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ENTREVISTA - DENISE FRAGA
Para a atriz, humor de 'Casseta & Planeta' ofusca as sutilezas do
novo humorístico da Globo
'Horário derruba 'Vida ao Vivo"
CRISTINA PADIGLIONE
Colunista da Folha
Cinco anos separam "O
Mambembe", último programa com Denise Fraga
na Globo antes de sua ida
para o SBT, e "Vida ao Vivo Show", humorístico
responsável por sua volta à
emissora. Para a atriz, o
programa só não é um sucesso absoluto por causa
do horário.
Em outubro, ela começa
a filmar "O Auto da Compadecida", série em quatro capítulos, na Globo.
Casada com o cineasta
Luís Villaça, com quem
produziu sua mais paparicada obra, Nino, 10 meses,
ela mantém endereço fixo
em São Paulo, onde falou à
Folha. Leia a seguir alguns
trechos da entrevista:
Folha - Qual o prazo do
seu contrato com a Globo?
Denise - Vai até o ano
2000. Como eu estava vindo do SBT, teve uma campanha enorme para um
contrato longo. O programa é o que eu queria fazer,
uma comédia de costumes.
Folha - Você concorda
com as críticas ao "Vida ao
Vivo Show"?
Denise - Acho que o
programa tem um erro
crasso: vir depois do "Casseta & Planeta". São dois
tipos de humor: o do
"Casseta" é rosa-shocking e o nosso, bege. As
tintas são essas. O humor
do "Casseta" é explícito.
O humor do "Vida ao Vivo" é uma situação engraçada, não provoca gargalhadas.
Folha - Você, a Fernanda
Torres e a Débora Bloch interferem no processo de
criação?
Denise - Muito. O programa é delicioso de fazer.
Eu conto uma situação absolutamente cotidiana para o Pedro e isso pode virar
uma cena. O programa é
tão melhor quanto mais ele
se aproxima do "Aqui
Agora", não na estética
"AA", mas com uma câmera no ombro, que segue
seus personagens.
Folha - Houve, ou há desentendimentos entre o
Luís Fernando Guimarães e
o Pedro Cardoso?
Denise - Não. Desavenças, acho que pode haver
porque eles são criadores
de um programa. Imagine
um processo de criação.
Tem uma hora que deve
dar um arranca-rabo, mas
é dentro de um contexto,
do processo de criação.
Folha - Há alteração entre a redação final e o que
vai ao ar?
Denise - Muita. Já teve
um quadro inteiro feito na
hora, que não estava escrito. O "Vida ao Vivo" está
sendo uma escola para
mim porque tem muito
improviso. O programa
me deu uma clicada, que é
a coisa de esperar a bola vir
completamente para ver o
que fazer com ela.
Folha - Quando começam
as filmagens "O Auto da
Compadecida"?
Denise - Vou trabalhar
como uma camela em outubro. Nós vamos filmar
no sertão da Paraíba e, depois, no Projac. Eu faço a
mulher que chifra seu marido, o padeiro (Diogo Vilela). Ariano Suassuna é
um gênio e eu não sabia. E
o roteiro, do João Falcão,
da Adriana, mulher dele, e
do Guel, é um dos melhores que eu já li. É enxuto,
tudo encaixadinho, muito
engraçado. E o Guel vai dirigir. É maravilhoso como
ele faz a TV se aproximar
da arte. Televisão é muito
mais comércio do que arte.
Folha - Você tem alguma
culpa por fazer comércio?
Denise - Não. Só acho
que não dá pra deixar de
fazer teatro. E a gente não
pode esquecer do público.
Até no "Vida ao Vivo" a
gente fala nisso: às vezes, o
que a gente acha engraçado pode ser uma piada que
só tem graça para nós.
Folha - Essa obrigação de
divertir não faz o ator ser
engraçado também fora
do ar?
Denise - Outro dia,
uma moça no supermercado falou assim: "Você não
combina assim, séria".
Não sei como se pega uma
caixa de sabão rindo. A dor
do comediante é ficar marcado para a graça.
Folha - Isso incomoda?
Denise - Essa divisão de
comédia e drama está muito diluída porque a vida está ficando assim. Humor é
a capacidade de abstrair.
Eu chuto cadeira, às vezes,
mas tenho capacidade de
perceber, no meio do chute, uma graça.
Folha - O que aconteceu
com o projeto que você tinha no SBT?
Denise - Na última renovação de contrato, eu
disse que não queria ficar.
Aí, o Luciano (Callegari,
então diretor de programação) me disse: "o que
você quer fazer dentro da
emissora?" Eu o Luís (Villaça) tínhamos a idéia de
uma sitcom sobre o cotidiano de um casal, que era
o "E Agora, Lulu?".
Folha - Você não cobrou
isso da emissora?
Denise - Pra quem? Eu
não tinha mais patrão. O
Luciano tinha sido afastado. Mandei dois faxes pro
Silvio Santos, sem resposta. As coisas acontecem
muito rápido no SBT. A
emissora mudou de cara
muitas vezes em muito
pouco tempo. Um dia pensei: "essa emissora que está no ar não é a mesma que
me contratou."
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