São Paulo, segunda-feira, 30 de setembro de 2002

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OUTRO MÉXICO

Cidade americana é famosa pela arquitetura herdada de índios e espanhóis e pelas artes

Luz de Santa Fé doura casas de adobe

CHIAKI KAREN TADA
NO NOVO MÉXICO

Exótica aos olhos dos próprios norte-americanos, Santa Fé, a capital do Estado do Novo México, destaca-se na paisagem do sudoeste dos EUA graças à sua arquitetura caracterizada pelo uso de adobe, à sua intensa produção artística e a uma rica história que envolve índios, espanhóis, guerras, americanos e foras-da-lei.
As casas de adobe -tijolos de argila crua secados ao sol- marcam o estilo da cidade. As paredes e os muros marrons, de cantos arredondados e aparente maciez, adquirem tons dourados conforme a intensidade da luz do Sol.
Dizem, aliás, que a luz que incide sobre o Novo México é especial e um dos motivos pelos quais a região atrai artistas, fotógrafos e escritores. A essa luminosidade aliam-se uma paisagem de espaços vastos e um céu cujo azul contrasta fortemente com os diferentes tons de terra de formações rochosas, como os tabuleiros em forma de mesas, e dos leitos de rio secos, chamados de "arroyos".
"Em outros lugares o céu é o teto do mundo; mas aqui a terra era o chão do céu", registrou a escritora Willa Cather (1873-1947) em uma obra ambientada na região.
Santa Fé fica na porção norte do Estado, a mais de 2.000 metros de altitude, em um vale situado entre as montanhas Jemez e Sangre de Cristo. Neva no inverno e, no verão, a temperatura fica em torno de 26C de dia, enquanto as noites são bastante frescas. A vegetação típica é de cedros e um tipo de pinheiro chamado "piñon".
Suas principais atrações são as galerias (Santa Fé é considerada o terceiro maior mercado de artes dos EUA), a culinária apimentada e a cultura herdada de três povos: indígenas, espanhóis (que, vindos do México, colonizaram a região) e americanos (que chegaram depois). A cidade atrai 1,4 milhão de visitantes por ano.
Muitas casas têm elementos dessas culturas, e o chamado "Santa Fe style" de decoração de interiores chegou a ter grande popularidade em todo o país. Uma cerca de troncos finos de cedro inclinada de propósito ou um manto indígena jogado sobre o sofá são detalhes que valem uma foto.
Hoje em dia, o adobe, que era usado por índios e depois teve sua técnica aperfeiçoada pelos espanhóis, é comumente substituído por materiais de custo mais baixo que imitam a textura de argila e mantêm o estilo local.

Praça histórica
O charme da cidade também está em seu tamanho: tem apenas 63 mil habitantes, o que a torna uma capital bastante tranquila. O ponto de partida é a histórica Plaza, praça cercada por lojas e prédios históricos e que existe desde que Santa Fé foi fundada, em 1610, pelo espanhol dom Pedro de Peralta.
Sob o pórtico do histórico palácio dos Governadores, prédio do século 17 que hoje é um museu, índios vendem seu artesanato. Não se engane: eles têm muito orgulho do seu trabalho, no qual assinam seu nome, ou pelo menos o nome da comunidade a que pertencem, e cobram caro.
Uma bela boneca "storyteller" (que tem a boca arredondada e é coberta de criancinhas), por exemplo, custa cerca de US$ 250.
Nas lojas, artigos como tapetes dos índios navajos atingem facilmente quatro dígitos, pois sua confecção dura meses. A diferença de uma peça barata para uma cara é sentida no toque da mão.
Perto da Plaza, há igrejas erguidas por missionários espanhóis, como a catedral St. Francis, em estilo romanesco, e a capela Loretto, de 1878, cenário de casamentos.
Não deixe de dar uma volta pela cidade e seus arredores ao pôr-do-sol, que é, sem sombra de dúvida, a melhor hora para entender a fama da luz do Novo México e a beleza do adobe em Santa Fé.


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