São Paulo, domingo, 23 de julho de 2000


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PERFIL / JOANA LIMAVERDE

O currículo da atriz Joana Limaverde, 24, que interpreta a socialite Bruna em "Uga Uga", está cheio de personagens rurais, quase selvagens. Foi assim em "Tocaia Grande", "Xica da Silva" e "Mandacaru", na extinta Rede Manchete, e em "Estrela de Fogo", na Rede Record.
Filha do compositor Ednardo, autor da canção "Pavão Misterioso", Joana não acredita que seu sucesso se deva à sua beleza. "Comecei no teatro bem cedo e meus primeiros papéis não eram mocinhas românticas. As pessoas sabem que sei fazer outras coisas", diz.


ALEXANDRE MARON
DA SUCURSAL DO RIO

Sua personagem é uma jovem da alta sociedade com um comportamento suspeito ou uma patricinha inocente?
Ela é um mistério. A Bruna e a mãe, Vitória (Silvia Pfeiffer), são consideradas padrão de elegância e educação da sociedade carioca, mas ela tem uma relação muito esquisita com o marido (Luciano Szafir). Ninguém entende porque ela, que é bonita, tem dinheiro, se submeteu àquele cara. Agora que ele sumiu, nem eu sei se ela teve alguma coisa com isso.
E não saber o que acontecerá não é incômodo, não dificulta a composição?
Não. Fazer novela é um pouco de quebra-cabeça, e é gostoso por isso. Você não pode determinar como é o seu personagem, precisa ter jogo de cintura, porque pode acontecer uma reviravolta a qualquer momento, principalmente nas novelas do Lombardi. "Uga Uga" não tem compromisso com realismo. O espectador gosta. Ele pensa que uma coisa não pode acontecer e ela acontece. Eu vou sabendo das coisas pelos capítulos que recebo.
O que você fez antes de "Uga Uga"?
Comecei no teatro aos 16, na Casa de Cultura Laura Alvim. Em 1995, fiz a Oficina de Atores da Globo. O Manguinha me dirigiu em um comercial, o Avancini viu e me chamou para a Manchete, onde fiz "Tocaia Grande", "Xica da Silva" e "Mandacaru". Depois fui para o SBT fazer teleteatros. Contracenei com Joana Fomm, Irene Ravache, Tônia Carrero, Osmar Prado, Ana Paula Arósio, Tarcisinho, muita gente boa. Quando acabaram os teleteatros a Record me contratou para fazer "Estrela de Fogo". Foi legal porque deu uma audiência boa, teve duas fases. Desde 1995, eu não saio do ar. No ano passado, quando não fiz novela, "Estrela" voltou ao ar e fiz uma participação rápida em "Vila Madalena".
Todo novo rosto feminino bonito que surge tem o desempenho julgado com mais rigor. Como você enfrenta isso?
Eu não me preocupo nem um pouco. Comecei a minha carreira no teatro, que não tem nada a ver com vaidade. É se jogar no chão, ficar suja, suar. Não comecei fazendo a mocinha romântica, tenho uma outra história. Quem viu meu trabalho, sabe que eu posso fazer outras coisas antes. Eu não faço só a riquinha carioca, posso ser uma sertaneja.
A Bruna é a sua primeira personagem de destaque que não é pobre?
É a primeira vez que faço uma personagem assim. Que é urbana, aparece bonitinha e penteada. Minha primeira personagem na TV era uma prostituta dos anos 20, pobre, em "Tocaia Grande". Depois, uma feiticeira do século 18, em "Xica da Silva", com uma peruca e uma cobra pendurada. Em "Mandacaru", fiz uma cangaceira que vivia imunda, cheia de olheiras. No teleteatro, no SBT, fiz desde cantora de cabaré até mãe sofredora. Em "Estrela", fiz uma peoa.
E esse seu currículo tem ligação com a forma como você encara a sua carreira?
Durante um tempo, eu trabalhei em locadora de vídeo e dava aula particular para pagar o meu curso de teatro, na Casa de Cultura Laura Alvim. Faço teatro desde os seis anos, na escola. Nos dois anos que eu fiquei sem fazer teatro, senti falta, porque o teatro é a essência do ator. Seu interesse pelo teatro começou cedo. Tem alguma ligação com seu pai, o compositor Ednardo?
Os primeiros livros de Stanislavski que eu li eram do meu pai, que eu considero um grande companheiro e um artista brilhante. E não é autor de uma música só. São 250 composições gravadas, vários sucessos. "Pavão Misterioso" é apenas um deles. O admiro porque existem poucos artistas que, como ele, não traíram sua obra. Ele não se vendeu. O artista não pode fazer qualquer coisa só para aparecer. A atitude dele é uma lição de vida, um artista que não abre mão de suas idéias. Isso é de uma dignidade rara.
Quais são as músicas dele das quais você gosta mais?
Gosto de "Flora", e adoro "Manga Rosa", que ele compôs para mim. As trilhas de cinema dele são lindas. Acho que minha paixão por cinema veio daí.
Com a Bruna, as pessoas passaram a reconhecê-la mais nas ruas. Não a assusta a efemeridade desse sucesso?
A gente tem de ser realista. É muito perigoso se deslumbrar, achar que está na mídia e é a tal. Depois vem a próxima novela, com novos rostos...
Quero fazer bem o meu trabalho, estar satisfeita. Não sou nem um pouco deslumbrada, sigo a lição do meu pai. Não é porque agora as pessoas me reconhecem mais do que antes, quando eu estava em outras emissoras, que vou achar que as coisas são diferentes.



BLITZ
Nome: Joana Limaverde
Data e local de nascimento: 4 de setembro de 1975, em São Paulo
Novelas em que já atuou: "Tocaia Grande" "Mandacaru", "Xica da Silva", "Estrela de Fogo", "Vila Madalena" e "Uga Uga"
Diversão: literatura, teatro e cinema




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