São Paulo, domingo, 22 de junho de 1997.



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TV A LENHA
Hooray for Hollywood

MARCELO MANSFIELD
especial para a Folha

Parecia novela. Mexicana. Estava eu lendo meu jornal enquanto, em pequenos goles, sorvia uma xícara de café pela manhã, quando uma notícia fez minha bolacha cair com a geléia pra baixo: uma emissora, cansada dos beicinhos de suas estrelas sob contrato, anuncia que vai trazer atores estrangeiros para suas novelas, caso os similares nacionais se neguem a trabalhar. Ao lado, uma foto de sua concorrente, que, mais esperta, já está até fazendo novelas no exterior.
Entra a música: atiro o jornal no chão, mas ele cai no mamão papaia que está sobre a bandeja. Uma semente do mesmo mamão corre para a coluna de TV que estava lendo, parecendo uma verruga no rosto de Flávia Monteiro; corro para o bar do outro lado da sala e coloco vodca no meu suco de laranja -e ainda nem são 9h30!
Meu robe de chambre voa ao vento enquanto saio em desabalada carreira atrás de um purgante. Um riso incontrolável toma conta do meu ser assim que percebo que enfiei minha pantufa no requeijão. A coisa é mais patética que "A Praça é Nossa" e "Sai de Baixo" juntos.
Não é nenhuma novidade atores de outras plagas tomarem o lugar dos atores brasileiros. Já falei aqui sobre a invasão portuguesa nas últimas novelas e, se puxarmos pela memória, outros já aportaram por aqui antes.
William Fournaut assobiava enquanto Jackeline Myrna rebolava. O português Tony Corrêa tomou conta de "Locomotivas" em 1977, para dar lugar a Sinde Felipe, em 1985, no remake de "Antônio Maria".
Sylvia Kristel, de "Emanuelle" pôs roupa para participar de uma novela, assim como Sydne Rome. E o que dizer de Ricky Martin, que fez mais sucesso que todo o elenco de "Salsa e Merengue" sem nem sequer aparecer na novela?
Também, aconteceu o inverso: Leny Eversong cantava em inglês, arrastando uma multidão para vê-la no "Mocambo", em Hollywood, e Maysa cantou em Nova York.
Astrud Gilberto fez até um filme por lá, assim como a bailarina Eros Volusia. Sem falar em Cauby Peixoto.
Bob Hope queria levar Oscarito para os "States", mas o comediante se negou. E Norma Bengell e Joel Barcellos filmaram na Europa. Assim como Bibi Ferreira.
Mas o que incomoda é que existem milhares de atores brasileiros de verdadeiro talento, mas que, por estarem fora da praia ou fora de forma, não podem ter a chance de participar de uma novela. Tudo porque meia dúzia de atores e atrizes sem talento, mas com contratos de cinco anos, acham que não merecem ser escalados para papéis em novelas que não sejam do horário nobre.
Coincidentemente, são esses os mesmos atores que, não importa em que lugar do país se passe a história, falam como se estivessem no Baixo Leblon.
Tenho uma sugestão: aumentem a idade dos personagens e dêem esses papéis aos atores que realmente entendem do babado. É só ver "Os Ossos do Barão" para sentir a diferença. Apesar de, nessa novela, alguém ter deixado o nome de Lia de Aguiar fora do elenco. Que absurdo!
Por hoje é só. Mas na semana que vem vamos falar mais sobre atores estrangeiros no Brasil. Minha pena venenosa mal pode esperar...



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