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ENTREVISTA
Para diretor da Record, tirar programa do ar é "natural"
ANNA LEE
COLUNISTA DA FOLHA
O DIRETOR de programação da Record, Marcus Aragão, 37, prefere
hoje ser chamado apenas pelo nome,
sem o título de pastor, como uma forma
de desvincular sua função na emissora
de Edir Macedo de sua vida religiosa. No
entanto, não esconde que foi graças à
Igreja Universal que deixou as drogas.
Aragão, que foi DJ, contou à Folha como chegou à Record e os planos que tem
para a emissora.
O fato de o sr. ter assumido a direção de
programação da Record é um indício de
que o projeto de desvincular a emissora
da Igreja Universal não existe mais?
A Record tem uma meta de ser comercial e competir no mercado. Senão não
valeriam a pena todos os investimentos
que estão sendo feitos. Pretendemos disputar a liderança e não a vice-liderança.
Nos últimos três anos, só em equipamentos foram mais de US$ 50 milhões.
Qual a interferência que a igreja tem na
programação da Record? Já aconteceram
alguns episódios, como no Revéillon,
quando a programação do consórcio com
TVs estrangeiras foi derrubada para ser
exibido um culto.
Não é bem assim. Se fosse, não haveria no "Note &
Anote" um comercial de um forno de microondas em
que aparece um diabinho sendo tostado. O evento do
Revéillon estava disponível, mas, quando percebemos
que teríamos problemas de satélite, decidimos devolver
o horário da madrugada para a igreja, que paga por isso.
Mas se o bispo Macedo, da Igreja Universal, é acionista
majoritário da Record, é tirar de um bolso e pôr no outro.
Muitas empresas fazem isso.
Como o sr. chegou à direção de programação?
Passei por todas as áreas da empresa. Isso me deu uma
certa experiência. Uma pessoa de fora ia assumir, mas
tive respaldo dos diretores da casa.
O sr. sempre foi evangélico? O que o sr. fazia antes de
entrar para a igreja e para a Record?
Parte da minha família era espírita e parte católica.
Nasci em Belém. Meu pai tinha uma empresa exportadora e importadora de madeiras, ao lado de uma boate.
Ele frequentava o lugar e me levava, quando eu tinha 9
anos. Eu ficava fascinado com aquele mundo de luz, cor
e som. Pedi um som para o meu pai e comecei a gravar
músicas e vender fitas cassetes, depois comecei a tocar
em discotecas. Cheguei a trabalhar na New York City,
Hippopotamus e Papagaio, no Rio. Depois fui trabalhar
em rádio. Ainda estudei arquitetura e economia. Como
DJ, vivi na noite e não consegui me isolar do que acontece nesse ambiente. Há facilidade de beber, fumar, se
prostituir. Não dá para fugir. Então era natural que, trabalhando na noite, eu fumasse cigarro, maconha, o que
pintava.
Como o sr. entrou para a Universal?
Em 91, eu fiquei muito doente. Ninguém sabia o que
eu tinha. Disseram até que era Aids. Eu sentia que estava morrendo. Naquele momento de agonia, num programa da Igreja Universal, vi um pastor que fazia uma
oração com um copo com água. Isso me deu um pouco
mais de fôlego de vida. É por isso que defendo que a
programação da igreja não saia da madrugada, traz
apoio para pessoas aflitas. Eu me lembro da minha mãe
ajoelhada ao lado da minha cama gritando pelo nome
de Jesus. Foi quando uma enfermeira nos falou sobre
um médico da Aeronáutica especialista em doenças
pouco conhecidas. Fui me tratar com ele e me restabeleci. Tive a certeza de que tinha de procurar Jesus. Um dia
me encontrei na frente da Igreja Universal. Assisti ao culto e vi que todas as fantasias que estavam na minha cabeça
contra a igreja eram absurdas.
O que seriam essas fantasias absurdas?
Aquela idéia de que a igreja pede muito, que pastor é ladrão. Não pede nada,
está tudo escrito na Bíblia. Deus age na
vida de cada um de acordo com sua necessidade. Quando a pessoa entra na
igreja, se torna membro, mas, se quiser,
pode ser obreiro. Eu e a minha esposa
quisemos. Um dia fui convidado para
ser auxiliar de pastor. Depois de ver tantos milagres, tive a certeza de que era um
convite do próprio Deus.
Como o sr. entrou para a Record?
Em 95, houve a oportunidade da compra de uma emissora em Belém, então,
pela graça de Deus, fui o responsável por
essa transação e pela implantação do canal. Depois fui mandado ao Rio, e, de lá,
para São Paulo.
O sr. tem sido criticado pelas frequentes
mudanças que tem feito na grade da Record. Dos novos programas lançados no
começo do ano nenhum está mais no ar...
A Record tem alguns horários a serem
preenchidos. Como o sábado pela manhã e à noite e parte do domingo. Estamos procurando programas novos e vamos continuar tentando. Se um programa não tem a resposta esperada, é natural tirá-lo do ar ou reformulá-lo. Somos a terceira emissora do país. Então tenho que me mexer mais rápido do
que o SBT e a Globo. O "Rodeio Mania" e o "Ed Banana" estão sendo reformulados, o "Ação Ecológica" não
vai voltar. Estamos procurando um espaço para o "Caminhos da Pesca". Quanto ao "Miguelito", pedimos
apenas um piloto, só que os produtores fizeram alguns
episódios, mas não temos interesse. Quando esses programas foram pensados, não existia pesquisa na Record. Hoje eu sei que o nosso telespectador exige um
padrão de qualidade, mas com uma pitada de Silvio
Santos. A diferença é que querem ao vivo, olho no olho.
Somos bons nisso, e tem funcionado muito no jornalismo. Eu sei que os caras da Globo ficam loucos. Como a
programação da Record é ao vivo, dou a notícia na hora
em que acontece. A Globo tem dificuldade porque se
engessa com programas gravados.
O sr. foi convidado para conhecer o Projac?
Logo que eu assumi, o André Dias (diretor de contratos artísticos) me ligou. Depois veio aqui, e a amizade
cresceu. Agora me convidou para ir ao Rio. Na próxima
quinta acho que estarei lá. Tenho que retribuir.
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