São Paulo, domingo, 02 de julho de 2000


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NOVELA COTIDIANA
MTV estréia nesta quarta-feira a série "20 e Poucos Anos" protagonizada por jovens que mostram no ar sua rotina e suas intimidades
"Vida real" é transmitida em horário nobre

Patrícia Santos/Folha Imagem
Elenco de "20 e Poucos Anos", a nova série produzida pela MTV


BRUNO GARCEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

EMOÇÕES genuínas, discussões acaloradas, conflitos, paixões e amizades estarão na programação da MTV a partir desta quarta-feira, às 23h. Não se trata da estréia de um novo clipe de Enrique Iglesias, mas do programa "20 e Poucos Anos", protagonizado não por uma trupe de atores, mas por oito jovens comuns de origens variadas e de hábitos e costumes distintos.
Há desde o feirante Lúcio Potamatti, 21, até a bem-nascida produtora de eventos Tatiana Saccomanno, 25. No mesmo programa, convivem ainda a evangélica Roberta Corsso, 19, e Cláudia Ferraz, 24, vendedora de uma loja que vende roupas de cânhamo, narguilés e outros produtos ligados à maconha.
A atração semanal mistura uma idéia original dos psiquiatras Haná Vaisman e Jairo Bouer, apresentador do "Erótica", da mesma emissora, com um projeto concebido pela própria MTV.
"20 e Poucos Anos" tem semelhanças com o "Na Real", produzido pela MTV dos EUA, mas, diferentemente do programa estrangeiro, não obriga os jovens a compartilharem o mesmo teto. Eles só se juntavam aos domingos, em uma casa no bairro do Sumaré, em São Paulo, onde faziam uma informal dinâmica de grupo, e quando se encontravam por livre e espontânea vontade.
Reclamações com a vizinhança levaram os próximos episódios para outras redondezas. Na segunda e na terceira temporada, os encontros acontecem no Copan, edifício no centro de São Paulo.
"Acaba que o programa é mais real do que o "Na Real", já que os garotos vivem uma situação que não é induzida, é mais natural. Nisso ele difere também do "Survivor", que a Globo pretende fazer", diz Zico Goes, diretor de programação e de produção da MTV, em referência ao "game show" que faz sucesso da TV dos EUA e deve ganhar uma adaptação no Brasil (leia texto ao lado).
A produção de "20 e Poucos Anos" acompanhou o cotidiano dos oito jovens por pouco mais de um mês. Isso constitui a primeira fase do programa, cuja exibição vai até agosto. Na etapa seguinte, em produção, mas que só passará em setembro, entra outro grupo de oito jovens em nova série de oito episódios. A terceira parte do programa vai ao ar em novembro e dura até o final de dezembro.
O passo inicial na concepção do programa foi traçar vários perfis. Depois, com o auxílio de uma dupla de pesquisadores, achar jovens que neles se encaixassem. "Tivemos de abrir mão de alguns personagens que buscávamos. Queríamos um jovem soropositivo, mas não achamos nenhum que aceitasse aparecer na TV. Tentamos alguma gestante que fosse dar à luz durante a exibição da primeira fase. Mas nenhuma topou participar", afirma Haná Vaisman.
Se não encontraram tipos tão específicos, a equipe acabou se deparando com uma gama variada de personalidades, algumas até conflitantes, mas que aos poucos venceram suas próprias restrições.
"Tinha medo de ser mal recebida, de encontrar gente preconceituosa. Mas tudo correu superbem. No princípio, achei que a Tatiana fosse uma "patricinha" enjoada. Hoje, somos superamigas", afirma Janaína dos Santos, 19, que é negra, mora na periferia de Diadema, na Grande SP, e é dançarina de soul music, com o nome artístico de Nina Brown.
As diferenças se estendem até às preferências sexuais, com uma revelação que só se dará nos próximos episódios. Há também embates mais prosaicos. Tatiana Saccomanno, por exemplo, critica o lutador de jiu-jítsu Fernando Pontes, 20, vulgo Margarida, por submeter seu pit bull a supostos maus-tratos.
Os extremos chegam até às atividades profissionais. Enquanto Rodrigo Rocha, 24, até recentemente era assistente técnico de uma clínica de bronzeamento artificial, Rogério Munhoz faz dupla jornada como professor de filosofia em uma escola estadual da zona leste de São Paulo e como iluminador da casa noturna gay Mad Queen.
O discurso comum aos jovens é que o programa não modificou suas rotinas, mas, em pelo menos um caso, não é bem assim. O lutador Fernando Pontes, que já contava com um assessor de imprensa para suas atividades esportivas, agora também pensa em ampliar suas atividades. "Já trabalhei em muitas agências de modelo, e o Fernando é um rapaz de boa aparência. Com o programa, posso trabalhar a imagem dele não a restringindo só ao esporte", afirma Marcos Demetrius, seu assessor.
Segundo Jairo Bouer, a diferença social foi a tônica da primeira fase do programa. "Na segunda etapa, o conflito racial e a violência assumem um papel importante. Alguns dos próximos personagens carregam experiências traumáticas. Outra particularidade é a inclusão de dois migrantes, um deles um nordestino residente em São Paulo."
O sucesso do programa se deverá, acima de tudo, no entender de Bouer, aos jovens que o protagonizam. "Você até tem uma previsão de que rolará uma química, mas não tem certeza. Tudo depende dos personagens", afirma.
De acordo com o diretor Zico Goes, se a fórmula de "20 e Poucos Anos" funcionar, a MTV pode criar mais programas enfocando a vida real, entre elas uma versão do "Mochilão" protagonizada por viajantes de verdade e não por apresentadores da emissora.



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