolid, na Espanha, em 1506, e
seu desejo era o de ser enterrado
na ilha de Hispaniola, hoje dividida pelos territórios da República
Dominicana e do Haiti.
Mas o corpo foi eventualmente
trasladado para Cuba, em 1795, e
depois para Sevilha, em 1898.
No final do século 20, uma urna
com o nome de Colombo foi
achada no interior da catedral de
Santo Domingo, reacendendo a
chama da polêmica.
O que se sabe é que ele apresentou seu projeto de viagem à Coroa
portuguesa, em 1484, sem sucesso. Em 1486, os reis Fernando 2º e
Isabel de Castela tomaram ciência
dos seus planos. A viagem ocorreria só seis anos mais tarde.
(SILVIO CIOFFI)
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