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Banhistas permeiam a história da arte
especial para a Folha
A pintura é a mais asseada das
artes. Ao menos se for considerada
a profusão de banhistas que povoam a sua história. Banhar-se é
preciso, nem que seja pretexto para nus femininos. Às vezes masculinos, como fez Michelangelo em
"Batalha de Càscina", sobre soldados que se banham no rio.
"Banhistas em Asnières", de
Seurat, está longe de exibir a impudicícia demonstrada por Degas.
Este retratava banhistas sozinhas,
às voltas com a higiene pessoal,
dentro da tina d'água ou se enxugando. Em branco e pastéis, como
em "Mulher Lavando a Perna",
explorou o tema como um voyeur.
Cézanne e Renoir pintaram grupos de banhistas. Em "As Grandes
Banhistas", Cézanne aprofunda a
simplificação de formas que antecipa o cubismo, enquanto "As Banhistas", de Renoir, extravasa sua
alegria de viver. No quadro, como
nas banhistas individuais que se
espalham pelos museus, ele compõe, com toque e cores suaves, um
hino à mulher.
Matisse e Picasso, mestres deste
século, foram igualmente sensíveis
ao tema. "Luxo, Calma e Volúpia", de Matisse, representa um
grupo com a técnica pontilhista. Já
"Les Demoiselles d'Avignon",
marco da arte moderna, deriva de
Cézanne e guarda as características dos quadros do gênero.
No período pré-impressionista,
as banhistas frequentam tanto os
mosaicos romanos quanto os quadros de, entre outros, Cranach,
Watteau e Ingres. Pintor de tom
clássico, Ingres deixou banhistas
sozinhas -"A Banhista Dita 'de
Valpinçon'", vista de costas- ou
em grupo -"O Banho Turco".
Nas palavras do poeta Charles
Baudelaire: "Um dos aspectos que
distinguem o talento de Ingres é o
amor pelas mulheres. A sua libertinagem é séria, cheia de convicção.
Ingres nunca parece tão competente e à vontade como quando
empenha o gênio com as graças de
uma jovem beldade".
Susana, a personagem bíblica, é a
mais representativa banhista da
história da arte. Como está no "Livro de Daniel", ela se banhava
quando foi surpreendida por dois
velhos que, malsucedidos em suas
investidas amorosas, acusaram-na
de adultério. De Tintoretto a Veronese, de Rubens a Rembrandt, o
tema serviu para quadros que antepõem o corpo nu de Susana à
presença lasciva dos dois velhos.
Quem acha o tema fora de moda
nos tempos de lagoas aterradas e
rios poluídos deve ver as banhistas
do pop-artista Tom Wesselman.
Lá estão elas, no chuveiro.
(FM)
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