São Paulo, domingo, 14 de setembro de 1997.



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TV A LENHA
Telenovela veio para ficar

MARCELO MANSFIELD
especial para a Folha

Essa era a chamada de capa da revista "Intervalo", de agosto de 1964, que trazia a foto de Tarcísio Meira na novela "A Mãe".
Pelo meio da revista, uma matéria curiosa: "Ângela já sabe que é filha de Tristão de Lemos?".
O quê? Quem quer saber? Mas para o público de 1964, isso era muito importante. A novela era "Renúncia" e, pasmem, era um remake de uma novela de rádio de 1941. Na versão televisiva, Irina Greco interpretava Ângela.
Em 1964, "Renúncia" era uma das nove novelas feitas em São Paulo. Seis outras eram do Rio. E Tarcísio já era o rei coroado dessa loucura, depois de comover as fãs ao dizer sim a Lolita Rodrigues no capítulo final de "Ambição".
Poucos antes de "Renúncia" e de suas colegas entrarem na sala dos telespectadores, o Ibope e outros institutos registraram que a audiência aumentava a passos largos, o que causou estranheza, uma vez que a novela, pelo menos no rádio, já agonizava. Começou então uma corrida do ouro, na qual patrocinadores atiravam milhões na comercialização da nova febre. Das 17h às 20h, a TV começou a viver da novela. E, além das citadas, ainda podia-se ver "Vitória", a sensual "A Gata" e o megasucesso "A Moça que Veio de Longe" -com Rosamaria Murtinho e Flora Geny, que fazia jornada dupla em "A Outra Face de Anita".
Ainda havia "Se o Mar Contasse", com Henrique Martins e Rildo Gonçalves, "O Desconhecido", de Nelson Rodrigues (um dos primeiros esforços de se escrever novela de TV para a TV), "A Cidadela", "O Segredo de Laura" e "Tortura d'Alma", título hoje hilário, mas que na época fazia o público chorar antes mesmo de ligar o televisor.
Hoje em dia, trinta e tantos anos depois, a novela continua firme, embora dê sinais de cansaço.
Hoje em dia, um Tarcísio Meira numa capa não é mais suficiente para atrair o público. Aliás, não há mais atores como Tarcísio Meira. Para atrair é preciso atacar por todos os lados.
Não é à toa que se espalhou cartazes de "Anjo Mau" do Oiapoque ao Chuí, nas traseiras dos ônibus, outdoors, nos botecos, bancas de jornal e etc. A borracharia que exibia ontem a "Playboy" com Marisa Orth hoje está com Glória Pires segurando um nenê. Aliás, pela expressão dela, bem pesadinho.



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