São Paulo, segunda, 30 de junho de 1997.



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Banhistas permeiam a história da arte

especial para a Folha

A pintura é a mais asseada das artes. Ao menos se for considerada a profusão de banhistas que povoam a sua história. Banhar-se é preciso, nem que seja pretexto para nus femininos. Às vezes masculinos, como fez Michelangelo em "Batalha de Càscina", sobre soldados que se banham no rio.
"Banhistas em Asnières", de Seurat, está longe de exibir a impudicícia demonstrada por Degas. Este retratava banhistas sozinhas, às voltas com a higiene pessoal, dentro da tina d'água ou se enxugando. Em branco e pastéis, como em "Mulher Lavando a Perna", explorou o tema como um voyeur.
Cézanne e Renoir pintaram grupos de banhistas. Em "As Grandes Banhistas", Cézanne aprofunda a simplificação de formas que antecipa o cubismo, enquanto "As Banhistas", de Renoir, extravasa sua alegria de viver. No quadro, como nas banhistas individuais que se espalham pelos museus, ele compõe, com toque e cores suaves, um hino à mulher.
Matisse e Picasso, mestres deste século, foram igualmente sensíveis ao tema. "Luxo, Calma e Volúpia", de Matisse, representa um grupo com a técnica pontilhista. Já "Les Demoiselles d'Avignon", marco da arte moderna, deriva de Cézanne e guarda as características dos quadros do gênero.
No período pré-impressionista, as banhistas frequentam tanto os mosaicos romanos quanto os quadros de, entre outros, Cranach, Watteau e Ingres. Pintor de tom clássico, Ingres deixou banhistas sozinhas -"A Banhista Dita 'de Valpinçon'", vista de costas- ou em grupo -"O Banho Turco".
Nas palavras do poeta Charles Baudelaire: "Um dos aspectos que distinguem o talento de Ingres é o amor pelas mulheres. A sua libertinagem é séria, cheia de convicção. Ingres nunca parece tão competente e à vontade como quando empenha o gênio com as graças de uma jovem beldade".
Susana, a personagem bíblica, é a mais representativa banhista da história da arte. Como está no "Livro de Daniel", ela se banhava quando foi surpreendida por dois velhos que, malsucedidos em suas investidas amorosas, acusaram-na de adultério. De Tintoretto a Veronese, de Rubens a Rembrandt, o tema serviu para quadros que antepõem o corpo nu de Susana à presença lasciva dos dois velhos.
Quem acha o tema fora de moda nos tempos de lagoas aterradas e rios poluídos deve ver as banhistas do pop-artista Tom Wesselman. Lá estão elas, no chuveiro. (FM)



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