São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 2000

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NOVELA

Coadjuvantes de "Laços" também protagonizam

Segundo o autor da novela, Manoel Carlos, destaque dado ao chamado elenco de apoio não é mera estratégia para esticar a trama

CRISTIAN KLEIN
DA SUCURSAL DO RIO

A NOVELA "Laços de Família" tem sido responsável por um fenômeno raro entre os folhetins da Globo. Não só atores do primeiro time, como Vera Fischer e Marieta Severo, têm vez e voz. Vários personagens que poderiam ser insignificantes em outras novelas, como empregados domésticos e porteiros (o chamado elenco de apoio), dão palpite e ganham longas falas, ocupando destaque na trama.
É o caso da telefonista Márcia (Inez Viana) e da cliente Elisa (Alexandra Richter), ambas da clínica de Helena (Vera Fischer); da empregada Noêmia (Nany di Lima), que trabalha na casa de Alma (Marieta Severo); e da fisioterapeuta Isabel (Cíntia Benini), que cuida do deficiente Paulo (Flávio Silvino). Isso sem contar os médicos e enfermeiros de Camila (Carolina Dieckmann).
"Não tenho pontas, pontinhas, esses papéis que dizem "o jantar está servido". Tenho coadjuvantes de primeiro time. Faço questão disso. Para mim, ator é matéria-prima, não pode ser desperdiçado", diz Manoel Carlos, autor da novela.
A atriz Inez Viana, que tem 15 anos de carreira no teatro, chegou a ficar na dúvida se aceitaria ou não o papel de uma telefonista. "Sempre fui protagonista no teatro. Quando o diretor de elenco Luís Antônio Rocha me fez o convite, ele estava um tanto constrangido, disse que era um papel pequeno, mas lembrou que o Manoel Carlos costuma valorizar os personagens menores. E realmente está sendo uma coisa arrebatadora", afirma Inez.
A atriz conta que não esperava que seu papel tivesse uma repercussão a ponto de ser parada na rua, para dar autógrafos, com as pessoas lhe chamando de fofíssima. "Esse foi um bordão, um caco (fala não escrita pelo autor) que eu comecei a usar e pegou. Até que um dia, para a minha surpresa, eu recebi o texto do Manoel Carlos, e o bordão estava lá, com o aval dele. O Maneco dá corda para o ator", diz Inez. Sua personagem, Márcia, deve ganhar um namorado nos próximos capítulos.
A atriz Alexandra Richter, também vinda do teatro, começou com participações pequenas em "Laços de Família", até que sua personagem ganhou um nome, Elisa, e agora trava longas conversas com Helena (Vera Fischer). "O Maneco (Manoel Carlos) poderia botar várias clientes da Helena falando o que eu falo. Mas preferiu investir na personagem", afirma Alexandra.
O ator Luiz Baccelli, que tem 30 anos de teatro e já trabalhou com os diretores Antunes Filho, Gabriel Villela e Ulysses Cruz, afirma que pela primeira vez em sua carreira é assediado por fãs. Ele faz o doutor César, médico que cuida da leucemia de Camila.
"A repercussão está sendo muito maior do que eu esperava. O assédio é muito engraçado. Tem pessoas que me param querendo uma consulta, acham que sou médico de verdade, outras querem mais detalhes da doença da Camila. O Maneco faz um texto gostoso, que não é didático, mas os leigos entendem com facilidade os termos mais complicados. Tenho a assessoria técnica de dois médicos. É um personagem que está entrando no final da trama, mas tem o mesmo tempero dos que a iniciaram", afirma Baccelli.
A atriz Cláudia Vieira, que faz a enfermeira Teresa, disse que já sabia da importância de seu papel. "O Maneco escreve para todos os personagens. Nunca tive preocupação de que o papel fosse pequeno", diz.
Manoel Carlos nega que o destaque aos personagens do elenco de apoio seja um artifício para alongar a trama. "Quando começamos uma novela, já sabemos que vamos fazer mais de 200 capítulos. Então, temos liberdade de criação para nos prevenirmos contra o problema do esvaziamento de uma história. O que eu faço -e sempre fiz- é criar tramas paralelas muito fortes."



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