São Paulo, domingo, 10 de setembro de 2000

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Evangélicos são mais dinâmicos, diz antropóloga

DA REPORTAGEM LOCAL

"A televisão tem uma influência direta na religião, tanto na sua própria linguagem como na forma como as pessoas encaram a formação religiosa." Essa é a opinião da antropóloga Regina Novaes, que faz parte do Iser (Instituto de Estudos da Religião), no Rio de Janeiro, e coordena o comitê editorial da revista "Religião e Sociedade". Leia abaixo trechos da entrevista concedida por ela à Folha.

Os programas religiosos são hoje muito presentes na televisão brasileira. Por que isso acontece?
A religião faz parte da sociedade e usa os meios presentes nela para se propagar. Vivemos em uma sociedade de informação, e é natural que a religião faça uso dos meios de comunicação de massa.

A linguagem da televisão influencia o discurso da religião?
A comunicação é uma preocupação fundamental na TV e se torna uma preocupação dos programas religiosos também, que devem se adaptar ao veículo em que estão. E, como há concorrência entre esses programas, eles buscam o aperfeiçoamento da comunicação, procurando juntar compreensão e emoção. Há também a linguagem da imagem, que deve passar credibilidade. E muitas igrejas já incorporam esse "espetáculo" no próprio templo, fazendo de seus cultos quase programas de auditório.

De que maneira a TV influi nos costumes religiosos das pessoas?
A TV atua em mão dupla. Por um lado, ela acaba substituindo os compromissos religiosos. Alguém que não pode estar presente na missa, por exemplo, assiste pela TV, e isso substitui sua presença na igreja. Por outro lado, os programas funcionam como um convite para o telespectador. Ele vai à tal igreja porque ouviu um pastor falando na TV e quer vê-lo ao vivo.

Por que há uma diferença tão grande entre a linguagem dos programas evangélicos e católicos?
A segmentação e a autonomia das denominações evangélicas favorecem o uso ágil dos meios de comunicação. O pastor de uma denominação dá satisfação do que faz na TV apenas para sua comunidade. Por isso tem mais liberdade. Os católicos são mais centralizados, hierárquicos. Para se fazer um programa deve haver um consenso das autoridades. Além disso, os evangélicos têm menos rituais, são mais dinâmicos. E isso influi diretamente no conteúdo e na linguagem dos programas. (CLÁUDIA CROITOR)




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