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CRÍTICA
O Carnaval dos Acadêmicos de Brasília
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Editor interino de Opinião
O destaque deste Carnaval veio à luz apenas na
Quarta-Feira de Cinzas,
na coluna sublime publicada por Elio Gaspari
nesta Folha. Ficamos todos sabendo que um boletim supostamente informativo, batizado
"Cultura Hoje" e confeccionado pelo Ministério da Cultura com o dinheiro dos nossos impostos, definiu da seguinte maneira a atuação
do ministro Francisco
Weffort à frente de sua
pasta decorativa:
"Neste Renascimento
pelo qual passa a cultura
brasileira (...) às vezes, o
ministro da Cultura se
assemelha aos líderes da
Europa Renascentista,
lutando para estimular o
mecenato e abrindo novos espaços para as atividades culturais". Assinado pelo chefe de gabinete do ministério, Luciano Ramos (guardem
esse nome, o rapaz vai
longe), o texto logo
adiante se supera: "Mais
do que um príncipe do
século 15, que protegia as
artes, o ministro Weffort
lembra o lendário herói
britânico que, no princípio da Idade Média, reuniu as lideranças e colocou as cartas na mesa redonda, convidando a todos para se unirem em
nome da sobrevivência
dos interesses comuns".
Nunca será demais reproduzir os melhores
momentos dessa peça de
ficção e sabujice.
É preciso que o contribuinte (que é o que sobrou da extinta noção de
cidadão, maltratada por
este governo) conheça o
talento, o discernimento
e a altivez de espírito dos
responsáveis pela gestão
da cultura no país. A turma do Casseta não seria
capaz de chegar a um humor tão requintado.
Indigentes, subalternas, grotescas e delirantes, essas "análises" que
constam do "boletim informativo" produzido
na seara de sinhozinho
Weffort são um termômetro do abismo que se
abriu entre Rei Arthur e
seus áulicos e o país real,
que eles acreditam representar e, mais, governar.
É mais um exemplo do
que são capazes de apresentar na Sapucaí da insensatez os Acadêmicos
de Brasília, que neste ano
foram à farra à custa de
todos com o enredo "O
Dólar Furado no Império
da Fantasia".
Como estamos em
plena efervescência renascentista, nada mais
justo do que homenagear, como fizeram duas
escolas cariocas em seus
desfiles, figuras da estirpe de Assis Chateaubriand e Ivo Pitanguy.
Fernando Vanucci, num
de seus vários momentos
de luminosidade, disse
que Chatô construiu um
império de comunicação
e não hesitava em usá-lo
em benefício de aliados
ou em prejuízo de adversários. Partindo da Globo, o comentário passa a
integrar o vasto anedotário nacional.
A emissora de Roberto Marinho deu um jeito
de apagar Tiazinha do
Carnaval. No melhor estilo Chatô, a moça, cria
da concorrência, foi
acintosamente boicotada
pela transmissão. Ganha
quem apostar que não
demora para que Suzana
Alves seja contratada pelo Jardim Botânico.
Não foram em vão os
esforços da Bandeirantes
durante o Carnaval. Com
a dupla Luciano do Valle
e Silvia Poppovic apresentando os desfiles, a
emissora conseguiu roubar de Fernando Vanucci
um troféu que era dele há
anos: o de transmissão
mais inteligente.
Ao pessoal do grupo
TVer, que aproveitou o
Carnaval como gancho
para estudar um pouco a
imagem da mulher explorada pela TV, talvez
valha a pena acompanhar de perto o comportamento dos repórteres
que entrevistavam destaques nuas ou quase na
avenida. Foram vários os
que pediram para a entrevistada "dar uma voltinha" (eufemismo para
mostrar a bunda para a
câmera), ao que se seguiam suspiros e gemidos do repórter (eufemismo para a velha expressão "e aí, gostosa",
marca registrada do cafajeste brasileiro).
Afora o fato de divertir o povaréu, o Carnaval
serve para que se veja a
elite, ou a ralé da elite,
concentrada em camarotes patrocinados. Com as
exceções de praxe, todos
parecem ser capazes de
vender a mãe para aparecer na telinha rebolando
ou dizendo frivolidades.
Estamos todos entendidos: devem ser eles a expressão viva do renascimento da cultura brasileira.
E-mail: fbsi@uol.com.br
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