|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ENTREVISTA JOSÉ ÁLVARO MOISÉS
"Divulgar a cultura é estratégico'
RODRIGO RAINHO
FREE LANCE PARA A FOLHA
No ar desde abril do ano passado e com um
público potencial estimado em 30 milhões de
pessoas, que assinam TV paga ou têm antena
parabólica, a TV Cultura e Arte está investindo na compra de documentários, filmes clássicos e na contratação de produtoras independentes para realização de programas. O secretário do Audiovisual do Ministério da
Cultura, José Álvaro Moisés, diretor-geral do
canal, falou ao TV Folha sobre seus planos.
Quais são os principais objetivos da TV
Cultura e Arte?
Ser o canal da difusão da cultura brasileira, que é rica e tem variedade de fontes de inspiração regionais e diferentes grupos formadores e que a maior parte da população do país não conhece. O contato com essa riqueza cultural enriquece a nossa própria identidade. Não é possível
falar em cidadania em países em que pessoas têm pouca relação com a sua identidade, com a sua auto-estima. Fazer a divulgação da cultura brasileira é uma meta, um objetivo estratégico. O slogan do
canal é: "revelando o Brasil aos brasileiros", para que as pessoas percebam a sua cultura, cujas matrizes mais importantes
são a indígena, a portuguesa e a negra,
associadas a outras das imigrações.
Que público tem acesso ao canal?
O canal é transmitido aos assinantes de
TV a cabo, sem custo adicional, para os
estudantes que assistem ao TV Escola,
para telespectadores que têm antenas parabólicas e TV digital. São cerca de 30 milhões de telespectadores em potencial. A
Cultura e Arte oferece um serviço de
qualidade, e é uma maneira de entrar na
discussão da qualidade da TV brasileira.
São poucas as iniciativas que oferecem
outra possibilidade de escolha com que
as pessoas sintam-se identificadas.
Quanto mais se consolidar o canal Cultura e Arte, maior a possibilidade de influenciar a TV brasileira. É ainda uma experiência em construção, que abre a possibilidade de se ter um padrão de qualidade novo no Brasil.
Quais segmentos da cultura compõem a
programação do canal?
A TV Cultura e Arte incorpora a diversidade cultural, em termos de origens
culturais éticas e raciais, cultura erudita
e popular, linguagens como artes, patrimônio, música, teatro e também a diversidade entendida por produções independentes, organismos oficiais como o
próprio Ministério da Cultura e uma série de institutos e fundações culturais
que se beneficiam das leis de incentivo,
abordando também a cultura estrangeira. Entre as vinhetas que abrem os programas, temos: Artes, Cenários (visões
do País com a perspectiva cultural regional), Cinema (curtas, documentários e
longas, obras clássicas internacionais),
Encontros (artistas brasileiros discutem
seu conhecimento cultural), Escritores
(depoimentos de autores que revelam a
obra escrita) e Memória (trata patrimônio material e imaterial, mostrando, por
exemplo, Diamantina, em Minas Gerais,
e detalhes da culinária regional, como na
série "Mesa Brasileira").
A produção dos programas é somente
independente?
Compramos documentários nacionais e estrangeiros, filmes clássicos, séries de criação do canal, produzidas por
produtoras nacionais, contratadas em
serviço de terceirização. "Intérpretes do
Brasil", por exemplo, é baseada nas
obras de Darcy Ribeiro, com visões de
escritores sobre a cultura e a sociedade
brasileira; "Fotogramas do Mundo" traz
cineastas e artistas estrangeiros que colocam as pessoas em contato com a cultura internacional; "Teatro na TV" mostra espetáculos em cartaz no Brasil; e
"Obra Aberta" aborda obras da cultura
nacional, como a de Villa-Lobos.
Por que o canal ainda não produz?
Os produtos são terceirizados. Depois
de investir em estúdios e equipamentos
modernos, ficaríamos desatualizados,
principalmente em uma época de processo de transição para a TV digital. Não
queremos ter estúdio próprio e estrutura tecnológica. Preferimos que as produtoras independentes sejam convocadas
a criar, sempre operando pela tomada
de preços, uma variante da licitação.
Aquela produtora que melhor atende ao
objetivo e oferece preço menor é a que
acaba escolhida.
Texto Anterior: "O Clone": Sargentelli queria morrer num bar Próximo Texto: Laerte Índice
|