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PESQUISA
Maioria das pessoas muda de
canal por causa do desinteresse
pela programação da televisão
Anúncios 'seguram' o telespectador
CRISTIANA COUTO
da Reportagem Local
A maioria dos telespectadores troca mais vezes de
canal durante a programação do que nos intervalos
comerciais. Esse é uma das
conclusões da pesquisa
Mediacross, feita pelo Datafolha e pela agência J.W.
Thompson com 3.210 telespectadores paulistanos.
De acordo com a pesquisa, 53,5% dos telespectadores das classes A, B e C,
entre 10 e 55 anos, mudam
constantemente de canal.
Do total da amostra, 31,9%
mudam de canal por desinteresse pelo programa,
contra 23% que mudam de
canal durante os intervalos
comerciais.
"A pesquisa mostra que
o principal motivo de mudança de canal é a insatisfação com a programação,
maior do que o descontentamento com os comerciais", diz Cláudia Rezende, 48, vice-presidente de
planejamento e pesquisa
da J.W. Thompson.
Mas afinal, quem são os
diretores que estão por trás
dos comerciais, capazes de
fazer com que o público
comente e se lembre do
"meu primeiro sutiã" da
Valisere, dos "550 quilômetros" da Varig, ou o do
sabonete Palmolive usado
por Antonio Banderas?
A Folha conversou com
três premiados diretores
"especialistas" em comerciais: João Daniel Tikhomiroff, 47, da Jodaf, especialista na direção de
atores, Julio Xavier, 57, da
Julio Xavier Filmes, que
tem 60% de seus filmes feitos com crianças e animais,
e Rodolfo Vanni, 53, da Cia
de Cinema, o "rei do humor". Para todos eles, o
que faz um bom comercial
é uma boa idéia.
Folha - Como você vê o
resultado da pesquisa?
Julio Xavier - Acho que
a pesquisa revela que os comerciais estão empatados
com a ruindade da programação. A briga pelo Ibope
baixou o nível de tudo.
Rodolfo Vanni - A TV está
dirigida ao grande consumidor, e a programação
está mais vulgar, cheia de
sangue e violência. Talvez
por isso as pessoas troquem tanto de canal e o comercial disperse menos.
João Daniel Tikhomiroff -
É um sinal de que a propaganda é criativa, e que é
um fenômeno brasileiro as
pessoas se atraírem pelos
comerciais. Se a propaganda é atraente, elas tendem a
ficar no canal e a discutir os
comerciais na mesa de bar.
Alguns publicitários são
até mais conhecidos do
que atores de novelas.
Folha - E a produção de
comerciais hoje?
Xavier - 90% do que se
faz no Brasil e no mundo é
lixo, tanto em termos de
programa quanto de comerciais. Com o efeito
"zapping" que surgiu nos
últimos anos, foi preciso
um gancho redobrado para seduzir o espectador.
Nos EUA, isso fez com que
se aumentasse a sofisticação dos comerciais e se utilizassem astros, para competir com a grandiosidade
da programação.
Vanni - O Brasil está se
estruturando com o Plano
Real. Hoje se dá mais valor
ao dinheiro e as pessoas
são mais pão-duras. O
acesso à TV paga sofisticou
o gosto de telespectador.
Tikhomiroff - Ela é mais
contemporânea, graças à
revolução tecnológica, que
permitiu a resolução de situações na pós-produção,
ou seja, hoje usa-se a evolução da tecnologia a serviço de uma idéia.
Folha - Qual o segredo
para dirigir crianças?
Xavier - Primeiro você
tem de achar o geniozinho.
Fazemos, em média, 300
testes até achá-lo, sem que
mães estejam no estúdio, o
que leva de 3 a 4 dias, usando de 15 a 20 minutos de
filme por teste. Depois, temos de ter muita paciência. Não se pode inibir a
criança, vamos atrás de seu
instinto lúdico, brincar
com ela, fazer filmagens de
brincadeira, estimular a
competição entre elas com
bebês, temos de se achar 4
ou 5 parecidos para gravar
o mesmo comercial, pois
nunca usamos um só. No
comercial do papel higiênico Personal, por exemplo, usamos um casal de
gêmeos e seis dublês para
fazerem as cenas de costas,
de detalhes etc. Foram necessários 5 dias de filmagens, e tivemos até que parar a avenida Paulista por
duas horas.
Folha - E o segredo para
um comercial com humor?
Vanni - Primeiro é a escolha dos atores. Depois,
ele deve ter um bom começo, a imagem certa. Depois, algo memorável no
meio do filme e um bom
desfecho. O comercial deve ter um grande momento, uma sutileza, que eu
chamo de "anjo". Por
exemplo, num dos comerciais do casamento da
Prosdócimo e da Electrolux, o "anjo" é o velhinho
tremendo ao segurar a xícara. Hoje falta ironia nos
comerciais, o humor judaico desapareceu e ficou
o pastelão. O humor deve
ser sutil e agudo.
Folha - Por fim, qual a receita para dirigir atores?
Tikhomiroff - Saber pedir o que o ator quer é o
mais importante. Todo o
ator é inseguro por natureza, e o diretor tem de ser
um psicólogo, dar segurança a ele. Por exemplo, o
ator tem de saber porque o
diretor está rodando o comercial de novo e o diretor
tem de sentir se o ator vestiu o personagem. Quando
dirijo crianças, crio um clima descontraído, de brincadeira. Dirigir um ator e
operar a câmera ao mesmo
tempo, o que não é comum, faz com que eu sinta
melhor a interpretação.
Depois, o diretor tem que
saber contar uma história.
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