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TV A LENHA
Hooray for Hollywood
MARCELO MANSFIELD
especial para a Folha
Parecia novela. Mexicana. Estava eu lendo meu jornal enquanto, em pequenos goles,
sorvia uma xícara de café pela
manhã, quando uma notícia
fez minha bolacha cair com a
geléia pra baixo: uma emissora,
cansada dos beicinhos de suas
estrelas sob contrato, anuncia
que vai trazer atores estrangeiros para suas novelas, caso os
similares nacionais se neguem
a trabalhar. Ao lado, uma foto
de sua concorrente, que, mais
esperta, já está até fazendo novelas no exterior.
Entra a música: atiro o jornal
no chão, mas ele cai no mamão
papaia que está sobre a bandeja. Uma semente do mesmo
mamão corre para a coluna de
TV que estava lendo, parecendo uma verruga no rosto de
Flávia Monteiro; corro para o
bar do outro lado da sala e coloco vodca no meu suco de laranja -e ainda nem são 9h30!
Meu robe de chambre voa ao
vento enquanto saio em desabalada carreira atrás de um
purgante. Um riso incontrolável toma conta do meu ser assim que percebo que enfiei minha pantufa no requeijão. A
coisa é mais patética que "A
Praça é Nossa" e "Sai de Baixo" juntos.
Não é nenhuma novidade
atores de outras plagas tomarem o lugar dos atores brasileiros. Já falei aqui sobre a invasão
portuguesa nas últimas novelas
e, se puxarmos pela memória,
outros já aportaram por aqui
antes.
William Fournaut assobiava
enquanto Jackeline Myrna rebolava. O português Tony Corrêa tomou conta de "Locomotivas" em 1977, para dar lugar a
Sinde Felipe, em 1985, no remake de "Antônio Maria".
Sylvia Kristel, de "Emanuelle" pôs roupa para participar
de uma novela, assim como
Sydne Rome. E o que dizer de
Ricky Martin, que fez mais sucesso que todo o elenco de
"Salsa e Merengue" sem nem
sequer aparecer na novela?
Também, aconteceu o inverso: Leny Eversong cantava em
inglês, arrastando uma multidão para vê-la no "Mocambo", em Hollywood, e Maysa
cantou em Nova York.
Astrud Gilberto fez até um filme por lá, assim como a bailarina Eros Volusia. Sem falar em
Cauby Peixoto.
Bob Hope queria levar Oscarito para os "States", mas o
comediante se negou. E Norma
Bengell e Joel Barcellos filmaram na Europa. Assim como
Bibi Ferreira.
Mas o que incomoda é que
existem milhares de atores brasileiros de verdadeiro talento,
mas que, por estarem fora da
praia ou fora de forma, não podem ter a chance de participar
de uma novela. Tudo porque
meia dúzia de atores e atrizes
sem talento, mas com contratos de cinco anos, acham que
não merecem ser escalados para papéis em novelas que não
sejam do horário nobre.
Coincidentemente, são esses
os mesmos atores que, não importa em que lugar do país se
passe a história, falam como se
estivessem no Baixo Leblon.
Tenho uma sugestão: aumentem a idade dos personagens e
dêem esses papéis aos atores
que realmente entendem do
babado. É só ver "Os Ossos do
Barão" para sentir a diferença.
Apesar de, nessa novela, alguém ter deixado o nome de
Lia de Aguiar fora do elenco.
Que absurdo!
Por hoje é só. Mas na semana
que vem vamos falar mais sobre
atores estrangeiros no Brasil.
Minha pena venenosa mal pode
esperar...
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