São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2000

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VÍDEO
Johnny Depp protagoniza suspense do diretor de "O Bebê de Rosemary"
Roman Polanski de mau gosto

TIAGO MATA MACHADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

"PESSOALMENTE, não acredito nas sociedades secretas. O que me interessa é proporcionar aparências que possam levar a crer nelas", dizia Roman Polanski, a propósito de "O Bebê de Rosemary", pouco antes de sua mulher, Sharon Tate, ser assassinada grávida pela seita satânica de Charles Manson. Era o início do revival demoníaco dos anos 70. Trinta anos depois, após visitar outros temas e os mais variados gêneros sem, no entanto, deixar de cultivar, na verve macabra de seu estilo, uma certa aura de mistério ao seu redor, Polanski volta a brincar com fogo. Mais do que uma revisão autoral, no entanto, "O Último Portal" é a prova definitiva de que a opção pelo cinema comercial, como já indicava a trajetória de sua filmografia recente, guia Polanski. Definitiva porque o diretor retoma aqui um tema que deveria ser muito delicado para realizar uma barafunda comercial típica das mais malfadadas grandes co-produções internacionais. Tudo bem que ele queira fazer dinheiro com sua fama de demoníaco, com a fama de gótico de Johnny Depp e com revival apocalíptico do fim de século, mas colocar sua atual esposa, Emmanuelle Seigner, no papel de mensageira do diabo já é brincar em demasia com o passado. Até seria possível perdoar, mais uma vez, Polanski se "O Último Portal" se afigurasse um bom filme comercial, mas, como prova a personagem despropositada de Seigner, o mau gosto e a impostura reinam por aqui. Trata-se da história de um finório "detetive de livros", Dean Corso (Depp), encarregado por um faustiano colecionador de obras demoníacas de encontrar na Europa as duas outras cópias existentes de "Os Nove Portais do Reino do Inferno". O livro, cujo autor fora queimado pela Inquisição por ter, supostamente, escrito sua obra em colaboração com Lúcifer, conteria, em suas gravuras, a solução de um enigma satânico. Nesse tenebroso périplo, Polanski esgota seus bons e velhos recursos narrativos, arrastando Depp até o inferno.


O ÚLTIMO PORTAL
Warner
  (The Ninth Gate). EUA, 2000. Direção: Roman Polanski. Com Johnny Depp. 134 min. Suspense.




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