São Paulo, domingo, 15 de outubro de 2000 |
Texto Anterior | Índice
VÍDEO Filme com o ator italiano, de 1974, chega em nova cópia às locadoras Gassman revive tradição libertina
TIAGO MATA MACHADO
O ORIGINAL não é nenhuma obra-prima, mas a comparação serve para encontrarmos para o remake a sua devida qualificação: "uma bobagem americana". As palavras são do personagem de
Vittorio Gassman, um cego perfeitamente libertino e irascível que foi transformado, na versão hollywoodiana de "Perfume de Mulher", num bon vivant carismático (Al Pacino), pronto para encarnar a visão americana do hedonismo.
Não é à toa que a versão americana acaba em julgamento, enquanto a italiana
encontrava seu desfecho num ato absolutamente gratuito (não era assim que
André Gide compreendia o verdadeiro
hedonismo?), que nem mesmo o ex-psiquiatra Dino Risi, co-roteirista e diretor
do filme original, explicava direito.
A refilmagem americana é recalcada,
uma revisão puritana de uma obra de
tradição libertina. O personagem original de Vittorio Gassman não é mais do
que uma versão atualizada dos antigos libertinos. Nesse sentido, a verve cômica e
quixotesca desse grandissíssimo ator revela-se perfeita para o papel do cego rico
e safado que contrata um jovem pracinha para uma viagem pela Itália, atrás do
"cheiro de mulher".
"Acha que sofro por não ver o pôr-do-sol, a cúpula da catedral? O sexo, as coxas, duas belas nádegas, eis a única religião, a única ideologia, a verdadeira pátria do homem!", ensina ao aprendiz.
O jovem é então encarregado de encontrar prostitutas morenas com ancas
largas para seu desmesurado patrão.
Prostitutas a quem paga em dobro para
que não perguntem sobre sua cegueira.
Afinal, "as putas, quando acham alguém
mais infeliz do que elas, se tornam mães e
eu já sou bastante filho da puta".
O texto tem grandes tiradas, tiradas à
italiana, que fazem jus à alcunha de
"príncipe da comédia italiana" que Risi
carrega (contanto que Monicelli seja o rei
e Totó, o bobo alegre), mas só compensam a inépcia estética de sua direção até
certo ponto. Até Nápoles, onde a viagem
degringola nas tramas e curvas da personagem de Agostina Belli.
|
|