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NAMORO OU AMIZADE
Produção de filmes para a televisão e minisséries que devem virar longas incrementam a integração entre TV e indústria cinematográfica
Telefilme aproxima televisão do cinema
AP
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A atriz italiana Ornella Mutti, que irá atuar em "O Filho Predileto"; no alto,ao lado, o cineasta Hector Babenco, que vai dirigir "Carandiru"; abaixo, Ugo Giorgetti, que prepara o longa "O Príncipe" |
DA REPORTAGEM LOCAL
O TÃO SONHADO namoro entre a
televisão e o cinema ganha agora
um empurrão: o telefilme (filme produzido especialmente para a TV), que deve
ser o início desse romance.
O governo do Estado do Rio de Janeiro
decidiu destinar uma verba de R$ 2 milhões para a produção de um telefilme.
Por outro lado, a Globo Filmes (braço cinematográfico da TV Globo) deve começar a filmar em março seu primeiro telefilme, "O Filho Predileto", em co-produção com a Columbia e a principal rede de
televisão italiana, a RAI. A produção será
dirigida pelo cineasta Walter Lima Jr.
O filme, que será estrelado pela italiana
Ornella Mutti, tem como enredo a história de uma mulher que vem da Itália para
adotar uma criança brasileira. Anos depois, na Europa, descobre que a criança
tem leucemia. A italiana volta ao Brasil e
contrata um detetive para tentar localizar
os pais e irmãos do menino. Só um transplante de medula de um irmão compatível poderá salvar a vida de seu filho.
Se der certo, o filme da Globo, que deverá ser exibido no final deste ano, poderá deslanchar um projeto de Daniel Filho, diretor de criação da emissora, de
colocar no ar um telefilme por semana.
Essa idéia, no entanto, ainda é considerada um pouco utópica nos bastidores da
emissora. Mais realista é a intenção da
Globo de firmar um acordo com a Columbia para produzir pelo menos outros
cinco telefilmes até o final de 2002.
Além dos telefilmes, a Globo Filmes
promete deslanchar a produção de cinema neste ano. Associada a produtores independentes, a empresa deve se envolver
em produções como "Carandiru", de
Hector Babenco (R$ 10 milhões), "Redentor", de Cláudio Torres (cerca de R$ 3
milhões), "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles, e um projeto de um filme
com a dupla Sandy e Junior.
Dentro da TV Globo, acontece outro
forte movimento para a integração entre
o cinema e a televisão. Guel Arraes, que,
com o "O Auto da Compadecida" comprovou que a união pode dar certo (leia
texto ao lado), quer transformar mais
duas minisséries em longas-metragens:
"A Invenção do Brasil", projeto desenvolvido por ele, e "Luna Caliente", de Jorge Furtado. Arraes quer transformar essa
prática em rotina.
Modelo europeu
Mariza Leão, vice-presidente do Sindicato Nacional da Indústria Cinematográfica do Rio de Janeiro, acredita que, apesar dos avanços para a união entre TV e
cinema, ainda estão faltando algumas
mudanças conceituais nessa relação.
Para ela, um dos problemas é que a
fonte financeira das produções TV-cinema acaba sendo a mesma dos produtores
independentes: os incentivos fiscais. "Seria interessante que as emissoras de TV
investissem recursos próprios nas produções cinematográficas, como ocorre
em vários países da Europa", afirma a
produtora.
No caso da Globo Filmes, por exemplo,
existe geralmente uma associação com
produtores independentes, que captam
recursos com a iniciativa privada. A verba fornecida pelas empresas é, com base
nas leis de incentivo, abatida no Imposto
de Renda.
Mariza Leão diz que a experiência européia, nesse caso, poderia ser mais interessante. "Nos países europeus costuma
haver uma taxação sobre os lucros da
TV, que vai para um fundo de investimento no cinema. Essa seria uma maneira de consolidar a indústria audiovisual, porque, atualmente, essa relação
aqui no Brasil deixa a desejar", afirma.
TV Cultura
Outra tentativa de aproximação entre
a TV e o cinema acontece em São Paulo
por meio do PIC-TV (Programa de Integração Cinema-TV). O programa, que
tem quatro anos, já destinou aproximadamente R$ 30 milhões para a produção
de 48 filmes. Os filmes são exibidos no
circuito comercial e na TV Cultura.
O cineasta Ugo Giorgetti produziu,
com auxílio de recursos do PIC-TV, o
longa "Boleiros" (1998) e prepara agora
"O Príncipe", para o qual captou R$ 1,6
milhão, sendo metade desse valor oferecido pelo programa de integração.
"O programa é muito bom, mas gira
em torno do Estado. Para nós interessam também as outras TVs. Mas, no
meu caso, tudo o que tentei com emissoras comerciais deu em absolutamente
nada", afirma o diretor.
Para ele, as TVs comerciais "não conseguem estabelecer com o cinema uma
relação de igual para igual, mas do vencedor para o vencido". Giorgetti afirma
que "a TV tende a fazer um tipo de filme
parecido com sua programação, assim
como só exibe filmes que se encaixam
nesse perfil."
TV digital
O flerte da TV com o cinema também
tem outro ingrediente: a tecnologia.
Dentro de alguns anos, deve chegar ao
Brasil a TV digital. Os novos aparelhos
de TV terão tela horizontal, como a do
cinema. Além disso, haverá maior uso
da alta definição (HDTV). Esses dois fatores deverão aproximar a linguagem da
TV com a do cinema.
Mariza Leão acredita que isso poderá
colaborar com a união. "A tecnologia será importante. Outro fator que pode ajudar o cinema seria a aprovação da participação do capital estrangeiro nas emissoras, que teriam mais dinheiro para investir em produções."
DA REPORTAGEM LOCAL
O recém-criado Fundo
Estadual de Apoio ao Cinema, do Rio de Janeiro,
reservou R$ 2 milhões
-quase 20% de seu total
de recursos- para a produção de um telefilme.
Os nomes dos envolvidos na produção devem
ser definidos por concurso, previsto para março.
A coordenadora de
Ação Cultural e Turismo
do Rio, Helena Severo,
idealizadora do projeto,
diz que a TV oferece a regularidade de que o cinema precisa para consolidar-se como indústria.
Em São Paulo, uma
aproximação entre o cinema e a TV está sendo tentada há quatro anos,
quando se instituiu o PIC-TV (Programa de Integração Cinema-TV).
Até hoje, o programa
destinou aproximadamente R$ 30 milhões
-entre recursos do governo de São Paulo e de
empresas estatais- para
a produção de 48 filmes,
destinados à exibição no
circuito comercial e também na TV Cultura.
"Assim ajudamos a TV
Cultura em sua grade de
programação, e a TV Cultura ajuda os filmes nessa
mídia", diz o secretário de
Estado da Cultura, Marcos Mendonça.
A idéia de associar o cinema e a televisão, no entanto, ainda parece pouco
atrativa a muitos empresários. O PIC-TV propôs à
Fiesp uma parceria no financiamento dos filmes.
"Tentamos algo que não
foi bem-sucedido", resume Marcos Mendonça.
DA REPORTAGEM LOCAL
Originalmente produzido para TV e maior sucesso de bilheteria do cinema
nacional em 2000, com
2,82 milhões de espectadores, "O Auto da Compadecida" gerou polêmica
no Grande Prêmio Cinema Brasil, que se realizaria
ontem, em Petrópolis.
Parte da comissão de especialistas em cinema que
indicou os concorrentes
ao prêmio do Ministério
da Cultura era contra incluir na competição uma
produção feita para a TV.
Venceu o argumento de
que não se podia ignorar
um filme que teve mais de
2 milhões de espectadores. "O Auto da Compadecida" concorreu em
quatro categorias: longa,
diretor, ator e roteiro.
Guel Arraes discorda da
polêmica e da solução.
"Não entendo como "O
Auto" pode ter sua participação questionada, só
porque passou antes na
TV. Os filmes devem ser
indicados por sua qualidade, não pela bilheteria.
Se "O Auto" tivesse feito
100 mil espectadores, como a maioria dos nacionais, não concorreria? É
maluquice."
A série custou R$ 2 milhões, e sua transposição
para o cinema, R$ 400 mil.
No fim-de-semana de estréia, o longa atingiu uma
marca que não era alcançada por filmes nacionais
havia cinco anos: 158.191
espectadores. Antes, o recorde era de "Xuxa Requebra", de 1999, que teve
173.965 espectadores, mas
este estreou em 213 salas,
contra 90 de "O Auto".
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