São Paulo, Domingo, 15 de Agosto de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Nova série de desenhos animados de Matt Groening, o criador de "Os Simpsons", apresenta uma visão ácida do futuro no qual as pessoas não têm o direito de escolher a profissão, robôs alcoólatras tentam se suicidar, e a lua virou uma enorme fazenda
Futuro imperfeito

Divulgação
Canal Fox estréia a série de animação 'Futurama', do mesmo criador de 'Os Simpsons' e ambientada no ano 3000


ALEXANDRE MARON
enviado especial a Los Angeles

Depois de ridicularizar a classe média norte-americana por dez temporadas com "Os Simpsons", o criador da série, Matt Groening, 45, resolveu dar um passo à frente. Acabou saltando mil anos e criou "Futurama", série cômica de desenhos animados que estréia no canal pago Fox hoje, às 20h.
A Rede Record já comprou o programa, mas, por uma cláusula contratual imposta pela Fox, só poderá exibi-lo no próximo ano.
"Futurama" conta as aventuras de uma trupe de perdedores no final do século 30. A história começa mostrando o protagonista, o entregador de pizzas Fry, sendo congelado por acidente em 1999, depois de ter sua bicicleta roubada e ter perdido a namorada no último dia do ano.
Ele acorda mil anos depois e, em vez de ficar triste por ter perdido os parentes e amigos, comemora ter deixado tudo para trás. Agora poderá ter uma vida diferente e não precisará mais fazer aquilo que odeia: entregar pizzas.
Mas, ao passar por um exame em que sua carreira é escolhida pelo Estado, Fry é assinalado novamente como entregador pela alienígena Leela. Só então ele descobre que nesse futuro em que vive as pessoas não têm o direito de escolher suas profissões.
Revoltado, foge e conhece o robô suicida e alcoólatra Bender. Depois de algumas confusões, Leela, Bender e Fry se juntam a um descendente do entregador de pizzas e passam a pilotar uma nave. Fry acaba sendo escalado, sem reclamar, como o entregador de cargas do grupo.
"Em "Futurama" eu queria falar sobre como as pessoas não são obrigadas a seguir certas regras e devem correr riscos", disse, rindo, Groening à Folha, durante um evento promovido em Los Angeles, pela TV dos EUA para a crítica especializada.
O criador da família Simpson conta que precisou enganar os executivos da rede Fox, dos EUA, para conseguir o sinal verde para produzir "Futurama". "Para convencê-los, disse que "Futurama" era "Os Simpsons" no futuro. Pude ver os cifrões cintilando em seus olhos."
Mas Groening mentiu. ""Os Simpsons" é um trabalho difícil de superar. Eu poderia fazer uma série futurista com uma família de classe média, mas queria algo diferente. Sou fã de ficção científica e posso explorar melhor temas que não são vistos em "Simpsons", como sexualidade", revela.

Subversivo
Atitudes tidas como subversivas, são típicas de Groening, que surgiu com a provocativa história em quadrinhos "Life in Hell" (Vida no Inferno), em 1977, mostrando personagens insólitos como um coelho órfão que só tem uma orelha e está sempre deprimido. Ele publica a tira semanal até hoje em 250 jornais espalhados pelo mundo.
Outra característica sua é a obsessão pelos detalhes. Desde a forma da cabeça do robô Bender até o penteado e o estilo de roupas usado por Leela, Groening supervisionou tudo, perdendo horas para decidir cada aspecto.
"Escrevemos todo o universo da série antes de ela ir ao ar. Inventamos raças e linguagens alienígenas. O impressionante é que colocamos cartazes escritos nessas línguas num episódio, e houve quem nos escrevesse com a tradução que deduziu", conta o criador da série.
O mundo do ano 3000 de Groening é controlado por corporações, e raças alienígenas coexistem com humanos. Na Lua, há parques temáticos e fazendeiros e, na Terra, museus com cabeças de celebridades, a forma encontrada pela série para receber participações especiais de artistas famosos, prática comum em "Os Simpsons".
O resultado de tanto trabalho está no US$ 1 milhão que foi gasto em cada um dos primeiros 13 episódios que o canal Fox exibirá no Brasil semanalmente, enquanto espera que novos capítulos sejam lançados nos EUA. A equipe de Groening conta com 100 artistas que finalizam os trabalhos de animação de 300 profissionais de um estúdio na Coréia do Sul.
"Em animação, estamos sempre experimentando. Os resultados do uso dos computadores são espetaculares. Com essa tecnologia e os efeitos especiais, o visual da série ficou único", diz, orgulhoso.
A recepção a "Futurama" nos lares norte-americanos foi positiva. Desde a estréia, no dia 28 de março, sua média de audiência foi de 10 milhões de telespectadores. O líder do ranking, "Plantão Médico", atinge cerca de 25 milhões.
Outro resultado de tanta elaboração é que "Futurama" nasce com muitas histórias para contar. Groening faz segredo. "Esperem um pouco. Alguns mistérios serão revelados. Posso adiantar que Leela, ao estilo dos romances baratos, guarda um segredo surpreendente", brinca.


O jornalista Alexandre Maron viajou a convite do canal Fox

Texto Anterior: Cantor Nahim afirma deter o recorde do 'Qual É a Música'
Próximo Texto: Groening ri de piadas velhas dos 'Simpsons'
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.