São Paulo, domingo, 21 de julho de 2002

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"Tive sorte e soube aproveitá-la"

FERNANDA DANNEMANN
FREE LANCE PARA A FOLHA

Geralmente, as protagonistas são atrizes de vinte e poucos anos. Mas você é uma exceção, já que durante toda a sua carreira, pegou os papéis principais...
Foi acontecendo assim, não sei exatamente o porquê. Acho que tive muita sorte e soube aproveitá-la. Tive excelentes personagens, e não posso mesmo me queixar. Mas as novelas sempre tiveram casais mais maduros e mais jovens. Quando eu era jovem, fazia a dupla romântica jovem, e, agora que estou ficando mais velha, tenho feito a dupla romântica mais velha.
Mas em "Desejos de Mulher" a protagonista é você.
Não, não. Acho que as novelas são bem divididas. Tem a Carolina Ferraz em "Por Amor", a Regiane Alves em "Desejos de Mulher"... É bem dividido.
E o que você acha de a TV vincular determinados atores a alguns estereótipos? Você nunca faz o papel de vilã.
Concordo, acho que meus papéis são sempre do bem, gosto disso. Não gosto de vilãs em novelas, porque a novela é muito longa pra você sustentar a situação tão incômoda da vilania. Fico mais confortável lidando com o bem do que com o mal ao longo de oito meses. Mas faria uma vilã num filme, num seriado. E acho que é um personagem até mais rico, como desafio, do que as heroínas.
Qual o personagem que você mais gostou de fazer?
Difícil escolher porque personagem é meio como filho, não dá pra dizer que gosta mais desse ou daquele. Tive de gostar de todos na medida em que engravidei, gestei e gerei cada um. Sinto que, como repercussão, a Porcina é imbatível, e, logo ali, na raia, corpo-a-corpo, vem a Malu. As Helenas fizeram muito sucesso, a Raquel de "Vale Tudo". "Selva de Pedra" também foi outro sucesso. Há pouco tempo, fiz uma cena em "Desejos de Mulher" em que a Selma corre atrás da Andréa com uma faca e me lembrei de "Selva de Pedra", que foi bem arquetípica, aquela coisa da luta do bem e do mal.
Você encarna a imagem do amor materno. Na vida real você é assim?
Não dá pra comparar, né? Novela é folhetim; vida é vida. É diferente. Fiz duas novelas do Maneco [Manoel Carlos] seguidas. Eu tinha gostado tanto de fazer "História de Amor", que, na minha cabeça, uma era a continuação da outra. Pedi à direção da Globo pra fazer mais uma novela do Maneco, que gosta dessa temática de mãe e filha.
Como você vê a situação da Narjara Turetta - que marcou como sua filha em "Malu Mulher"- e hoje não consegue trabalho na TV?
É uma situação difícil. É complicado mesmo. Fico muito triste em função das dificuldades que ela tem enfrentado, porque é uma excelente atriz. Não consigo entender o que aconteceu com ela.
Sua atuação no especial "São Bernardo", baseado no livro de Graciliano Ramos também foi marcante. Por que você não faz mais esse tipo de trabalho?
Ah, gostaria de fazer, sem dúvida! Gosto de trabalhos mais curtos porque eles ganham em densidade. Você tem mais subsídio pra atuar em profundidade, tem as intenções do personagem... tem a obra literária ali, pronta, só pra você mergulhar. Em novela, as coisas acabam ficando superficiais em face da urgência. Você recebe um capítulo na sexta-feira pra gravar na segunda ou terça.
Você acha que a temática de uma novela das oito é adequada para o horário do "Vale a Pena Ver de Novo"?
Acho que a censura é uma coisa muito complicada. Talvez algumas situações devessem ser amenizadas quando a novela fosse exibida à tarde, porque à tarde tem muito mais criança em torno da TV, e sem o controle dos pais, que estão trabalhando. Acho que fica mais por conta do telespectador mesmo, dos pais e responsáveis.
Você pretende declarar seu voto novamente neste ano?
Declaro, sim, como cidadã tenho todo o direito de fazer isso. E gosto.
Então declare.
Vou votar no [José] Serra.
E vai fazer campanha?
Não sei. Pelo menos até o final de agosto, está fora das minhas cogitações.


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