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TV PAGA
Documentário de João Salles traz depoimentos de policiais, traficantes de drogas e de armas
GNT ouve os vários lados do crime
ANNA LEE
da Sucursal do Rio
Personagens reais da violência urbana -policiais,
traficantes e moradores de
favelas- estão exaustos.
Essa é a conclusão a que
João Moreira Salles, Kátia
Lund e Walter Salles chegaram, depois de passar
dois anos, de agosto de
1997 a julho de 1998, produzindo o documentário
"Notícias de uma Guerra
Particular", que será exibido pelo GNT na quarta-feira, às 22h.
"Existe uma exaustão
absoluta em relação a essa
guerra inútil que acontece
entre policiais e traficantes, onde todo dia alguém
morre, e ninguém ganha
um palmo de terreno sequer", disse Salles.
Mas não é solução que o
documentário, produzido
em 16 mm e com 56 minutos, pretende apresentar.
Segundo Salles, a intenção
é causar desconforto no
espectador.
"O programa é muito
desesperançado, por opção de edição mesmo. Não
termina com uma nota otimista, oferecendo uma
saída. Não porque não
exista, mas porque, se é
oferecida uma saída no final, as pessoas vão dormir
mais tranquilas, e não é
para isso."
O caminho encontrado
para alcançar o objetivo de
"Notícias de uma Guerra
Particular" - "fazer uma
radiografia atual da violência urbana"- foi o de
colher depoimentos das
pessoas que estão envolvidas diretamente com tráfico de drogas, contrabando
de armas, corrupção da
polícia e crime organizado.
"Desde quando começamos a falar sobre o documentário, ficou claro que
não queríamos imagens de
tiroteio e invasão da polícia nos morros, porque, de
certa maneira, isso banaliza a questão", disse Moreira Salles.
"Imagens assim podem
ser vistas toda tarde em
programas como o "Cidade Alerta". O sensacionalismo trivializa o problema.
Quem quiser ver tiros e cadáveres não vai encontrar
isso no programa. É muito
mais importante o valor
do que está sendo dito."
Foram ouvidos policiais
do Batalhão de Operações
Especiais do Rio, o então
chefe da Polícia Civil do
Rio e atual deputado estadual do PT Hélio Luz, José
Carlos Gregório, o Gordo,
ex-líder da facção criminosa Comando Vermelho,
moradores e traficantes
dos morros do Alemão,
Cantagalo, Dona Marta e
Rocinha, todos no Rio.
Não porque o Rio, ressalta Moreira Salles, seja
"a única cidade violenta
do Brasil, mas porque é
uma metáfora do país,
aqui vivemos lado a lado
com a miséria, o que não
acontece, por exemplo, em
São Paulo".
Dos depoimentos, o que
mais surpreendeu Moreira
Salles foi o de Hélio Luz.
"Foi surpreendente escutar do próprio chefe da
polícia do Rio que a polícia
é corrupta e violenta."
Também foi surpreendente para o diretor o depoimento de garotos traficantes na faixa de 13 anos.
"É impressionante a total falta de consciência do
mundo horrível no qual
eles vivem. Eles contam
naturalmente que já mataram não sei quantos policiais colocando fogo nas
vítimas."
O documentário apresenta ainda uma estatística
da Polícia Federal na qual
estima-se que, no Rio, 100
mil pessoas trabalham no
tráfico -o duas vezes o
número de empregados da
Petrobrás e número igual
ao contingente de funcionários da prefeitura".
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