São Paulo, domingo, 02 de setembro de 2001

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TV COMENTÁRIO

"Anita" teve mais marketing do que qualidade

MARCELO MIGLIACCIO

Já no final da minissérie "Presença de Anita", a protagonista conta ao cinquentão Fernando (José Mayer) que a filha dele, também adolescente, está namorando um tal de Armando, xará do pedófilo que a iniciara na vida sexual aos 11 anos. A revelação, de um simbolismo óbvio, não foi valorizada pelo diretor, Ricardo Waddington, nem pelo autor, Manoel Carlos.
Essa omissão resume a produção, cujo último capítulo foi ao ar anteontem pela TV Globo: uma eficiente jogada de marketing sem o menor apuro dramatúrgico, destinada apenas a bater na tecla comum a todas as novelas da emissora: o apelo sexual.
Tudo foi "over". Da iluminação sempre "chapada", que fez as (muitas) cenas eróticas lembrarem as pornochanchadas brasileiras dos anos 70, aos diálogos, exagerados, explícitos ao extremo. As intervenções de Venâncio (Linneu Dias), o sogro ranzinza e racista de Fernando, por exemplo, eram totalmente inverossímeis.
Helena Ranaldi passou 16 capítulos com a mesma expressão triste-desiludida, Júlia Almeida fez a mesma adolescente chata de "Laços de Família" e Mel Lisboa conseguiu dizer todas as suas falas com a mesma inflexão, sem pausas ou respirações que, pelo menos, disfarçassem o texto decorado.
Em suma, "Presença de Anita" foi uma enganação disfarçada de produção densa e apurada.


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