|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LAVANDO ROUPA SUJA
Atrações vespertinas deixam de lado o formato tradicional e
investem em temas controvertidos na busca por audiência
Programas femininos apimentam as tardes da TV
BRUNO GARCEZ
DA REPORTAGEM LOCAL
OS PROGRAMAS femininos exibidos à tarde na TV estão deixando as
receitas de quindão e cuscuz de lado, jogando o artesanato para escanteio e investindo em adultério, pedidos de pensão e até em operações de troca de sexo.
Temas habituais de atrações como o
"Mulheres", da Gazeta; " A Casa É Sua",
da Rede TV!; e "Note & Anote", da Record, estão tendo de dividir espaço ou
simplesmente serem trocados por futricas e fofocas e "barracos", à exemplo do
que fazem atrações das tardes nos EUA,
como "The Jerry Springer Show" e "The
Ricki Lake Show".
O "Mulheres" adotou essa linha em
maio deste ano e, desde então, vem colhendo os frutos que plantou.
No último dia 23, ao exibir entrevista
com Dalize Melo, que dizia ter tido uma noite de amor
com o jogador Ronaldo, o programa atingiu um de seus
mais elevados índices de audiência, chegando a oito
pontos no Ibope, quando a média da atração é de cinco
(cada ponto equivale a 80 mil telespectadores na Grande São Paulo). Dalize já foi ao programa outras duas vezes, a mais recente na segunda-feira passada.
Além de Dalize, compareceram à mesma edição três
ex-namoradas do jogador Vampeta, do Corinthians. A
atração discutia a existência ou não da "maria chuteira", mulheres taradas por jogadores de futebol. Uma
das ex de Vampeta, Roberta Soares, já foi até convidada
pela emissora para comandar seu próprio programa.
Curiosamente, o convite se deu no ar, no próprio "Mulheres", semana retrasada.
Atualmente, o "Mulheres" não segue mais o modelo
antigo, de quando a apresentadora Claudete Troiano
dividia a cena com Ione Borges e quando o programa tinha quadros fixos que tratavam, principalmente, de culinária e utilidades domésticas. Receitas e artesanato
não aparecem mais no "Mulheres". Em substituição,
surgiram assuntos mais mundanos.
"Somos os pioneiros nessa linha. O público que nos
assiste tem bom humor, gosta de palhaçadas. Mas temos também essa coisa jornalística antiga, de ajudar as
pessoas", afirma Sandra Barbosa, supervisora de produção da Gazeta. Por jornalismo à antiga, Sandra cita recentes reportagens. Em
uma delas, a dupla sertaneja Gian e Giovanni se oferecia para dar uma mesada a
uma jovem cuja mãe alegava não ter
condições de criar as filhas.
Outras atrações também mudaram de
linha, mas não tanto quanto o "Mulheres". É o caso do "Note & Anote", da Record. O programa, sob comando de Cátia Fonseca, diversificou o estilo que
apresentava com Ana Maria Braga.
Agora, além de dar a receita do bifão
da vó Filhinha, a atração também procura esmiuçar a vida de artistas. O apresentador Nelson Rubens, expert em fofocas
sobre famosos, em edição exibida há
duas semanas, pediu, ao vivo, que algum
empresário doasse um teclado ao filho
do cantor Luciano, já que, supostamente, o pai não lhe fizera esse agrado, mesmo a pedidos. "Ainda trazemos três receitas diárias e quadros com dança e artesanato. De fofoca, todo mundo gosta",
afirma o diretor Rodrigo Riccó.
A fim de incrementar o segmento de
mexericos, o programa passou a trazer
artistas ao programa. Antes, só exibia
suas imagens ou os entrevistava por telefone. Mas nem só de revelar intimidades
vive o "Note & Anote", garante Riccó.
"Temos um quadro de ajuda. Já oferecemos tratamento a uma senhora obesa e
uma plástica para uma moça de seios
muitos grandes", defende o diretor.
Outro que também mudou seu estilo é
o "A Casa É Sua", quando, em fevereiro,
começou a ser produzido pela Central de
TV. O programa passou a contar com um quadro de fofocas do meio artístico, apresentado por Sônia Abrão, e
a exibir reportagens mais ousadas.
O cantor Rafael Ilha e suas sucessivas recaídas nas
drogas viraram tema recorrente. Recentemente, o programa chegou a exibir imagens de uma operação de troca de sexo. "Fomos criteriosos. Pusemos no ar slides e
fotos rigorosamente selecionadas. Rogério Gallo (superintendente artístico de programação da Rede TV!) se
assustou com a pauta antes de exibirmos a matéria, mas
tratamos o assunto de forma prudente", diz o diretor
Hélio Vargas. A mudança de formato tem garantido
cerca de 20 inserções de merchandising por edição.
Texto Anterior: Jornalismo: Record abre escritório de notícias em Londres Próximo Texto: TV arco-íris: Gays querem mais espaço na TV Índice
|