São Paulo, segunda-feira, 30 de julho de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JOGO AMISTOSO

Visada no passado por escoar ouro, prata e esmeralda, cidade conserva muralhas da época da pirataria

Cartagena conta a história da América

DO ENVIADO ESPECIAL À COLÔMBIA

Quinta maior cidade colombiana, Cartagena guarda as maiores relíquias arquitetônicas e históricas não só do país, mas da colonização espanhola.
Fundada em 1º de junho de 1533 por dom Pedro de Heredia, Cartagena de Índias recebeu este nome por sua semelhança com a baía de Cartago, no Mediterrâneo. "Ainda vigorava a idéia de que os espanhóis haviam chegado ao Oriente; por isso Cartagena de Índias", diz o guia turístico Marcos Alvarez.
Logo a cidade se tornou o principal entreposto comercial da América espanhola e, em 1741, virou a capital do bi-reinato espanhol, que congregava as áreas que hoje formam o Panamá, a Bolívia, o Equador, o norte do Peru, a Venezuela e a própria Colômbia.
O ouro, a prata e a esmeralda, abundantes na região, eram recolhidos pelos espanhóis e levados para Cartagena, de onde saíam os navios carregados para a metrópole. Assim a cidade se tornou o alvo predileto dos piratas.
Foram 200 anos de pirataria. O primeiro grande ataque foi capitaneado pelo francês Roberto Boll em 1543. Vinte anos depois, outro francês, Martin Coté, saqueou, destruiu e incendiou a cidade. No século 17, o inglês Francis Drake e o barão de Poenti fizeram novos saques e destruíram Cartagena.
Os conventos, os monastérios e as igrejas eram os principais alvos dos piratas porque guardavam as maiores relíquias.
A catedral de Cartagena, por exemplo, começou a ser construída em 1542 e ficou pronta apenas em 1770, por causa dos constantes ataques que a cidade sofria.
Nenhum pirata jamais conseguiu invadir Cartagena pelo mar. Os que tentaram acabaram encalhados nos arrecifes coralinos da baía. Os mercenários que conseguiram entrar em Cartagena atravessaram por terra a distância entre outros portos e a capital do bi-reinato espanhol.
Para se protegerem dos piratas, os espanhóis fizeram um grande conjunto de obras de defesa ao redor de Cartagena.
A cidade recebeu uma muralha com 24 baluartes e 11 quilômetros de extensão. Também foi construído um conjunto de 18 fortificações na baía.
Mas a obra mais impressionante é o forte de San Felipe de Barajas, que tem 15 mil m2 de área e 70 metros de altura.
O forte começou a ser construído em 1656 e só ficou pronto em 1769. É o maior das Américas, de acordo com os colombianos.
Em sua estrutura interna, existem dezenas de corredores que, na época, permitiam o deslocamento dos militares.
Originalmente eles tinham apenas 1,6 m de altura, de modo que os espanhóis podiam utilizá-los com facilidade, mas os piratas, que eram muito mais altos, não.
Em 1741, o pirata inglês Edward Berner patrocinou a maior campanha contra Cartagena. Ele deslocou 184 embarcações e cerca de 24 mil soldados. Deu azar: chegou à Colômbia na época das chuvas e 11 mil de seus soldados morreram de febre amarela antes do desembarque. A estrutura de defesa criada em Cartagena foi suficiente para derrotar os soldados remanescentes. Nada foi saqueado.

Pós-independência
Com a independência da Colômbia, Cartagena perdeu sua magnitude porque as mercadorias da América espanhola deixaram de ser enviadas no mesmo ritmo para a Europa.
Após a construção do canal do Panamá, no início do século 20, a cidade foi restaurada por comerciantes libaneses, sírios e norte-americanos, que julgavam que ela voltaria a ser um porto estratégico. Eles derrubaram parte da muralha, construíram aterros e pontes e reestruturaram o porto.
Em 1985, Cartagena foi declarada patrimônio histórico e cultural pela Unesco e passou a receber fortes investimentos de grupos internacionais ligados ao turismo.
Hoje, durante a temporada, o porto de Cartagena recebe pelo menos um navio de cruzeiro por dia. Metade da população vive de atividades ligadas ao turismo. Os demais trabalham principalmente em refinarias de petróleo e na indústria pesqueira.
Apesar da importância adquirida com o turismo, o porto ainda é o maior da Colômbia. Exporta café, frutas e alimentos em geral e importa eletrodomésticos.
Quem visita Cartagena hoje encontra cerca de sete quilômetros de muralhas conservadas, algumas das fortificações da baía em ruínas e o forte de San Felipe de Barajas em excelentes condições.
Há muitas casas do século 19, em vários estilos e em ótimo estado de conservação, e pracinhas charmosas, onde os bares colocam mesas e o turista pode apreciar a música local, tocada e dançada por toda a madrugada.
Vale a pena caminhar algumas horas pelo centro histórico de Cartagena para admirar a arquitetura, o povo e as esculturas de Botero espalhadas pela cidade.
(ROBERTO COSSO)



Texto Anterior: Pacotes: Por pessoa, com aéreo
Próximo Texto: Escravos deram sua cara ao litoral do país
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.