São Paulo, domingo, 24 de fevereiro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

POR QUE É DIFÍCIL RENOVAR O HUMOR?

Lúcio Mauro Filho (humorista que faz o filho gay de Jorge Dória em "Zorra Total")
Acho que existe renovação. Temos a turma que começou na Tupi, como meu pai (Lúcio Mauro), o Agildo, o Dória; a segunda geração, que é a turma do "TV Pirata"; e, agora, esse pessoal mais novo, como a Cláudia Rodrigues e Heloísa Périsse. O "Zorra Total" tem os moldes de programas como "Balança Mas Não Cai", que é o humor de repetição, no qual o personagem é mais importante que o texto. Há uma carência de roteiristas, mas a dramaturgia de humor ganhou muito com "Os Normais", a reedição de "A Grande Família".

Hubert ("Casseta & Planeta")
O humor brasileiro hoje tem uma oferta muito grande e todos fazem o melhor no seu gênero: tem o sitcom ("Os Normais"), atualidades (nós), o estilo antigo de auditório ("A Praça É Nossa", "Zorra Total") e o "trash" ("Hermes e Renato"). Isso é um reflexo do público. "Zorra", "A Praça" e "Escolinha" não podem ser encarados como repetitivos, porque esse é o estilo, uma roupagem tradicional que nasce do comediante que faz tipos. Mas, realmente, é difícil encontrar um bom redator de humor, por isso, quando aparece um, todo mundo quer. Se a gente comparar a TV brasileira com a americana, veremos que o nosso humor é muito melhor.

Carlos Alberto Nóbrega ("A Praça É Nossa")
O humor brasileiro está em baixa. Muita apelação, pouquíssimos redatores. Ou se faz algo mais antigo, como "A Praça" ou "Zorra", ou uma coisa mais pesada, como "Casseta & Planeta". Não há meio-termo. O que fazemos é muito antigo, reconheço. Mas é porque não há renovação. A maioria dos comediantes veio do rádio. Falta concorrência e as emissoras não investem como deveriam. Isso atrapalha. Temos uma dificuldade enorme para melhorar, porque, quando pedimos verba, não tem. Infelizmente, a TV é modismo: agora são os "reality shows". O humor sempre foi deixado de lado. Daqui a três meses, quando acabar a "Casa dos Artistas 2", ninguém vai se lembrar do pessoal da "Casa 1".

Ney Latorraca (ex-"TV Pirata")
Temos várias opções, mas sinto falta de algo mais experimental como o "TV Pirata". "Os Normais" é do ano passado. Temos que apostar na experiência agora, em 2002. Respeito programas como "A Praça É Nossa" e "Zorra Total". São escolas comparáveis ao circo e devem ser mantidos. É dessas raízes que nasce o novo. Grossura eu não vejo, não se pode criar humor através da desgraça alheia. Você não pode fazer uma pessoa rir enquanto a outra chora; isso é muito cômodo.

Ronald Golias ("A Praça É Nossa")
Precisamos de texto, temas bons, roteiristas. Isso ajuda muito na hora da interpretação. Há bons roteiristas, mas a programação é semanal e não dá tempo de aprimorar mais.

Suzana Abranches (ex-redatora do "Garotas do Programa", que ficou em cartaz na Globo por quatro meses)
A Globo queria um programa que pegasse no pé dos homens, mas que, depois, abriria para outros temas. A audiência era de 22 pontos e as pessoas lembram até hoje. Não sei por que acabou, foi uma daquelas coisas misteriosas da Globo. Tinha uns pançudos velhos lá dentro que ficavam incomodados com o que a gente falava de homem, mas nem sei se o motivo foi esse mesmo, porque nunca pegamos pesado. Quando a mulher faz humor, é como se pudesse ir só até a página 17. Não pode ousar muito, tem que ser sutil; se falar abertamente, choca. Homem pode falar o que quiser.

Tom Cavalcante (prepara novo programa para a Globo)
Quando a emissira prioriza humor, tem um custo-benefício interessante, mas, mesmo assim, elas mexem pouco com o gênero, não sei por quê. O humor no Brasil sempre foi marginal, andou pelas beiradas, nunca foi muito respeitado. Grandes épicos da Atlântida foram esquecidos, ninguém mais sabe quem foi Oscarito. O Chico Anysio tem um programa pronto, o "Chico.Tom", que eles não põem no ar. É displicência dos dirigentes mesmo. O brasileiro gosta de humor, por isso é que o Ratinho faz aquele pastelão de circo e o povo adora.



Texto Anterior: "Vida de Plástico" também inova
Próximo Texto: Vale a pena ver: Especial mostra rock de Brasília
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.