São Paulo, segunda, 30 de junho de 1997.



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MERGULHO
Espécie de babel flutuante, o Titã leva amadores para passeios de fim-de-semana no sul do Rio de Janeiro
Navio dá banho de aventura na Ilha Grande

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local

Para cima, para baixo. A cabine de proa do Titã oscila junto com as ondas enquanto o barco atravessa a baía de Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro. A bordo, 15 turistas e 4 tripulantes num cruzeiro de fim-de-semana.
O sábado amanhece nublado, mas, antes mesmo de o capitão Charles dar a ordem de soltar âncora no saco da Longa, o Sol reaparece por entre as nuvens. Elevam-se a temperatura e a adrenalina dos mergulhadores.
Todos estão ansiosos pelo contato com a água. São 2 alemães e 12 paulistas. Magros, altos, gordos, baixos, homens, mulheres misturam português, inglês, alemão: há de tudo nessa babel flutuante.
Na proa, começa a rotina pré-mergulho: reguladores atarraxados aos cilindros de ar comprimido, nadadeiras e máscaras checadas, trava-se uma luta com a roupa de neoprene que, de justa, passou a apertada graças a uns quilinhos a mais.
Um "passo de gigante" e tchburf! A água está fria (23øC), mas ninguém está preocupado. A visibilidade é pouca (seis metros), mas tudo bem.
Começa a descida. A água penetra pela roupa e forma uma lâmina morna entre o tecido e a pele. Só se ouve o barulho do ar sendo inspirado e expirado. Surgem os primeiros peixes: salemas, sargentos, garoupas.
A dez metros de profundidade, a temperatura cai subitamente a 20øC, e as partículas em suspensão limitam a visão a três metros: é uma termoclina, corrente de água fria submersa, que costuma estacionar nessa região no verão.
Com 40 minutos no fundo, a pressão no cilindro está próxima ao limite de segurança. É hora de voltar ao barco, desmontar o equipamento, remontar o equipamento e, entre uma garfada e outra de rondele, descrever aquele peixe que só você viu.
Depois do almoço, já em outro ponto, a Laje Branca, repete-se a rotina no barco. Entra na água, sai da água.
Engano
E, quando quase todos já estão de volta a bordo, um cardume de golfinhos cruza a proa. A Lei de Murphy vale também para os mergulhadores, que só conseguem ver esses bichos de cima d'água, como qualquer outro mortal.
À noite, o facho submerso das lanternas dos mergulhadores atrai novos animais e hipnotiza outros, como o casal de peixes-morcegos e um peixe-vaca que teima em "beijar" a fonte daquela luz.
Sob a água, a lua cheia se fragmenta em dezenas de pontos prateados. Seu brilho é tão forte que uma dupla de mergulhadores a confunde com o holofote do barco e quase vai para Angra dos Reis.
Antes do jantar, fila à porta dos dois equipados banheiros do Titã. O banho quente revigora e prepara o corpo para o estrogonofe, a sessão de piadas e o sono profundo nos beliches de solteiro ou nas camas das cabines para casais.
Oito da manhã. Os gigantescos motores acordam até os dorminhocos. Há pressa para o mergulho mais esperado do domingo: o Pinguino, um velho naufrágio.
A correria tem motivo. Outros três barcos se preparam para fundear. Parece uma convenção submarina: aquele velho navio de carga nunca viu tanta gente, nem quando ainda flutuava.
A caminho de Parati, uma parada na extremidade sul da Ilha Grande para o último mergulho. A água está mais quente e clara.
A variedade de peixes é maior do que nos outros pontos, apesar das lanchas de caçadores subaquáticos ancoradas na região.
No ônibus, durante a volta a São Paulo, ninguém comenta os feitos e contrafeitos da recente jornada. Todos só querem saber da aventura seguinte, o próximo mergulho.



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