São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 2006

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mudança de ares

Para não atrasar, viajante opta por ônibus

VIAGEM SOBRE RODAS Antipáticos à idéia de esperarem no aeroporto, passageiros elogiam pontualidade dos ônibus

THIAGO MOMM
DA REPORTAGEM LOCAL

O transtorno no espaço aéreo está se revertendo num movimento maior nas rodoviárias. Preocupados com compromissos e antipáticos à idéia de acamparem no aeroporto, passageiros têm preferido ônibus a aviões em trechos como São Paulo-Rio ou até mesmo São Paulo-Belo Horizonte, desde que começaram os atrasos nos vôos, no final de outubro.
A empresa de ônibus de viagens 1001, por exemplo, diz que o movimento da frota que faz o trajeto Rio-SP aumentou 25% no último mês. Parte do crescimento é explicada pela aproximação da alta temporada, mas outra parte, pelos problemas na aviação, afirma a 1001. Tanto que há mais clientes do que na mesma época no ano passado.
A viagem de ônibus para o Rio leva cerca de seis horas. De avião, mesmo com os atrasos, dificilmente demanda esse tempo -mas quase, e tem exigido mais paciência e comprometido a rotina dos que confiam na pontualidade dos vôos.
O promotor de eventos Rodrigo Fernandes conta que veio para São Paulo de ônibus e chegou na hora certa para um ensaio; o equipamento do show, que veio de caminhão, também; o restante da equipe, que pegou a ponte aérea, não.
"O ensaio era às 23h e devia acabar pouco depois da meia-noite. Às 23h eles estavam embarcando. O ensaio aconteceu, mas foi quase até 5h", relata.
Acostumado a transitar entre Rio e São Paulo pela Dutra, Fernandes elogia a pontualidade dos ônibus, "dá pra se programar melhor", o lanche, "mais bem servido que o do avião", e as poltronas, "maiores e reclinam mais". Empolgado, demonstrou que a sua ficava praticamente na horizontal.
Menos apaixonada pela opção, a passageira Ângela Schuabb, 49, que trabalha com moda, procurava seu lugar dizendo ser "a primeira vez" que viajava num ônibus. Mas se resignava: "Três horas no aeroporto? Ninguém agüenta."
Tanto Fernandes e Schuabb como os outros ocupantes dos seis lugares leitos de um ônibus de dois andares eram cariocas. Uma espécie de grupo antiponte aérea, que poderia estar no avião mas preferia estar ali. Por causa dos transtornos, a aposentada Beatriz Silva, 55, nem procurou informações sobre os preços dos vôos dessa vez.

"On the road"
Compromissos matutinos, principalmente, incentivam passageiros a trocar os ares pela estrada. A estudante de economia Ana Azevedo, 24, que tem vindo com freqüência do Rio para São Paulo para provas de treinamento, já optou algumas vezes pelo ônibus. Já preferiu até chegar um dia antes e pagar um hotel paulistano a ficar no aeroporto Santos Dummont lendo a sorte nas plaquinhas com a partida dos vôos.
Um compromisso às 7h foi o que motivou o técnico de audiovisual Reginaldo Farias, 30, a ir para o Rio de ônibus na tarde anterior. "Tenho receio de pegar a ponte aérea de manhã e não chegar a tempo", disse.
Nem mesmo distâncias maiores têm evitado a opção "on the road". O artista plástico Cléber Barreto, 32, que transita mensalmente entre Belo Horizonte e São Paulo, voltaria para casa de ônibus, uma viagem de oito horas. Não estava com pressa. "Sou amigo de uma pessoa que trabalha em agência de viagens e nem falei com ela [sobre promoções aéreas]."
Barreto foi influenciado por uma amiga obrigada a contemplar o aeroporto de Belo Horizonte muito mais do que queria -atrasada, ela quase perdeu uma premiação em São Paulo.


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