Carol Quintanilha/Agencia Átimo

Augusto Carrascal, o Pablo, em seu flat em Londres

DANIEL CASTRO
da Reportagem Local

Dado como morto há três anos, vítima do vírus da Aids, Augusto Rodriguez Carrascal, 42, o Pablo original do programa "Qual É a Música?", pensou em contratar um advogado e apelar à Justiça quando soube que o boato voltara, há três meses.
"Nunca na vida tive uma doença. Agora é que peguei uma gripe muito forte", reagiu, indignado, em entrevista à Folha, por telefone, de Londres, onde estuda inglês.
No final dos anos 70 e início dos anos 80, Pablo foi um ícone da programação popular da TV. Ele dublava cantores (e, inicialmente, cantoras também), num dos programas de maior sucesso de Silvio Santos. Sua marca era o rosto pintado (borboletas e lágrimas eram muito comuns) com purpurina.
O boato sobre a morte do dublador espanhol -provavelmente gerado pelo seu sumiço- voltou a ganhar força em janeiro passado, quando o "Programa do Ratinho" fez um concurso para escolher um novo Pablo -o "Qual É a Música?", que ficou no ar entre abril de 1976 e agosto de 1992, deve voltar no segundo semestre deste ano.
"Poderiam ter me matado de um jeito mais glamouroso, atropelado pela Mercedes da Sharon Stone", brinca.
Afastado da TV (e do Brasil) desde 1984, Pablo conta que "mudou pouco". "Continuo fazendo shows como Pablo, pela Europa toda, mas melhores do que antes, porque agora também sou diretor e coreógrafo", revela.
E fisicamente? "Bem, perdi aquele penteado "Príncipe Valente", cortei o cabelo curtinho e engordei um pouco", diz.
Nascido na Galícia (Espanha), Pablo abandonou o curso de medicina e veio para o Brasil em 1974, aos 17 anos.
Em 1975, dublou Ney Matogrosso no "Show do Gongo" (do "Programa Silvio Santos") e foi convidado pelo apresentador a participar de um novo programa, o "Qual É a Música?". Também fora contratado como produtor do "Show de Calouros".
"Silvio Santos pediu para eu fazer uma coisa bonita, maquiada, para dublar homens e mulheres. Eu criei o personagem."
De 76 a 84, Pablo apareceu no "Qual É a Música?" revelando o mistério das notas musicais do maestro Zezinho. Em 78, ganhou uma parceira, Virgínia, que passou a dublar as mulheres. Virgínia ficou no SBT até 87. Depois casou e foi viver nos EUA.
Durante seu reinado na cabine de dublagens do "Qual É a Música?", Pablo viu passar pelo programa os campeões Ronnie Von (25 vitórias), Silvio Brito (24) e Gretchen (22).
Mas foi com Gretchen que ele mais se envolveu. Ele diz ter participado do início da carreira da precursora de Tiazinha e Carla Perez. "A Gretchen era uma das Melindrosas (grupo juvenil), e o Silvio Santos não queria colocá-la no "Qual É a Música?". Coloquei-a no "Show de Calouros", e ela estourou."
Nos anos 80, Pablo gravou dois compactos. Um deles era de "Conga Conga", sucesso com Gretchen. Ele também participou da comédia erótica "Procuro uma Cama".
Após sua saída do "Qual É a Música?", Pablo teve dois substitutos. O sucessor imediato foi Carlos Césari, que até alguns anos atrás interpretava o dublador em festas.

Nova fase
Em 1985, Pablo e sua família mudaram para Madri, onde ele tem uma casa. Desde então, o dublador tem sobrevivido graças a shows pela Europa, principalmente na França e na Suíça. Pablo também teve uma passagem pela África e chegou a abrir um ateliê de costura na Suíça. "A gente vendia roupas para espetáculos e também fazia a coreografia."
Nesta quinta-feira, Pablo inicia uma nova temporada de shows em Londres. Seus palcos, na maioria das vezes, são convenções realizadas em hotéis.
Os espetáculos duram cerca de 45 minutos e neles Pablo faz de tudo: dubla (maquiado como o Pablo, é claro) cinco ou seis músicas, dança e manipula bonecos. Ele ainda assina a direção e a coreografia de seus próprios shows e de terceiros, principalmente desfiles de modas.
Para quem está com saudades, em setembro Pablo pretende visitar o Brasil (depois de dez anos) e está disposto a aparecer na TV.


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