São Paulo, Domingo, 07 de Março de 1999
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NOVELA
Nova novela das seis, ainda sem título, conta história de triângulo entre pai, filho e ex-prostituta
Gilberto Braga faz trama ingênua

Alexandre Campbell/Folha Imagem
O autor Gilberto Braga, em seu apartamento no Arpoador, bairro da zona sul do Rio


ANNA LEE
da Sucursal do Rio

O autor Gilberto Braga assume não ter "gostado muito" quando foi informado de que seria o responsável pela próxima novela das seis da Rede Globo -que tem estréia prevista para maio.
Afinal, desde que "Dancin" Days", em 1978, o consagrou como um dos mais competentes novelistas brasileiros, Braga não abandonou mais o horário das oito.
"Não gostei porque estou acostumado às oito, e minha sensação é que as pessoas que conheço não vêem televisão às seis porque estão trabalhando."
"Escrever novela é um esforço tão grande, fico sem vida pessoal praticamente durante um ano. Só vale a pena se sei que meus amigos estão vendo. Por mais que eu tenha audiência, sempre vou achar que, se a novela fosse às oito, teria mais audiência", disse.
"Não fiquei contentíssimo, mas me convenceram de que era importante para a TV Globo. Aceitei porque acho que devo isso à Globo. Gosto de receber meu salário no fim do mês e estou lá para trabalhar."
Tudo isso antes de começar a escrever. Agora, com 12 capítulos já concluídos, Braga disse que "curiosamente" está gostando.
"Se me propusessem passar o que já escrevi para outra pessoa e me pedissem uma novela para as oito, ficaria infeliz. Está sendo bom escrever uma novela de época para as seis", disse Braga.
Até porque, além de há algum tempo defender a volta das novelas de época nesse horário, foi ele quem, em 1975, com adaptação do romance "Helena", de Machado de Assis, lançou a primeira novela das seis na TV Globo.
Ele também fez a adaptação de "Senhora", de José de Alencar, e "Escrava Isaura", que é até hoje recordista de exportação da emissora.
A princípio, para a próxima novela das seis, Braga pensou em fazer a adaptação de um romance, mas ele e sua equipe de co-autores -Sérgio Marques, Márcia Prates, Lílian Garcia e Eliane Garcia- optaram por uma pré-sinopse do autor Alcides Nogueira, que também vai assinar a autoria da novela.

Estilo Gilberto Braga
Com essa trama de época, Braga está procurando "fazer alguma coisa diferente, que as pessoas olhem e não reconheçam imediatamente o estilo Gilberto Braga".
"Estou escrevendo novela há 25 anos. Já me repeti muito. Provavelmente dessa vez vou fazer coisas que eu já fiz, mas, pelo menos como ponto de partida, estou tentando fazer algo diferente, para não morrer de tédio."
O "estilo Gilberto Braga" esteve até mesmo na minissérie "Primo Basílio", adaptada da obra de Eça de Queirós.
"Nesse caso foi porque existe uma grande afinidade entre o meu mundo e o de Eça de Queirós. O cinismo e ceticismo estão sempre presentes em nossas obras. Tenho esperança de que com essa novela seja diferente, já que ela é muito romântica."
A ausência de ceticismo e de cinismo até podem fazer com que a próxima novela das seis da Globo, ainda sem título, não seja reconhecida como um autêntica obra de Braga. Mas, pelos atores e pelos cenários, não haverá como não dizer que é a cara de Gilberto Braga.
A novela, diz o autor, "será muito rica", assim como convém ao "estilo Gilberto Braga".
"Eu gosto de ver gente bonita, cenários bonitos e ricos. Novela tem que ser glamourosa, com personagens chiques e maravilhosos", disse Braga, sentado em seu apartamento, na praia do Arpoador, na zona sul do Rio, não menos "rico" do que os cenários que gosta de ver em suas novelas.
O elenco, diz Braga, "está bem patota": Reginaldo Faria, Cláudio Corrêa e Castro, Natália Thimberg, José Lewgoy, Carlos Eduardo Dolabella, Selton Mello, entre outros. Além, é claro, das musas "estilo Gilberto Braga": Malu Mader -que vai repetir a dupla romântica da minissérie "Labirinto" com Fábio Assunção- e Sônia Braga -que participará dos 15 primeiros capítulos.
"Não sei se o público vai ficar frustrado. O papel é completamente inesperado para a Sônia Braga. Ela ficou muito marcada com papéis que dependem de sensualidade, e esse é basicamente romântico."
Segundo o autor, "a história é muito simples, despretensiosa ao extremo". Será passada em duas fazendas de café, no Vale do Paraíba, nos anos 60 do século 19.
Reginaldo Faria tem uma relação muito complicada com sua mulher, Sônia Braga. Ele a maltrata, não se sabe por que, já que é um homem bom. O casal tem dois filhos, Fábio Assunção e Selton Mello.

Cocote
No primeiro capítulo, Assunção, o filho mais velho, briga com o pai e resolve sair de casa e ir morar na corte. Lá, se apaixona por uma cocote, Malu Mader, dona de um salão de prostituição elegante.
Os dois vivem uma grande paixão e resolvem se casar. Mas a mãe de Assunção morre, e ele tem de voltar para a fazenda.
Natália Thimberg, sua avó, faz uma intriga que acaba separando o casal.
Depois de ficar viúvo, Reginaldo Faria vai para a corte tentar se refazer do choque de ter perdido a mulher, e conhece Malu.
Ele não sabe que ela teve ligação com seu filho e acaba se apaixonando. Por sua vez, Malu não sabe direito quem é Assunção, porque ele não usava o nome do pai na corte. Faria e Malu se casam e vão morar na fazenda.
"A novela é a história desse triângulo. Como se vê, não é absolutamente original. É bastante ingênua", disse Braga.


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