São Paulo, domingo, 03 de setembro de 2000

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ESTRELAS DO VAREJO
Canal Shoptime e programas como "Medalhão Persa" e "Liquida Mix" comercializam de tapetes a carros e ajudam a tirar rostos do anonimato
Apresentadores vendem a própria imagem

Rogério Albuquerque/Folha Imagem
Os apresentadores Nina Mayer (esq.), Kadu Fabretti e Ana Paula Anzelotti, do "Liquida Mix


ERIKA SALLUM
DA REPORTAGEM LOCAL

CIRO Bottini, Kadu Fabretti, Breno Bonin. Esses nomes significam alguma coisa para você? Pode ser que não. Mas provavelmente você já viu essas pessoas antes. Elas são apresentadoras de alguns dos mais conhecidos e inusitados programas de vendas da TV brasileira.
O mais pitoresco deles é, sem dúvida, Bonin, 49. Publicitário, ator e professor de história, ele comanda há seis anos o "Medalhão Persa", em que são leiloados por telefone tapetes, quadros, cristais e relógios, entre outras mercadorias. Produzido em Curitiba, pela loja que dá nome à atração, o programa é exibido diariamente, de madrugada, pelo canal 6 da Net e pelo canal Rural. Sempre ao vivo.
Detalhe: nos finais de semana, Bonin chega a ficar cinco horas no ar, sem intervalos comerciais. "Tomo café ali mesmo, na frente da câmera. Não vou nem ao banheiro. E fico falando sem parar, improvisando, pois não há texto." Definindo-se como um "bobo da corte" e para matar o tempo e "não perder o pique", ele cria expressões enquanto vende seus tapetes -entre elas, "é pechincha, não é para chorar nem meia lágrima" ou "é fogo na caixa-d'água".
"No início, não sabia nada de tapete persa. Agora, tomei gosto pela coisa e estou planejando uma viagem ao Irã para escrever um livro sobre a cultura local", diz o apresentador.
Segundo Paulo César Calluf, sócio da loja Medalhão Persa, o programa recebe, em média, 700 ligações por noite e vende, por mês, 600 metros quadrados de tapete. "Pena que tem muito trote", lamenta.
Menos "underground", o canal Shoptime (Net/Sky) é outro celeiro de "estrelas do varejo". Criado em 95 e transmitido 24 horas por dia, o canal vende de tudo: de aparelhos de ginástica e carros a produtos eróticos. Seus apresentadores, se não gozam da mesma fama de uma Vera Fischer, pelo menos são figuras bem conhecidas pelos assinantes da operadora.
Quem não se lembra do "loirinho que vende CD"? Seu nome é Ciro Bottini, 34. Paulistano, ele foi locutor de rádios como a Transamérica durante dez anos, até ser contratado pelo canal. Hoje apresenta, entre outros, o "CD Mania" e costuma vender entre 75 mil e 85 mil discos por mês. "Lancei até um CD com músicas escolhidas por mim, que até agora vendeu 20 mil exemplares", gaba-se ele, que já foi reconhecido até em Veneza, na Itália.
Outro rosto familiar é o da carioca Viviane Romanelli, 38, encarregada, no Shoptime, de vender eletrodomésticos tão úteis quanto um "fazedor" de waffles em forma de coração. Ex-sócia de Luciano Szafir na filial santista do bar Democrata, ela é jornalista, com passagens pela Manchete e CNT. "Meu trunfo é que sou verdadeira e me empenho em fazer um prato bonito para o telespectador."
Com faturamento anual de R$ 62 milhões, o canal Shoptime recebe diariamente 10 mil ligações. Todos os seus programas são exibidos ao vivo (e reprisados algumas vezes por dia), o que dá margem a inúmeros acidentes na frente das câmeras.
Apresentador do "Personal Training", o professor de educação física e modelo Mauro Jardim, 37, cortou a cabeça recentemente, ao sentar em um aparelho de ginástica que estava à venda. Tudo ao vivo. Sua parceira de cena, Fabiana Boal (sobrinha do famoso teatrólogo Augusto Boal), não teve nem tempo de entrar em pânico: "Dei um jeito de tirar o Mauro de cena e toquei o barco sozinha".
Outro rosto que se destaca no Shoptime é o de Carlos Takeshi, 40, que comanda o "Infoshop", que vende computadores e jogos eletrônicos. "Sempre fazemos pesquisas anuais sobre nossos apresentadores, e elas mostraram que o telespectador queria que um japonês apresentasse as ofertas sobre computadores", afirma Carlito Camargo, diretor de programação e produção do canal.
Uma das "descobertas" de Camargo foi a modelo Monique Evans, que voltou a ser notícia ao se tornar apresentadora do Shoptime, onde comandou, até julho, o "De Noite na Cama", que ganhou nova substituta com sua ida para a Rede TV!: Roberta Close (leia texto ao lado).

Em SP
Com um formato bem diferente do Shoptime, o programa "Liquida Mix" é outro que acabou dando fama a rostos anônimos. No ar desde maio de 99, a atração é exibida por volta das 8h e da 1h, diariamente, na paulista TV Gazeta.
No "Liquida Mix", os apresentadores -vestidos com inconfundíveis paletós vinho- visitam lojas de São Paulo, mostrando as "últimas ofertas" de produtos tão distintos quanto carros, roupas de bebê, móveis e planos de saúde.
À frente do programa desde o início, Ana Paula Anzelotti, 26, não é novata na TV. Quando criança, foi "borboletinha" do programa de Mara Maravilha e "mallandrinha" ("não do tipo que existe hoje!") do infantil que Sérgio Mallandro comandava no SBT. "A gente começa a gravar às 9h e visita de seis a oito lojas por dia, na cidade toda. É uma loucura. A gente tem uma meia hora para saber os preços dos produtos e já começamos a trabalhar", diz ela.
O "Liquida Mix" tem ainda mais dois apresentadores: Nina Mayer, 28, e Kadu Fabretti, 27. A loira Nina já integrou o grupo Banana Split, trabalhou como assistente de palco de Gugu Liberato e Fausto Silva e chegou até a entrevistar jogadores no "Cadeira Cativa", da Rede Bandeirantes ("adorei falar com o Mirandinha").
Também veterano na TV, Kadu já foi produtor, assistente e diretor de emissoras como Record e Globo, além de locutor de rádio. "Sempre fui um apaixonado por TV. E o legal do "Liquida" é que não somos apenas apresentadores, mas "fuçadores" de lojas", afirma.
Por semana, o "Liquida Mix" mostra de 100 a 120 lojas, em programetes de um minuto e meio, em média -o anúncio custa cerca de R$ 2.000. "Temos também quadros de entretenimento, não somos só vendedores, diferentemente de outras atrações que têm por aí", diz o diretor Durval Rodrigues Paulo, referindo-se a seu concorrente "Shop Tour", exibido pelo canal CBI.
Mais antigo programa do gênero, o "Shop Tour" reivindica na Justiça ser o dono dessa fórmula de venda na TV. Alegando "razões judiciais", os diretores do programa não autorizaram entrevistas com seus apresentadores.


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