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JOGO AMISTOSO
Visada no passado por escoar ouro, prata e esmeralda, cidade conserva muralhas da época da pirataria
Cartagena conta a história da América
DO ENVIADO ESPECIAL À COLÔMBIA
Quinta maior cidade colombiana, Cartagena guarda as maiores
relíquias arquitetônicas e históricas não só do país, mas da colonização espanhola.
Fundada em 1º de junho de 1533
por dom Pedro de Heredia, Cartagena de Índias recebeu este nome
por sua semelhança com a baía de
Cartago, no Mediterrâneo. "Ainda vigorava a idéia de que os espanhóis haviam chegado ao Oriente;
por isso Cartagena de Índias", diz
o guia turístico Marcos Alvarez.
Logo a cidade se tornou o principal entreposto comercial da
América espanhola e, em 1741, virou a capital do bi-reinato espanhol, que congregava as áreas que
hoje formam o Panamá, a Bolívia,
o Equador, o norte do Peru, a Venezuela e a própria Colômbia.
O ouro, a prata e a esmeralda,
abundantes na região, eram recolhidos pelos espanhóis e levados
para Cartagena, de onde saíam os
navios carregados para a metrópole. Assim a cidade se tornou o
alvo predileto dos piratas.
Foram 200 anos de pirataria. O
primeiro grande ataque foi capitaneado pelo francês Roberto Boll
em 1543. Vinte anos depois, outro
francês, Martin Coté, saqueou,
destruiu e incendiou a cidade. No
século 17, o inglês Francis Drake e
o barão de Poenti fizeram novos
saques e destruíram Cartagena.
Os conventos, os monastérios e
as igrejas eram os principais alvos
dos piratas porque guardavam as
maiores relíquias.
A catedral de Cartagena, por
exemplo, começou a ser construída em 1542 e ficou pronta apenas
em 1770, por causa dos constantes
ataques que a cidade sofria.
Nenhum pirata jamais conseguiu invadir Cartagena pelo mar.
Os que tentaram acabaram encalhados nos arrecifes coralinos da
baía. Os mercenários que conseguiram entrar em Cartagena atravessaram por terra a distância entre outros portos e a capital do bi-reinato espanhol.
Para se protegerem dos piratas,
os espanhóis fizeram um grande
conjunto de obras de defesa ao redor de Cartagena.
A cidade recebeu uma muralha
com 24 baluartes e 11 quilômetros
de extensão. Também foi construído um conjunto de 18 fortificações na baía.
Mas a obra mais impressionante é o forte de San Felipe de Barajas, que tem 15 mil m2 de área e 70
metros de altura.
O forte começou a ser construído em 1656 e só ficou pronto em
1769. É o maior das Américas, de
acordo com os colombianos.
Em sua estrutura interna, existem dezenas de corredores que,
na época, permitiam o deslocamento dos militares.
Originalmente eles tinham apenas 1,6 m de altura, de modo que
os espanhóis podiam utilizá-los
com facilidade, mas os piratas,
que eram muito mais altos, não.
Em 1741, o pirata inglês Edward
Berner patrocinou a maior campanha contra Cartagena. Ele deslocou 184 embarcações e cerca de
24 mil soldados. Deu azar: chegou
à Colômbia na época das chuvas e
11 mil de seus soldados morreram
de febre amarela antes do desembarque. A estrutura de defesa
criada em Cartagena foi suficiente
para derrotar os soldados remanescentes. Nada foi saqueado.
Pós-independência
Com a independência da Colômbia, Cartagena perdeu sua
magnitude porque as mercadorias da América espanhola deixaram de ser enviadas no mesmo
ritmo para a Europa.
Após a construção do canal do
Panamá, no início do século 20, a
cidade foi restaurada por comerciantes libaneses, sírios e norte-americanos, que julgavam que ela
voltaria a ser um porto estratégico. Eles derrubaram parte da muralha, construíram aterros e pontes e reestruturaram o porto.
Em 1985, Cartagena foi declarada patrimônio histórico e cultural
pela Unesco e passou a receber
fortes investimentos de grupos
internacionais ligados ao turismo.
Hoje, durante a temporada, o
porto de Cartagena recebe pelo
menos um navio de cruzeiro por
dia. Metade da população vive de
atividades ligadas ao turismo. Os
demais trabalham principalmente em refinarias de petróleo e na
indústria pesqueira.
Apesar da importância adquirida com o turismo, o porto ainda é
o maior da Colômbia. Exporta café, frutas e alimentos em geral e
importa eletrodomésticos.
Quem visita Cartagena hoje encontra cerca de sete quilômetros
de muralhas conservadas, algumas das fortificações da baía em
ruínas e o forte de San Felipe de
Barajas em excelentes condições.
Há muitas casas do século 19,
em vários estilos e em ótimo estado de conservação, e pracinhas
charmosas, onde os bares colocam mesas e o turista pode apreciar a música local, tocada e dançada por toda a madrugada.
Vale a pena caminhar algumas
horas pelo centro histórico de
Cartagena para admirar a arquitetura, o povo e as esculturas de
Botero espalhadas pela cidade.
(ROBERTO COSSO)
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