São Paulo, domingo, 23 de julho de 2000


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ATLETAS NO AR
Hortência, Ana Moser, Ricardo Prado e Renan, que já trouxeram medalhas para o Brasil, vão atuar na cobertura televisiva da Olimpíada de Sydney
Ex-campeões trocam competições pela TV

Ed Viggiani/Folha Imagem
Ricardo Prado, medalha de prata em natação na Olimpíada de Moscou, em 84, e comentarista da ESPN Brasil


CLÁUDIA CROITOR
DA REPORTAGEM LOCAL

ELES não conseguiram índice nem passaram por eliminatórias -pelo menos, não desta vez. Mesmo assim, estarão participando da Olimpíada de Sydney, que acontece a partir do dia 15 de setembro. Casagrande, Hortência, Fernanda Venturini, Ana Moser, Ademar Ferreira da Silva, Renan, Paula são alguns dos atletas que, depois de abandonar as quadras, os campos, as pistas ou as piscinas, resolveram migrar para o "outro lado" -viraram comentaristas, repórteres e até apresentadores na TV.
"Quando termina a carreira de um atleta, há uma fase meio difícil, de transição para um novo estilo de vida. Ir para a televisão acaba sendo uma boa saída", diz o ex-jogador Casagrande, que desde 97 comenta jogos de futebol na Globo.
Para Renan, ex-jogador de vôlei que defendeu o Brasil em três Olimpíadas - e este ano faz parte, junto com Casagrande, da equipe da Globo que vai para Sydney-, estar na TV é uma maneira de continuar a contribuir com o esporte. "Ser comentarista não é uma nova profissão, mas acho gostoso poder continuar no vôlei de alguma maneira, dando alguma contribuição. Além disso, como ex-atleta, tenho uma visão diferente dos outros comentaristas, pois já vivi o que os jogadores estão vivendo, posso dar uma visão de quem já esteve na quadra, em um jogo de Olimpíada, por exemplo."
A experiência é, aliás, o principal trunfo dos ex-atletas quando o assunto é comentar. "Nós sabemos detalhes que quem é jornalista não conhece. Nosso comentário tem um lado sentimental, não é um comentário frio. Já perdemos muito, já ganhamos muito também, por isso conhecemos as emoções, as dificuldades, dentro e fora de campo, de quem está jogando", diz Casagrande.
Ana Moser, que abandonou a seleção brasileira feminina de vôlei no ano passado, tem a mesma opinião. "Temos uma visão mais técnica, que os jornalistas não têm. Já ouvi muita besteira de gente que não entende nada, mas está lá, comentando. Eu posso não saber muito de televisão, mas entendo demais de vôlei", diz a ex-jogadora, que vai comentar os jogos da Olimpíada de Sydney para o canal pago ESPN Brasil (TVA/DirecTV).
E, em relação às críticas aos atletas, o discurso de todos os comentaristas também é unânime. "Não quero criticar ninguém. É claro que é preciso comentar se alguém está bem ou mal, mas temos que ponderar tudo por que o atleta passa dentro de quadra", afirma Fernanda Venturini, que este ano deixou a seleção feminina brasileira de vôlei, mas vai a Sydney fazer a cobertura dos Jogos pelo canal pago SporTV (Net/Sky).
Mas, mesmo com toda a experiência a seu favor, para José Trajano, diretor de jornalismo e programação da ESPN Brasil, os atletas quase nunca são bons comentaristas. "Não é fácil pegar atletas e transformá-los em comentaristas. Por mais experiência que eles tenham no esporte, nem sempre conseguem passar todo esse conhecimento. É preciso ter empatia com os telespectadores, carisma e, principalmente, saber falar. Não basta ser famoso. É a mesma coisa que colocar um modelo para ser protagonista da novela das oito. Se ele for só bonito, mas não souber nada de interpretação, não dá", diz. "Aqui no canal, a política é ter sempre jornalistas comentando. Os ex-atletas são exceção. Só contratamos um quando ele tem realmente um diferencial, uma cabeça aberta, sabe falar de tudo, não só do seu esporte."
Mesmo assim, Trajano admite que, em certos esportes, ter um comentarista que já foi atleta é fundamental. "Em modalidades pouco conhecidas do público, como saltos ornamentais ou nado sincronizado, por exemplo, é muito importante contar com os comentários de alguém que entenda a fundo. Até na natação isso é importante. Não adianta um jornalista conhecer toda a história da prova. Só um nadador pode saber se com aquele número de braçadas o cara vai conseguir bater o recorde, por exemplo."
Foi aproveitando essa necessidade que Ricardo Prado, medalha de prata nos 400 metros medley nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 84, descobriu seu talento na TV. "Não é qualquer um que consegue se adaptar ao esquema da televisão, mas é o sonho de grande parte dos atletas. Eu estou adorando. Não tenho pretensões de ter um programa infantil, mas gostaria de me especializar mais em TV e continuar na área", brinca o ex-nadador, que comenta as principais competições de natação para a ESPN Brasil e vai participar, mesmo sem sair do país, da cobertura da Olimpíada deste ano.
E, embora a maioria dos atletas vá para a TV só depois de se aposentar no esporte, há quem nem espere parar de jogar para isso. A dupla de vôlei de praia Adriana Behar e Shelda, que já tem lugar garantido na Olimpíada, vai aproveitar as horas vagas para comentar os jogos das outras duplas para o SporTV. O mesmo deve ser feito pelo nadador Fernando Scherer, o Xuxa, que participará de quatro provas em Sydney e ainda espera arrumar tempo para comentar algumas competições para o canal.

Apresentando
Scherer faz parte do time de atletas que não ficaram apenas com a função de comentaristas. Mesmo com seu dia-a-dia tomado pelos treinos, ele ainda encontra tempo para apresentar o programa "Acqua TV", também no SporTV. "Procuro gravar vários programas de uma vez, para não atrapalhar meus treinos. E está sendo uma experiência muito boa trabalhar na TV, não pretendo parar", diz o nadador.
A ex-jogadora de basquete Hortência é outra que já ganhou um programa próprio. Ela comanda o "Vida de Esportista", uma atração semanal, na Rede Bandeirantes, na qual entrevista atletas.
"Não gosto de dizer que sou entrevistadora. Na verdade, me considero uma "conversadora". É isso o que eu sei fazer, bater papo com os atletas. E é do que eu gosto. Acho que foi por isso que me chamaram."
A tetracampeã de bodyboard Glenda Kozlowski, que também trocou o esporte pelas câmeras, é uma das mais experientes na TV -já foi comentarista, apresentadora e hoje é repórter do "Esporte Espetacular", da Globo, onde está desde 96.
"Gostei tanto de trabalhar na TV que, quando fui prestar vestibular, não tive dúvidas: escolhi jornalismo", conta.


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