São Paulo, domingo, 11 de outubro de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice TV NO MUNDO Scooby é o herói sem caráter do norte
ESTHER HAMBURGER especial para a Folha Qual o mistério que mantém um desenho animado como "Scooby Doo" entre os preferidos das crianças durante décadas? O que faz com que as aventuras "low tech", de colorido pálido e traço antigo, pertencentes à família Hanna Barbera, ganhem das animações contemporâneas com suas tramas guerreiras-místicas de inspiração oriental e visual pós-moderno? Scooby não tem ano nem idade. Ele é personagem de um mundo que não se preocupa com o transcorrer do tempo. Sem registro jornalístico, o cartoon não inscreve a data de fabricação nos créditos. Aqui não há prazo de validade ou culto à tradição. Filmes e personagens duram enquanto houver tempo e espaço disponíveis para a sua exibição. E enquanto conseguirem provocar o riso de telespectadores mirins, esses sim sucessivamente renovados com o tempo. Scooby é um herói sem nenhum caráter. Enquanto seus amigos perseguem bandidos mascarados, fantasmas disfarçados, ou assombrações, o cão, sempre acompanhado de Salsicha, foge sem vergonha. Nesse desenho ninguém consegue realizar o que pretende. As investidas dos personagens sérios e corajosos nunca deram certo. Nem as fugas descaradas dos personagens menos solidários. Ao tentar se proteger, os protagonistas covardes acabam sempre ajudando a desmascarar o bandido oculto ou topando com o dito-cujo. Scooby e Salsicha de um jeito ou de outro involuntariamente capturam o agente do mal. A inconsequência dos planos de ação comandados por Fred é complementada pelas exposições verborrágicas de Velma e/ou Daphne, que revelam as intrincadas maquinações da história concluída. Scooby é quase um pastelão sobre o nada. A graça não está na consistência das tramas, pouco verossímeis e bastante repetitivas. O início e o final das histórias pouco importam. A substância de "Scooby Doo" reside na trajetória. A ação está concentrada nas perseguições-pastelão que ocupam os segmentos do meio do programa. Os diálogos são hilários. Os investigadores mirins são, por exemplo, comparados a galinhas desorientadas. Mas as imagens falam mais alto. Remanescente de uma época em que programas televisivos não obedeciam cartilhas politicamente corretas, Scooby apresenta um grupo misto, de dois meninos e duas meninas. Os três personagens caretas - Fred líder insosso, Daphne bonita e simpática e Velma, inteligente, e provocativa, mas pouco atraente - fazem o contraponto para a irresponsabilidade emotiva e bem sucedida de Scooby e Salsicha. Scooby Doo apresenta uma versão anglo-saxã, puritana e infantil da malandragem. E-mail: ehamb@uol.com.br Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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