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mudança de ares
Para não atrasar, viajante opta por ônibus
VIAGEM SOBRE RODAS Antipáticos à idéia de esperarem no aeroporto, passageiros elogiam pontualidade dos ônibus
THIAGO MOMM
DA REPORTAGEM LOCAL
O transtorno no espaço aéreo
está se revertendo num movimento maior nas rodoviárias.
Preocupados com compromissos e antipáticos à idéia de
acamparem no aeroporto, passageiros têm preferido ônibus a
aviões em trechos como São
Paulo-Rio ou até mesmo São
Paulo-Belo Horizonte, desde
que começaram os atrasos nos
vôos, no final de outubro.
A empresa de ônibus de viagens 1001, por exemplo, diz que
o movimento da frota que faz o
trajeto Rio-SP aumentou 25%
no último mês. Parte do crescimento é explicada pela aproximação da alta temporada, mas
outra parte, pelos problemas
na aviação, afirma a 1001. Tanto
que há mais clientes do que na
mesma época no ano passado.
A viagem de ônibus para o
Rio leva cerca de seis horas. De
avião, mesmo com os atrasos,
dificilmente demanda esse
tempo -mas quase, e tem exigido mais paciência e comprometido a rotina dos que confiam na pontualidade dos vôos.
O promotor de eventos Rodrigo Fernandes conta que veio
para São Paulo de ônibus e chegou na hora certa para um ensaio; o equipamento do show,
que veio de caminhão, também; o restante da equipe, que
pegou a ponte aérea, não.
"O ensaio era às 23h e devia
acabar pouco depois da meia-noite. Às 23h eles estavam embarcando. O ensaio aconteceu,
mas foi quase até 5h", relata.
Acostumado a transitar entre Rio e São Paulo pela Dutra,
Fernandes elogia a pontualidade dos ônibus, "dá pra se programar melhor", o lanche,
"mais bem servido que o do
avião", e as poltronas, "maiores
e reclinam mais". Empolgado,
demonstrou que a sua ficava
praticamente na horizontal.
Menos apaixonada pela opção, a passageira Ângela
Schuabb, 49, que trabalha com
moda, procurava seu lugar dizendo ser "a primeira vez" que
viajava num ônibus. Mas se resignava: "Três horas no aeroporto? Ninguém agüenta."
Tanto Fernandes e Schuabb
como os outros ocupantes dos
seis lugares leitos de um ônibus
de dois andares eram cariocas.
Uma espécie de grupo antiponte aérea, que poderia estar no
avião mas preferia estar ali. Por
causa dos transtornos, a aposentada Beatriz Silva, 55, nem
procurou informações sobre os
preços dos vôos dessa vez.
"On the road"
Compromissos matutinos,
principalmente, incentivam
passageiros a trocar os ares pela estrada. A estudante de economia Ana Azevedo, 24, que
tem vindo com freqüência do
Rio para São Paulo para provas
de treinamento, já optou algumas vezes pelo ônibus. Já preferiu até chegar um dia antes e
pagar um hotel paulistano a ficar no aeroporto Santos Dummont lendo a sorte nas plaquinhas com a partida dos vôos.
Um compromisso às 7h foi o
que motivou o técnico de audiovisual Reginaldo Farias, 30,
a ir para o Rio de ônibus na tarde anterior. "Tenho receio de
pegar a ponte aérea de manhã e
não chegar a tempo", disse.
Nem mesmo distâncias
maiores têm evitado a opção
"on the road". O artista plástico
Cléber Barreto, 32, que transita
mensalmente entre Belo Horizonte e São Paulo, voltaria para
casa de ônibus, uma viagem de
oito horas. Não estava com
pressa. "Sou amigo de uma pessoa que trabalha em agência de
viagens e nem falei com ela [sobre promoções aéreas]."
Barreto foi influenciado por
uma amiga obrigada a contemplar o aeroporto de Belo Horizonte muito mais do que queria
-atrasada, ela quase perdeu
uma premiação em São Paulo.
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