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ATLETAS NO AR
Hortência, Ana Moser, Ricardo Prado e Renan, que já trouxeram medalhas para o Brasil, vão atuar na cobertura televisiva da Olimpíada de Sydney
Ex-campeões trocam competições pela TV
Ed Viggiani/Folha Imagem
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Ricardo Prado, medalha de prata em natação na Olimpíada de Moscou, em 84, e comentarista da ESPN Brasil |
CLÁUDIA CROITOR
DA REPORTAGEM LOCAL
ELES não conseguiram índice nem
passaram por eliminatórias -pelo
menos, não desta vez. Mesmo assim, estarão participando da Olimpíada de
Sydney, que acontece a partir do dia 15
de setembro. Casagrande, Hortência,
Fernanda Venturini, Ana Moser, Ademar Ferreira da Silva, Renan, Paula são
alguns dos atletas que, depois de abandonar as quadras, os campos, as pistas ou
as piscinas, resolveram migrar para o
"outro lado" -viraram comentaristas,
repórteres e até apresentadores na TV.
"Quando termina a carreira de um
atleta, há uma fase meio difícil, de transição para um novo estilo de vida. Ir para a
televisão acaba sendo uma boa saída",
diz o ex-jogador Casagrande, que desde
97 comenta jogos de futebol na Globo.
Para Renan, ex-jogador de vôlei que
defendeu o Brasil em três Olimpíadas -
e este ano faz parte, junto com Casagrande, da equipe da Globo que vai para
Sydney-, estar na TV é uma maneira de
continuar a contribuir com o esporte.
"Ser comentarista não é uma nova profissão, mas acho gostoso poder continuar no vôlei de alguma maneira, dando
alguma contribuição. Além disso, como
ex-atleta, tenho uma visão diferente dos
outros comentaristas, pois já vivi o que
os jogadores estão vivendo, posso dar
uma visão de quem já esteve na quadra,
em um jogo de Olimpíada, por exemplo."
A experiência é, aliás, o principal trunfo dos ex-atletas quando o assunto é comentar. "Nós sabemos detalhes que
quem é jornalista não conhece. Nosso
comentário tem um lado sentimental,
não é um comentário frio. Já perdemos
muito, já ganhamos muito também, por
isso conhecemos as emoções, as dificuldades, dentro e fora de campo, de quem
está jogando", diz Casagrande.
Ana Moser, que abandonou a seleção
brasileira feminina de vôlei no ano passado, tem a mesma opinião. "Temos
uma visão mais técnica, que os jornalistas não têm. Já ouvi muita besteira de
gente que não entende nada, mas está lá,
comentando. Eu posso não saber muito
de televisão, mas entendo demais de vôlei", diz a ex-jogadora, que vai comentar
os jogos da Olimpíada de Sydney para o
canal pago ESPN Brasil (TVA/DirecTV).
E, em relação às críticas aos atletas, o
discurso de todos os comentaristas também é unânime. "Não quero criticar ninguém. É claro que é preciso comentar se
alguém está bem ou mal, mas temos que
ponderar tudo por que o atleta passa
dentro de quadra", afirma Fernanda
Venturini, que este ano deixou a seleção
feminina brasileira de vôlei, mas vai a
Sydney fazer a cobertura dos Jogos pelo
canal pago SporTV (Net/Sky).
Mas, mesmo com toda a experiência a
seu favor, para José Trajano, diretor de
jornalismo e programação da ESPN Brasil, os atletas quase nunca são bons comentaristas. "Não é fácil pegar atletas e
transformá-los em comentaristas. Por
mais experiência que eles tenham no esporte, nem sempre conseguem passar
todo esse conhecimento. É preciso ter
empatia com os telespectadores, carisma
e, principalmente, saber falar. Não basta
ser famoso. É a mesma coisa que colocar
um modelo para ser protagonista da novela das oito. Se ele for só bonito, mas
não souber nada de interpretação, não
dá", diz. "Aqui no canal, a política é ter
sempre jornalistas comentando. Os ex-atletas são exceção. Só contratamos um
quando ele tem realmente um diferencial, uma cabeça aberta, sabe falar de tudo, não só do seu esporte."
Mesmo assim, Trajano admite que, em
certos esportes, ter um comentarista que
já foi atleta é fundamental. "Em modalidades pouco conhecidas do público, como saltos ornamentais ou nado sincronizado, por exemplo, é muito importante contar com os comentários de alguém
que entenda a fundo. Até na natação isso
é importante. Não adianta um jornalista
conhecer toda a história da prova. Só um
nadador pode saber se com aquele número de braçadas o cara vai conseguir
bater o recorde, por exemplo."
Foi aproveitando essa necessidade que
Ricardo Prado, medalha de prata nos 400
metros medley nos Jogos Olímpicos de
Los Angeles, em 84, descobriu seu talento na TV. "Não é qualquer um que consegue se adaptar ao esquema da televisão, mas é o sonho de grande parte dos
atletas. Eu estou adorando. Não tenho
pretensões de ter um programa infantil,
mas gostaria de me especializar mais em
TV e continuar na área", brinca o ex-nadador, que comenta as principais competições de natação para a ESPN Brasil e
vai participar, mesmo sem sair do país,
da cobertura da Olimpíada deste ano.
E, embora a maioria dos atletas vá para
a TV só depois de se aposentar no esporte, há quem nem espere parar de jogar
para isso. A dupla de vôlei de praia
Adriana Behar e Shelda, que já tem lugar
garantido na Olimpíada, vai aproveitar
as horas vagas para comentar os jogos
das outras duplas para o SporTV. O
mesmo deve ser feito pelo nadador Fernando Scherer, o Xuxa, que participará
de quatro provas em Sydney e ainda espera arrumar tempo para comentar algumas competições para o canal.
Apresentando
Scherer faz parte do time de atletas que
não ficaram apenas com a função de comentaristas. Mesmo com seu dia-a-dia
tomado pelos treinos, ele ainda encontra
tempo para apresentar o programa "Acqua TV", também no SporTV. "Procuro
gravar vários programas de uma vez, para não atrapalhar meus treinos. E está
sendo uma experiência muito boa trabalhar na TV, não pretendo parar", diz o
nadador.
A ex-jogadora de basquete Hortência é
outra que já ganhou um programa próprio. Ela comanda o "Vida de Esportista", uma atração semanal, na Rede Bandeirantes, na qual entrevista atletas.
"Não gosto de dizer que sou entrevistadora. Na verdade, me considero uma
"conversadora". É isso o que eu sei fazer,
bater papo com os atletas. E é do que eu
gosto. Acho que foi por isso que me chamaram."
A tetracampeã de bodyboard Glenda
Kozlowski, que também trocou o esporte pelas câmeras, é uma das mais experientes na TV -já foi comentarista,
apresentadora e hoje é repórter do "Esporte Espetacular", da Globo, onde está
desde 96.
"Gostei tanto de trabalhar na TV que,
quando fui prestar vestibular, não tive
dúvidas: escolhi jornalismo", conta.
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