São Paulo, Domingo, 19 de Dezembro de 1999


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POLIVALENTE
Ricky Medeiros encabeça a lista dos livros mais vendidos e considera Silvio Santos "um carma"
Homem-forte do SBT escreve best seller espírita

ANNA LEE
Colunista da Folha

RICKY Medeiros, 48, um dos principais homens de confiança de Silvio Santos no SBT, nasceu em Scranton, na Pensilvânia (EUA), visita mensalmente uma cartomante, acredita em reencarnação e, há sete semanas, encabeça a lista dos best sellers por conta do livro esotérico "A Passagem", lançado em outubro.
Em muitas das decisões que toma no SBT, Medeiros também se orienta por seus guias, os mesmos que o ajudaram a escrever o livro, que está na 6ª edição, com 57 mil exemplares vendidos.
Ele atribui o sucesso de "A Passagem" ao "texto simples". No livro, Medeiros fala das experiências de um espírito que acolhe as pessoas que morrem. Bob, o espírito que narra o livro na primeira pessoa, diz: "Sempre me diverti com quem afirma acreditar em reencarnação. Todos são unânimes em afirmar que numa vida anterior foram reis, rainhas ou pertenciam à corte de Cleópatra. Fico a imaginar quem eram os cavalariços, os escravos, já que todo mundo pertencia à nobreza. Em nossas histórias, você encontrará espíritos como você".
Baseado nessa filosofia -de que as pessoas se interessam por seus semelhantes-, Medeiros opina na programação do SBT. "As pessoas valorizam as coisas do seu dia-a-dia. A popularização da televisão é hoje um fenômeno mundial. Não é à toa que a Globo está tentando ser mais popular. Mas tem se dado mal porque não tem o nosso know-how."
Recluso e avesso a entrevistas e fotografias, Medeiros falou com a reportagem da Folha na semana passada. Leia a seguir trechos da conversa:
O sr. se surpreendeu com o sucesso do livro?
Gosto de ir a cartomantes. Tudo que elas me falam acontece. No caso do livro, muitos videntes, desde que o escrevi, em 92, me falaram sobre minha missão de publicá-lo. Um dia fui a uma vidente que me perguntou se eu estava escrevendo um livro. Respondi que era apenas um hobby, mas ela disse: "Não, meu filho. Isso será o seu futuro. E alguém está te ajudando a escrever". Eu não perguntei quem era, mas no fundo sempre soube.
Quem era?
Não gosto de afirmar coisas piegas. Levo isso muito a sério. Quando eu conheci a Marcia Fernandes, que é médium, ela me disse que meu irmão, que morreu atropelado quando eu tinha 20 anos, estava reclamando por causa do livro. Respondi que já tinha feito a minha parte. Ela o levou à Zibia Gasparetto, que acabou sendo a minha editora. Mas tenho também outros guias.
Foi a partir do livro que o sr. se interessou pela espiritualidade?
Morei no Brasil de 64 a 69. Nessa época, descobri o "Livro dos Espíritos". Foi aí que me interessei pela vida espiritual. Não me encaixo em nenhuma religião. Todas têm sua verdade: a católica, a protestante, a budista, a umbandista.
Seus guias ajudam no trabalho?
Claro. Uma vez estava em Nova York para comprar filmes e vi na televisão uma chamada de um seriado. Liguei para o Silvio (Santos) na hora e o aconselhei a comprá-lo. Tratava-se da série "Chips", que estourou no Brasil. Com o "Esquadrão Classe A" foi a mesma coisa.
O sr. lançou programas como o "Qual É a Música", "Bozo", trouxe o seriado "Chaves" para o Brasil. Como o sr. avalia a popularização da televisão?
Esse é um fenômeno mundial. Para elevar a cultura existem as TVs públicas, mas o povo não assiste. Para mim, a televisão é uma máquina de entretenimento. Sou da ala que defende mostrar "porrada". É a sociedade que tem que dizer qual é o limite. Se assiste, é porque gosta. Para concorrer com a Globo, as outras emissoras faziam programas para a elite, porque atraíam os anunciantes. Mas a elite está migrando para a TV paga, e os anunciantes, na TV aberta, agora procuram os programas da massa. Não é à toa que a Globo tenta se popularizar. Só que não tem "feeling", por isso se dá mal. Temos por causa do dono. O Silvio ganhou a vida fazendo coisas populares.
O sr. dedica o livro a "um grande amigo e as vezes mais que amigo, Silvio Santos"...
Eu brigo com o Silvio, às vezes ele me irrita. Mas estou no SBT há 23 anos e, quando me casei, disse a ele que precisava de US$ 300 mil para comprar uma casa. No outro dia, ele me deu o dinheiro para pagar quando pudesse, sem juros. Na minha vida, Silvio é um carma. Não sei se bom ou ruim, mas é um carma forte.



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