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NOVELA COTIDIANA
MTV estréia nesta quarta-feira a série "20 e Poucos Anos" protagonizada por jovens que mostram no ar sua rotina e suas intimidades
"Vida real" é transmitida em horário nobre
Patrícia Santos/Folha Imagem
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Elenco de "20 e Poucos Anos", a nova série produzida pela MTV |
BRUNO GARCEZ
DA REPORTAGEM LOCAL
EMOÇÕES genuínas, discussões
acaloradas, conflitos, paixões e amizades estarão na programação da MTV a
partir desta quarta-feira, às 23h. Não se
trata da estréia de um novo clipe de Enrique Iglesias, mas do programa "20 e Poucos Anos", protagonizado não por uma
trupe de atores, mas por oito jovens comuns de origens variadas e de hábitos e
costumes distintos.
Há desde o feirante Lúcio Potamatti,
21, até a bem-nascida produtora de eventos Tatiana Saccomanno, 25. No mesmo
programa, convivem ainda a evangélica
Roberta Corsso, 19, e Cláudia Ferraz, 24,
vendedora de uma loja que vende roupas
de cânhamo, narguilés e outros produtos
ligados à maconha.
A atração semanal mistura uma idéia
original dos psiquiatras Haná Vaisman e
Jairo Bouer, apresentador do "Erótica",
da mesma emissora, com um projeto
concebido pela própria MTV.
"20 e Poucos Anos" tem semelhanças
com o "Na Real", produzido pela MTV
dos EUA, mas, diferentemente do programa estrangeiro, não obriga os jovens
a compartilharem o mesmo teto. Eles só
se juntavam aos domingos, em uma casa
no bairro do Sumaré, em São Paulo, onde faziam uma informal dinâmica de
grupo, e quando se encontravam por livre e espontânea vontade.
Reclamações com a vizinhança levaram os próximos episódios para outras
redondezas. Na segunda e na terceira
temporada, os encontros acontecem no
Copan, edifício no centro de São Paulo.
"Acaba que o programa é mais real do
que o "Na Real", já que os garotos vivem
uma situação que não é induzida, é mais
natural. Nisso ele difere também do "Survivor", que a Globo pretende fazer", diz
Zico Goes, diretor de programação e de
produção da MTV, em referência ao "game show" que faz sucesso da TV dos
EUA e deve ganhar uma adaptação no
Brasil (leia texto ao lado).
A produção de "20 e Poucos Anos"
acompanhou o cotidiano dos oito jovens
por pouco mais de um mês. Isso constitui a primeira fase do programa, cuja exibição vai até agosto. Na etapa seguinte,
em produção, mas que só passará em setembro, entra outro grupo de oito jovens
em nova série de oito episódios. A terceira parte do programa vai ao ar em novembro e dura até o final de dezembro.
O passo inicial na concepção do programa foi traçar vários perfis. Depois,
com o auxílio de uma dupla de pesquisadores, achar jovens que neles se encaixassem. "Tivemos de abrir mão de alguns personagens que buscávamos.
Queríamos um jovem soropositivo, mas
não achamos nenhum que aceitasse aparecer na TV. Tentamos alguma gestante
que fosse dar à luz durante a exibição da
primeira fase. Mas nenhuma topou participar", afirma Haná Vaisman.
Se não encontraram tipos tão específicos, a equipe acabou se deparando com
uma gama variada de personalidades, algumas até conflitantes, mas que aos poucos venceram suas próprias restrições.
"Tinha medo de ser mal recebida, de
encontrar gente preconceituosa. Mas tudo correu superbem. No princípio, achei
que a Tatiana fosse uma "patricinha" enjoada. Hoje, somos superamigas", afirma Janaína dos Santos, 19, que é negra,
mora na periferia de Diadema, na Grande SP, e é dançarina de soul music, com o
nome artístico de Nina Brown.
As diferenças se estendem até às preferências sexuais, com uma revelação que
só se dará nos próximos episódios. Há
também embates mais prosaicos. Tatiana Saccomanno, por exemplo, critica o
lutador de jiu-jítsu Fernando Pontes, 20,
vulgo Margarida, por submeter seu pit
bull a supostos maus-tratos.
Os extremos chegam até às atividades
profissionais. Enquanto Rodrigo Rocha,
24, até recentemente era assistente técnico de uma clínica de bronzeamento artificial, Rogério Munhoz faz dupla jornada como professor de filosofia em uma
escola estadual da zona leste de São Paulo e como iluminador da casa noturna
gay Mad Queen.
O discurso comum aos jovens é que o
programa não modificou suas rotinas,
mas, em pelo menos um caso, não é bem
assim. O lutador Fernando Pontes, que
já contava com um assessor de imprensa
para suas atividades esportivas, agora
também pensa em ampliar suas atividades. "Já trabalhei em muitas agências de
modelo, e o Fernando é um rapaz de boa
aparência. Com o programa, posso trabalhar a imagem dele não a restringindo
só ao esporte", afirma Marcos Demetrius, seu assessor.
Segundo Jairo Bouer, a diferença social
foi a tônica da primeira fase do programa. "Na segunda etapa, o conflito racial
e a violência assumem um papel importante. Alguns dos próximos personagens carregam experiências traumáticas. Outra particularidade é a inclusão
de dois migrantes, um deles um nordestino residente em São Paulo."
O sucesso do programa se deverá, acima de tudo, no entender de Bouer, aos
jovens que o protagonizam. "Você até
tem uma previsão de que rolará uma
química, mas não tem certeza. Tudo depende dos personagens", afirma.
De acordo com o diretor Zico Goes, se
a fórmula de "20 e Poucos Anos" funcionar, a MTV pode criar mais programas
enfocando a vida real, entre elas uma
versão do "Mochilão" protagonizada
por viajantes de verdade e não por apresentadores da emissora.
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