São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 2000

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ESPECIAL

Diretores aproveitam para arriscar em "Brava Gente"

Projeto coordenado por Guel Arraes vai ao ar na Globo, nos próximos dias 26, 27 e 28, e reúne adaptações de contos e peças nacionais

DA SUCURSAL DO RIO

TODO projeto de Guel Arraes tem um jeitão "cult" dentro da dramaturgia da Globo. Não podia ser diferente com "Brava Gente", série de programas especiais que será exibida pela emissora, nos próximos dias 26, 27 e 28.
Os episódios -com duração entre 25 e 30 minutos e baseados em contos e peças de autores brasileiros- foram feitos em esquema de mutirão reunindo autores, diretores de núcleo e atores interessados no projeto.
É uma iniciativa que vai na contramão de produtos de grande orçamento da emissora, como as novelas (que custam em média R$ 100 mil por capítulo) e minisséries (R$ 200 mil por capítulo). As oito histórias de "Brava Gente", segundo Arraes, custaram "cento e poucos" mil reais ao todo.
"Fizemos uma sociedade entre os diretores de núcleo. Cada um foi tocando o projeto utilizando seus próprios recursos artísticos e convocando a sua "turma" de atores, cenógrafos, iluminadores. Muita gente dobrou de trabalho", disse Arraes, durante a entrevista coletiva de lançamento de "Brava Gente", na terça-feira passada.
Arraes afirmou que o esquema de mutirão não foi utilizado para baratear a produção, e sim pela vontade de fazer um produto de qualidade, reunindo os estilos de cada diretor.
"Pela primeira vez, juntamos vários diretores. Ninguém foi obrigado a participar. Os episódios refletem a diversidade: uns foram gravados em estúdio, outros, em teatro. Eles vão da abordagem documental à reconstituição de época. O mote em comum é que todas as histórias falam sobre gente brasileira", disse.
Em nenhum momento, Guel Arraes quis assumir o "filho" sozinho. Preferiu dizer que o projeto é coletivo e sua função foi apenas a de coordenador, para que histórias e elenco não coincidissem.
Jorge Fernando, diretor do "Sai de Baixo", era um dos mais empolgados com "Brava Gente". Ele dirigiu "Um Edifício Chamado 200", peça de Paulo Pontes, adaptada por Mauro Rasi.
"Esse trabalho é uma vitória de nossas reuniões (dos diretores de núcleo). No próximo ano, vamos ter mais força. A busca pelo ibope atrapalha a criação do novo. Temos de substituir o estresse e o "nhenhenhém" pelo prazer", disse Jorge Fernando.

Risco
O diretor Maurício Farias afirmou que só em projetos como "Brava Gente", iniciado em setembro, é possível ter mais tempo para arriscar. "No ritmo corrido da TV, não dá para conseguir esse resultado", disse Farias, que dirigiu o episódio "O Santo e a Porca", uma adaptação da escritora Adriana Falcão para a peça de Ariano Suassuna.
Herval Rossano, que dirigiu o episódio "Um Capricho", adaptação de Alcides Nogueira para o conto homônimo de Arthur Azevedo, revelou inveja pela façanha de Guel Arraes. "Há anos tento conseguir na Globo o espaço que o Guel obteve com "Brava Gente", organizando uma antologia da literatura brasileira", disse Rossano.
Entre os mais de cem textos selecionados no começo do projeto, apenas oito foram adaptados.
Há ainda "O Condomínio", conto de Luis Fernando Verissimo, com Murilo Benício e Andréa Beltrão no elenco, dirigido e adaptado por Guel Arraes e Jorge Furtado; "Enquanto a Noite Não Chega", de Josué Guimarães; "Palace 2", baseado no livro "Cidade de Deus", de Paulo Lins; "Meia Encarnada Suja de Sangue", do escritor gaúcho Lourenço Cazarré, totalmente produzido no Rio Grande do Sul pela produtora independente Casa de Cinema, com direção de Jorge Furtado; e "O Casamento Enganoso", do espanhol Miguel de Cervantes, único autor estrangeiro selecionado. O conto recebeu adaptação de Walcyr Carrasco e direção de Walter Avancini.
(CRISTIAN KLEIN)


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