São Paulo, domingo, 02 de junho de 2002

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"Virei símbolo do operariado", diz Dumont

FREE LANCE PARA A FOLHA

Ator há 27 anos, com 35 filmes, 12 novelas e três peças na bagagem, José Dumont, 51, falou ao TV Folha. (FD)

Há quanto tempo você está fora da TV?
As últimas coisas que fiz foram "Terra Nostra" [1999] e um "Brava Gente". O Jayme Monjardim me convidou pra fazer o Edvaldo (personagem de Roberto Bomfim) em "O Clone", mas eu já estava comprometido com um filme rodado na Bahia. Foi uma pena, perdi uma boa novela. Antes disso, fiquei muito tempo sem fazer Globo. Eles não queriam saber de mim; meus contratos lá sempre foram temporários. Fui trabalhar na Manchete e, no final, nem me pagaram.
É possível ser ator no Brasil sem a TV?
No Brasil, um ator que estiver fora da Globo está tecnicamente desempregado. Mesmo que faça teatro, precisa da Globo para ter público. O cinema tem um nível pequeno de produção. O que pega é o pão de cada dia, porque sem pão não se vive; por isso faço o que aparece, não posso me dar ao luxo de escolher.
A origem nordestina dificulta o trabalho de um ator na TV?
Se o nordestino não for bonito, a dificuldade é maior. Meu tipo é popular, mas, se houvesse mais mercado, esta dificuldade não existiria. A beleza faz parte da história da dramaturgia. Hoje, a televisão é o mercado cultural do país. E ela repete modelos de outros países, já que só veicula filmes estrangeiros. O Brasil é uma franquia econômica e cultural.
Já foi mais fácil?
Sim, quando comecei. Havia muitos movimentos culturais e a cara do povo estava no cinema. Eu pensava que ia comer muita gente e ganhar muito dinheiro, mas a ditadura eliminou a cultura e elegeu a TV. Virei símbolo do operariado. Alguns diretores conseguiram continuar, e, em 84, fiz "A Hora da Estrela", meu último papel de porte. Devolvi à minha raça aspectos de si mesma e fiquei marcado por esses tipos.
A estética é saxônica...
Imagine: ouvi que a população não me aceitaria num papel romântico... é de lascar, não é não? Atualmente, pra ficar famoso, basta comer barata. Hoje, a inteligência está no baixo cóccix. Você pode fazer um trabalho de qualidade que ninguém vê, porque, com a massificação e o perfil do consumo voltado para o jovem, é natural que o mais velho ou quem não é bonito perca espaço.
O que você pensa sobre o "nordestinês" tão comum nas novelas?
O sotaque não tem tanta importância; a criatividade sim, que é a base da arte.



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