São Paulo, domingo, 13 de setembro de 1998

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ENTREVISTA - DENISE FRAGA
Para a atriz, humor de 'Casseta & Planeta' ofusca as sutilezas do novo humorístico da Globo
'Horário derruba 'Vida ao Vivo"

CRISTINA PADIGLIONE
Colunista da Folha

Cinco anos separam "O Mambembe", último programa com Denise Fraga na Globo antes de sua ida para o SBT, e "Vida ao Vivo Show", humorístico responsável por sua volta à emissora. Para a atriz, o programa só não é um sucesso absoluto por causa do horário.
Em outubro, ela começa a filmar "O Auto da Compadecida", série em quatro capítulos, na Globo.
Casada com o cineasta Luís Villaça, com quem produziu sua mais paparicada obra, Nino, 10 meses, ela mantém endereço fixo em São Paulo, onde falou à Folha. Leia a seguir alguns trechos da entrevista:

Folha - Qual o prazo do seu contrato com a Globo?
Denise
- Vai até o ano 2000. Como eu estava vindo do SBT, teve uma campanha enorme para um contrato longo. O programa é o que eu queria fazer, uma comédia de costumes.
Folha - Você concorda com as críticas ao "Vida ao Vivo Show"?
Denise
- Acho que o programa tem um erro crasso: vir depois do "Casseta & Planeta". São dois tipos de humor: o do "Casseta" é rosa-shocking e o nosso, bege. As tintas são essas. O humor do "Casseta" é explícito. O humor do "Vida ao Vivo" é uma situação engraçada, não provoca gargalhadas.
Folha - Você, a Fernanda Torres e a Débora Bloch interferem no processo de criação?
Denise
- Muito. O programa é delicioso de fazer. Eu conto uma situação absolutamente cotidiana para o Pedro e isso pode virar uma cena. O programa é tão melhor quanto mais ele se aproxima do "Aqui Agora", não na estética "AA", mas com uma câmera no ombro, que segue seus personagens.
Folha - Houve, ou há desentendimentos entre o Luís Fernando Guimarães e o Pedro Cardoso?
Denise
- Não. Desavenças, acho que pode haver porque eles são criadores de um programa. Imagine um processo de criação. Tem uma hora que deve dar um arranca-rabo, mas é dentro de um contexto, do processo de criação.
Folha - Há alteração entre a redação final e o que vai ao ar?
Denise
- Muita. Já teve um quadro inteiro feito na hora, que não estava escrito. O "Vida ao Vivo" está sendo uma escola para mim porque tem muito improviso. O programa me deu uma clicada, que é a coisa de esperar a bola vir completamente para ver o que fazer com ela.
Folha - Quando começam as filmagens "O Auto da Compadecida"?
Denise
- Vou trabalhar como uma camela em outubro. Nós vamos filmar no sertão da Paraíba e, depois, no Projac. Eu faço a mulher que chifra seu marido, o padeiro (Diogo Vilela). Ariano Suassuna é um gênio e eu não sabia. E o roteiro, do João Falcão, da Adriana, mulher dele, e do Guel, é um dos melhores que eu já li. É enxuto, tudo encaixadinho, muito engraçado. E o Guel vai dirigir. É maravilhoso como ele faz a TV se aproximar da arte. Televisão é muito mais comércio do que arte.
Folha - Você tem alguma culpa por fazer comércio?
Denise
- Não. Só acho que não dá pra deixar de fazer teatro. E a gente não pode esquecer do público. Até no "Vida ao Vivo" a gente fala nisso: às vezes, o que a gente acha engraçado pode ser uma piada que só tem graça para nós.
Folha - Essa obrigação de divertir não faz o ator ser engraçado também fora do ar?
Denise
- Outro dia, uma moça no supermercado falou assim: "Você não combina assim, séria". Não sei como se pega uma caixa de sabão rindo. A dor do comediante é ficar marcado para a graça.
Folha - Isso incomoda?
Denise
- Essa divisão de comédia e drama está muito diluída porque a vida está ficando assim. Humor é a capacidade de abstrair. Eu chuto cadeira, às vezes, mas tenho capacidade de perceber, no meio do chute, uma graça.
Folha - O que aconteceu com o projeto que você tinha no SBT?
Denise
- Na última renovação de contrato, eu disse que não queria ficar. Aí, o Luciano (Callegari, então diretor de programação) me disse: "o que você quer fazer dentro da emissora?" Eu o Luís (Villaça) tínhamos a idéia de uma sitcom sobre o cotidiano de um casal, que era o "E Agora, Lulu?".
Folha - Você não cobrou isso da emissora?
Denise
- Pra quem? Eu não tinha mais patrão. O Luciano tinha sido afastado. Mandei dois faxes pro Silvio Santos, sem resposta. As coisas acontecem muito rápido no SBT. A emissora mudou de cara muitas vezes em muito pouco tempo. Um dia pensei: "essa emissora que está no ar não é a mesma que me contratou."



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