São Paulo, domingo, 3 de maio de 1998

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As novas armas da Record

Marlene Bergamo/Folha Imagem
Os arquiinimigos Tadeu Gomes de Oliveira (Luiz Guilherme) e Gustavo Alvarenga (Fulvio Stefanini), portagonistas da novela "Estrela de Fogo"



Depois de incomodar a Globo com o "Ratinho Livre", emissora lança programação de 98 e investe 10 milhões de dólares para divulgá-la; nova novela da Record é pastiche de "O Rei do Gado"


RUI DANTAS
da Reportagem Local

A Record lança a partir de amanhã sua programação de 98, ameaçando diretamente seu principal concorrente, a Globo.
A emissora, ligada à Igreja Universal do Reino de Deus, nunca teve tanto destaque: com um investimento da ordem de US$ 100 milhões, feito pela igreja em dois anos, hoje a Record assusta.
O principal lançamento, que impulsiona os outros produtos, é a novela "Estrela de Fogo", feita pela produtora JPO, que estréia amanhã, às 20h (leia texto ao lado).
Além de "Estrela de Fogo", a emissora promove o lançamento de um programa de variedades diário, promete um pacote com alguns bons filmes, como "O Paciente Inglês", e nova safra de seriados norte-americanos, como "Arquivo X" e "Chicago Hope".
Está previsto para agosto o lançamento de um programa infantil, o "Vila Esperança", com apresentação de Gérson de Abreu.
O programa pretende ser educativo e poderá contar com a participação de crianças órfãs.
A programação reitera a idéia de que a Record tenta alcançar a Globo, usando as armas da rival. A grade da Record é quase idêntica à da Globo, calcada no trio jornal-novela-show.
A rede pretende investir pesado em publicidade para divulgar seus produtos. Segundo o diretor de programação da emissora, Eduardo Lafon, 50, o montante total é de US$ 10 milhões neste ano.
Os anúncios serão em outdoors, revistas, jornais e outras mídias.
No ano passado, a Record teve um faturamento de cerca de US$ 70 milhões -um prejuízo de cerca de US$ 50 milhões.
A previsão para 98, com o sucesso de alguns programas, especialmente o "Ratinho Livre", é chegar a US$ 130 milhões.
O projeto da emissora e da igreja, no entanto, é ainda maior. O superintendente Dermeval Gonçalves, 72, acha que a rede pode chegar à liderança de audiência em três anos.
"A Record está há oito anos conosco (igreja). Passamos os quatro primeiros anos dando explicações à Polícia Federal e ao Imposto de Renda. Nos outros quatro, chegamos onde estamos."
A emissora, diz Gonçalves, deixou de ser evangélica e se tornou comercial. "Nossa programação é voltada à família."
"Quando o bispo Edir Macedo assumiu a rede, eu perguntei a ele: "Por que você quer uma emissora de TV?'. Ele me respondeu: "Quero fazer uma rede que vai ser a primeira no país"', conclui.
O gigantismo da Record não se resume apenas aos picos no Ibope de Ratinho. Os 21 bispos que controlam a rede detêm o controle de 17 emissoras no país e mais de cem afiliadas.
O superintendente afirma ainda que a direção da emissora quer desvincular a programação da rede dos temas religiosos. Por isso, os programas evangélicos foram colocados na madrugada e na manhã.
Apesar disso, a emissora não perde o ranço bíblico. O próprio Gonçalves adota uma postura evangélica ao falar como a Record pretende captar os telespectadores de outras religiões.
"O grande trabalho do grupo é ter o maior número possível de fiéis. Como no caso da Igreja Católica, quem souber pregar melhor o evangelho vai vencer", afirma, referindo-se à briga pela audiência.
Para este ano, a Universal ainda pensa em lançar uma operadora via satélite, com recepção por miniparabólicas, e em comprar um canal em Portugal.
A programadora deve ser lançada ainda em 98. O canal europeu depende de negociações.
No mercado externo, Gonçalves confirma que a rede possui um canal de TV na África do Sul, com programação local. Impressionante, para quem amargava os últimos lugares no Ibope há dois anos.



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