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"Em cada país as pessoas vêem a saga de um jeito'
de Berkeley
Jeff Greenwald pode se
tornar um dos próximos
roteiristas de "Voyager".
Brannon Braga, o novo
produtor executivo da série, pediu que apresentasse
algumas idéias para um
episódio. Greenwald, que
disse que gostaria de ter incluído um encontro com
trekkers brasileiros, "mas
viajar para a América do
Sul ia ficar muito caro",
recebeu a Folha em um café próximo a sua casa em
Oakland, Califórnia. Leia a
seguir trechos da conversa.
Folha - Segundo seu livro, "Jornada nas Estrelas"
é uma "mitologia global".
Como uma mitologia pode
nascer da indústria de entretenimento?
Jeff Greenwald - Há
elementos sagrados nas
mitologias, mas elas também significam entretenimento, e entretenimento
muito bom, uma vez que
elas oferecem um modelo
moral. Não me surpreende, portanto. O que torna
"Jornada nas Estrelas"
diferente de outras mitologias é o fato de ela ser uma
mitologia do futuro. Você
pega a tecnologia e as
idéias básicas que estão
sendo desenvolvidas hoje e
projeta essas idéias três,
cinco séculos no futuro,
em seu melhor desenvolvimento hipotético, ou seja,
o melhor uso da tecnologia
e da diplomacia, a aldeia
global no melhor sentido.
Folha - O que essa nova
mitologia diz a respeito da
cultura contemporânea?
Greenwald - "Jornada
nas Estrelas" é um ciclo de
histórias que cobre 32 anos
de história americana contemporânea. A série original era uma espécie de Camelot espacial, era um
produto da era Kennedy e
da Guerra Fria. Os vilões
eram os klingons, que foram inspirados na imagem
que tínhamos dos russos.
Havia uma mulher negra
na ponte de comando da
primeira Enterprise, o que
era uma tremenda ruptura
para uma sociedade que
ainda não havia aprendido
a aceitar negros numa posição de igualdade com os
brancos. "A Nova Geração" reflete os EUA nos
anos 80: há uma terapeuta
na ponte de comando! Em
"Voyager", você tem um
comandante feminino, em
"Deep Space Nine", você
tem uma série de conflitos
políticos...
Folha - Você acha que há
algum outro programa na
TV que possa ter o mesmo
impacto de "Jornada"? "Arquivo X" chegará lá?
Greenwald - "Jornada
nas Estrelas" e "Arquivo
X" são ambos seriados sobre fé, de certa forma.
"Arquivo X" é baseado na
crença de que as coisas são
realmente ruins no mundo
lá fora, que não há cinismo
que chegue... "Jornada
nas Estrelas" é sobre o tipo oposto de fé, é basicamente otimista. Não acho
que "Arquivo X" vá chegar perto do impacto de
"Jornada nas Estrelas".
Folha - Como "Jornada
nas Estrelas" tornou-se um
fenômeno global?
Greenwald - O que eu
aprendi viajando pelo
mundo conversando com
trekkers em diferentes países é que "Jornada nas Estrelas" é como aquela fábula dos homens cegos que
encontram um elefante e
cada um descreve o animal
baseado na parte do elefante que está tocando. Ou
seja, em cada cultura as
pessoas adotaram "Jornada nas Estrelas" de acordo
com suas esperanças e
pensamentos. Na Alemanha, "Star Trek" é uma
forma das pessoas dramatizarem suas tendências
militaristas guerreiras, colocando-as num contexto
positivo, divertido. No Japão, as pessoas ficam extremamente atraídas pela
hierarquia do comando da
Enterprise e fascinadas por
Data, o andróide que quer
se tornar humano de "A
Nova Geração", porque
eles vêem isso como uma
metáfora da sociedade japonesa emergindo para o
mundo. No norte da Índia,
no Tibete, monges budistas assistem "Star Trek"
porque eles vêem um reflexo de sua mitologia do
shambala, o futuro paraíso
terreno.
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