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TV A LENHA
Telenovela veio para ficar
MARCELO MANSFIELD
especial para a Folha
Essa era a chamada de capa da revista "Intervalo",
de agosto de 1964, que trazia a foto de Tarcísio Meira
na novela "A Mãe".
Pelo meio da revista,
uma matéria curiosa:
"Ângela já sabe que é filha
de Tristão de Lemos?".
O quê? Quem quer saber?
Mas para o público de
1964, isso era muito importante. A novela era
"Renúncia" e, pasmem,
era um remake de uma novela de rádio de 1941. Na
versão televisiva, Irina
Greco interpretava Ângela.
Em 1964, "Renúncia"
era uma das nove novelas
feitas em São Paulo. Seis
outras eram do Rio. E Tarcísio já era o rei coroado
dessa loucura, depois de
comover as fãs ao dizer sim
a Lolita Rodrigues no capítulo final de "Ambição".
Poucos antes de "Renúncia" e de suas colegas
entrarem na sala dos telespectadores, o Ibope e outros institutos registraram
que a audiência aumentava
a passos largos, o que causou estranheza, uma vez
que a novela, pelo menos
no rádio, já agonizava. Começou então uma corrida
do ouro, na qual patrocinadores atiravam milhões
na comercialização da nova febre. Das 17h às 20h, a
TV começou a viver da novela. E, além das citadas,
ainda podia-se ver "Vitória", a sensual "A Gata" e
o megasucesso "A Moça
que Veio de Longe"
-com Rosamaria Murtinho e Flora Geny, que fazia
jornada dupla em "A Outra Face de Anita".
Ainda havia "Se o Mar
Contasse", com Henrique
Martins e Rildo Gonçalves,
"O Desconhecido", de
Nelson Rodrigues (um dos
primeiros esforços de se
escrever novela de TV para
a TV), "A Cidadela", "O
Segredo de Laura" e
"Tortura d'Alma", título
hoje hilário, mas que na
época fazia o público chorar antes mesmo de ligar o
televisor.
Hoje em dia, trinta e tantos anos depois, a novela
continua firme, embora dê
sinais de cansaço.
Hoje em dia, um Tarcísio
Meira numa capa não é
mais suficiente para atrair
o público. Aliás, não há
mais atores como Tarcísio
Meira. Para atrair é preciso
atacar por todos os lados.
Não é à toa que se espalhou cartazes de "Anjo
Mau" do Oiapoque ao
Chuí, nas traseiras dos ônibus, outdoors, nos botecos, bancas de jornal e etc.
A borracharia que exibia
ontem a "Playboy" com
Marisa Orth hoje está com
Glória Pires segurando um
nenê. Aliás, pela expressão
dela, bem pesadinho.
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