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MERGULHO
Espécie de babel flutuante, o Titã leva amadores para passeios de fim-de-semana no sul do Rio de Janeiro
Navio dá banho de aventura na Ilha Grande
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local
Para cima, para baixo. A cabine
de proa do Titã oscila junto com as
ondas enquanto o barco atravessa
a baía de Ilha Grande, no litoral sul
do Rio de Janeiro. A bordo, 15 turistas e 4 tripulantes num cruzeiro
de fim-de-semana.
O sábado amanhece nublado,
mas, antes mesmo de o capitão
Charles dar a ordem de soltar âncora no saco da Longa, o Sol reaparece por entre as nuvens. Elevam-se a temperatura e a adrenalina dos mergulhadores.
Todos estão ansiosos pelo contato com a água. São 2 alemães e 12
paulistas. Magros, altos, gordos,
baixos, homens, mulheres misturam português, inglês, alemão: há
de tudo nessa babel flutuante.
Na proa, começa a rotina
pré-mergulho: reguladores atarraxados aos cilindros de ar comprimido, nadadeiras e máscaras checadas, trava-se uma luta com a
roupa de neoprene que, de justa,
passou a apertada graças a uns quilinhos a mais.
Um "passo de gigante" e
tchburf! A água está fria (23øC),
mas ninguém está preocupado. A
visibilidade é pouca (seis metros),
mas tudo bem.
Começa a descida. A água penetra pela roupa e forma uma lâmina
morna entre o tecido e a pele. Só se
ouve o barulho do ar sendo inspirado e expirado. Surgem os primeiros peixes: salemas, sargentos,
garoupas.
A dez metros de profundidade, a
temperatura cai subitamente a
20øC, e as partículas em suspensão
limitam a visão a três metros: é
uma termoclina, corrente de água
fria submersa, que costuma estacionar nessa região no verão.
Com 40 minutos no fundo, a
pressão no cilindro está próxima
ao limite de segurança. É hora de
voltar ao barco, desmontar o equipamento, remontar o equipamento e, entre uma garfada e outra de
rondele, descrever aquele peixe
que só você viu.
Depois do almoço, já em outro
ponto, a Laje Branca, repete-se a
rotina no barco. Entra na água, sai
da água.
Engano
E, quando quase todos já estão
de volta a bordo, um cardume de
golfinhos cruza a proa. A Lei de
Murphy vale também para os mergulhadores, que só conseguem ver
esses bichos de cima d'água, como
qualquer outro mortal.
À noite, o facho submerso das
lanternas dos mergulhadores atrai
novos animais e hipnotiza outros,
como o casal de peixes-morcegos e
um peixe-vaca que teima em "beijar" a fonte daquela luz.
Sob a água, a lua cheia se fragmenta em dezenas de pontos prateados. Seu brilho é tão forte que
uma dupla de mergulhadores a
confunde com o holofote do barco
e quase vai para Angra dos Reis.
Antes do jantar, fila à porta dos
dois equipados banheiros do Titã.
O banho quente revigora e prepara
o corpo para o estrogonofe, a sessão de piadas e o sono profundo
nos beliches de solteiro ou nas camas das cabines para casais.
Oito da manhã. Os gigantescos
motores acordam até os dorminhocos. Há pressa para o mergulho mais esperado do domingo: o
Pinguino, um velho naufrágio.
A correria tem motivo. Outros
três barcos se preparam para fundear. Parece uma convenção submarina: aquele velho navio de carga nunca viu tanta gente, nem
quando ainda flutuava.
A caminho de Parati, uma parada na extremidade sul da Ilha
Grande para o último mergulho. A
água está mais quente e clara.
A variedade de peixes é maior do
que nos outros pontos, apesar das
lanchas de caçadores subaquáticos
ancoradas na região.
No ônibus, durante a volta a São
Paulo, ninguém comenta os feitos
e contrafeitos da recente jornada.
Todos só querem saber da aventura seguinte, o próximo mergulho.
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