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TV NO MUNDO
Série "definitiva" sobre o jazz estréia nos EUA
Documentário em dez episódios satisfaz conservadores e é criticado por vanguardistas
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
O PROGRAMA deve ser tão importante para
o jazz quanto os festivais da Record foram
para a MPB nos anos 60, tamanha a sua qualidade
e abrangência. É a série documental "Jazz", de
Ken Burns, que estréia amanhã na PBS, a rede pública de TV norte-americana.
Tem dez horas de duração, editadas de uma
versão final de 17 horas e meia, e o mesmo número de capítulos. Começa em 1890, quando negros
americanos criam o "gumbo" em Nova Orleans,
que depois viraria o jazz, e vai até o trompete contemporâneo de Wynton Marsalis, o principal nome dos anos 90 e 2000.
Levou seis anos para ser feito, custou US$ 13 milhões (70% veio da General Motors), mostra 498
músicas e exibe 2.400 fotos. É narrado pelo próprio Marsalis e pelos atores Samuel L. Jackson,
Matthew Broderick, Delroy Lindo e Harry Connick Jr. (também músico).
Apresenta minibiografias de Charlie Parker,
Sonny Rollins, Miles Davis, John Coltrane, Lester
Young e Billie Holiday, que, como lembra o crítico Jack Newfield, conseguia bater em dois marinheiros racistas, mas não conseguiu se livrar da
heroína.
Entre outras raridades, há uma sequência inédita de Charlie Parker tocando com Coleman Hawkins em 1950, um filme experimental de Benny
Goodman em 1929 e um super-oito caseiro de
Duke Ellington e banda na estrada.
Burns, 47, que vive em Walpole, no Estado de
New Hampshire, não é novato na área. Seus dois
documentários anteriores, "The Civil War" (11
horas), de 1990, e "Baseball" (17 horas e meia), de
1994, são igualmente exaustivos no tema abordado -daí a imodéstia e economia com que batiza
as obras, como se fossem verbetes definitivos de
dicionários.
"The Civil War", sobre a Guerra Civil norte-americana (1861-1865), tem outro mérito: é até
hoje o documentário mais assistido na TV pública do país. "Sendo uma obra de
Burns, é só colocar no ar e ver os
índices subirem
além do habitual", disse John
Wilson, diretor
de programação
da emissora.
O documentarista já retratou a
vida de Mark
Twain, a construção da ponte do Brooklyn e a história do rádio, entre vários outros temas. O interesse por jazz veio do fato de ele ter sido proprietário de uma loja de discos nos anos 60 e continuar um fanático por Elvis Presley.
Se há algum fio condutor em "Jazz", além da
música em si, é a figura do trompetista e cantor
Louis Armstrong, cujo centenário de nascimento
foi comemorado no mês passado. "Ele está para a
música como Albert Einstein está para a física",
diz Burns.
O diretor se preocupou em colocar no ar uma
amostra relevante da enorme produção do autor
de "Hello Dolly". Há hoje em dia 450 CDs de
Armstrong disponíveis em lojas, 50 deles com título ou subtítulo de "best of". Nenhum, no entanto, mistura selos ou gravadoras -e ele passou
por várias ao longo da vida. Em "Jazz", são mostradas 20 das mais importantes composições dele.
Mesmo antes de ir ao ar, o documentário não é
unânime. A velha guarda está adorando, por sua
importância histórica e por achar que o programa pode atrair jovens para um gênero cujo público está envelhecendo. Já os vanguardistas acham
que Burns foi conservador ao privilegiar o período das big bands (anos 30 e 40) em detrimento
dos revolucionários anos 50, 60 e 70.
De qualquer maneira, para tirar um pedaço do
barulho merecido que a série deve causar, as rivais Sony e Verve se uniram e lançaram cinco
CDs baseados em "Jazz" e organizados pelo diretor. O pacote estreou em primeiro lugar na parada de jazz da revista "Billboard".
Ainda, uma série de 20 CDs com o
"best of" dos artistas mais populares
foi lançada na sequência. Não pára por
aí: a liga de basquete NBA vai tocar as
músicas antes e depois de cada jogo da
temporada 2001 e até o final de janeiro
sai uma coleção de DVD com os melhores "clipes", das primeiras imagens
registradas no começo do século 20
até solos do pianista Herbie Hancock.
Para concluir, a Knopf lança um luxuoso livro, generoso em fotografias
(são mais de 500, muitas inéditas), baseado em "Jazz", com o mesmo esmero empregado nos livros que acompanharam as outras duas megasséries de
Burns ("Baseball" vendeu meio milhão de cópias).
Só não há ainda uma previsão de
exibição do seriado no Brasil. Seu formato e qualidade são perfeitos para a
TV Cultura e mesmo para o bem-cuidado festival de documentários "É Tudo Verdade".
Fica a sugestão.
Na Internet: www.pbs.org/jazz/index.htm
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