São Paulo, domingo, 16 de junho de 2002

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PROFISSÃO PERIGO

Marcelo Rezende fala sobre a morte do companheiro de trabalho e amigo Tim Lopes e de sua estréia como âncora na Rede TV!

"Não há como controlar um repórter investigativo"

RODRIGO DIONISIO
DA REPORTAGEM LOCAL

EX-REPÓRTER da Globo e atualmente contratado da Rede TV!, Marcelo Rezende foi companheiro de profissão e amigo do jornalista Tim Lopes, morto por traficantes enquanto realizava reportagem sobre um baile funk numa favela carioca onde estariam ocorrendo tráfico, consumo de drogas e abuso sexual de menores.
"Era uma relação de mais de 30 anos. Eu chamei o Tim para trabalhar na revista "Placar". Quando comecei o "Linha Direta", também convidei-o, mas o jornalismo da Globo acabou não deixando. Ele era aquele tipo de repórter essencial para o departamento", afirma. Rezende define a morte do amigo como uma "fatalidade" causada pelo desgoverno instalado no Rio. "Quando o Estado não cumpre seu papel, alguém ocupa o espaço vago. Pode ser alguém do mal, como o tráfico, ou do bem, como as organizações não governamentais que atuam no Jardim Ângela [bairro da zona sul paulistana", por exemplo." O jornalista diz que, levando-se em conta essa situação de desgoverno, não havia como evitar o assassinato de Lopes. "Não há como controlar um repórter investigativo, não adianta o chefe dizer que não. Ninguém me mandou fazer reportagem sobre pirataria de CDs na China, investigar venda de armas, ou entrar na favela Naval. E há sempre um risco envolvido nisso, é uma questão de probabilidade."

Carreira
Está prevista para o próximo dia 24 (finalmente) a estréia de Rezende na Rede TV!, como âncora do "Jornal da TV". A princípio, ele dividiria com Jorge Kajuru o comando do "Repórter Cidadão", que estreou em maio com o ex-apresentador da Record José Luis Datena à frente.
"Graças a Deus ele ficou com o programa", afirma Rezende. "Mas não é graças a Deus no sentido pejorativo. É que isso foi bom para o Datena, que é um irmão, um amigão. Agora, teremos na Rede TV! uma ótima equipe", explica.
Com 50 anos de idade, Rezende começou sua carreira no jornalismo em 1969, no "Jornal dos Sports", do Rio. Passou pela Rádio Globo, pelo jornal "O Globo" e pela revista "Placar", sempre na cobertura esportiva.
Em 1987, foi contratado pela TV Globo e, dois anos depois, passou para o núcleo de reportagens especiais da emissora. "Trabalhava para o "Globo Repórter", "Fantástico" e "Jornal Nacional". Em 1998, iniciei o "Linha Direta", do qual eu saí em 2000 para voltar à reportagem", conta.
Rezende afirma ter deixado a Globo pela chance de, pela primeira vez, apresentar um telejornal. "Além disso, terei a possibilidade de voltar a trabalhar com alguém muito importante na minha vida profissional, o Alberico [Souza Cruz, superintendente de jornalismo da Rede TV! e também ex-Globo"."
Apesar dessa mudança de ares, definida como "um novo desafio" pelo jornalista, Rezende não pretende abandonar as reportagens investigativas. "No começo, vai ser difícil. Além de âncora serei editor-chefe do "Jornal da TV" e não terei como ir para a rua. Mas, quando as coisas engrenarem, isso será possível."
Ele diz acreditar que sua experiência como repórter influenciará na maneira de apresentar o telejornal. Afirma que não fará o papel do âncora tradicional, dando opiniões sobre os assuntos enfocados nas reportagens. "Prefiro apresentar dados complementares, oferecer mais elementos para reflexão, do que dizer se algo é bom ou ruim, se me agrada ou não", explica.
Rezende também afirma que sua chegada marca uma mudança no direcionamento dos temas do "Jornal da TV".
"Vamos denunciar as mazelas do país, que não são poucas. Mas não só isso. Pretendemos mostrar ações responsáveis pela melhora dessa situação, como as das ONGs que diminuíram os índices de violência e de mortalidade infantil no Jardim Ângela."



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