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ENTREVISTA - FERNANDA YOUNG E ALEXANDRE MACHADO
"Observamos as maluquices"
Caio Guatelli/Folha Imagem
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Fernanda Young e Alexandre Machado, autores do seriado "Os Normais", que volta em abril com novos episódios à programação da Globo |
CARLA MENEGHINI
DA SUCURSAL DO RIO
Desde sua estréia, em junho de 2001, a sitcom
"Os Normais", da Globo, manteve média de
22 pontos no ibope, três acima do que a
emissora costumava atingir nas noites de
sexta. Depois do recesso de final de ano, o
programa volta em abril, com novas confusões de Vani (Fernanda Torres) e Rui (Luiz
Fernando Guimarães). A seguir, os autores
Alexandre Machado e Fernanda Young, marido e mulher, falam sobre o programa.
Qual a sua opinião sobre o humor que
vemos hoje na TV?
Alexandre - Sinto falta de humor de esquetes e de um humor de tipos um pouco mais ousado e criativo. É possível, vide programas como "Saturday Night Live" e o extinto "Kids In the Hall".
Por que é tão difícil renovar o humor na
TV brasileira?
Alexandre - É difícil? Tem alguém tentando sem conseguir?
Qual é o segredo de "Os Normais"?
Fernanda - Ideologia, embora as pessoas não costumem incluir ideologia entre os pressupostos de um programa de
televisão, dada a natureza descartável do
veículo. Mas o bom pop é sempre calcado numa boa intenção. Nossa ideologia
foi, desde o começo, fazer um humor que
respeitasse a inteligência das pessoas e
que não fosse um humor depreciativo,
do tipo "olha como somos todos uns
merdas, como o país é uma porcaria e como ser ignorante é engraçado".
Alexandre - Optamos por um caminho que fosse, além de divertido, instigante e provocante. O telespectador termina de assistir a um episódio e pensa:
"O que será que esses caras vão inventar
na semana que vem?". Isso faz desenvolver com o público um tipo de relação sadia de fidelidade, que não se baseia na
dependência, mas no afeto.
Vocês esperavam tanto sucesso?
Alexandre - Não posso negar que tinha
uma forte intuição de que o programa ia
dar o que falar. Sabia que alguns ingredientes incluídos em sua fórmula iam
mexer com as pessoas.
Fernanda - Sucesso é uma palavra perigosa, principalmente no Brasil de hoje.
Coisas horríveis fazem extremo sucesso e
coisas ótimas passam despercebidas pelo
público.
Como vocês criam? O fato de vocês serem casados ajuda?
Alexandre - A intensidade do trabalho
é tal que se mistura ao nosso dia-a-dia,
vencendo qualquer tipo de tentativa de
planejarmos uma rotina. Nosso humor
se baseia na observação das pequenas
maluquices de cada um.
Fernanda - Essa mistura complicada
tem dado certo porque há muito tempo
abolimos as disputas de ego.
Quais são as suas principais influências?
Fernanda - O ser humano e suas esquisitices.
Que mudanças estão previstas para a segunda temporada do programa?
Alexandre - Devemos investir nas coisas que deram mais certo no ano passado. Não sei se chamaria isso de mudança
ou apenas de natural amadurecimento.
Claro, pretendemos avançar um pouco
mais os limites, porque, em televisão,
quem fica se repetindo assina seu atestado de óbito.
Há restrições feitas aos textos, relativas, por exemplo, à abordagem da sexualidade? A Globo já fez cortes?
Fernanda - As restrições começam em
nós mesmos, e são todas ligadas aos limites do bom gosto. A Globo jamais
atrapalhou, muito pelo contrário: desde
o começo, nos surpreendeu com sua
abertura à temática do programa.
Alexandre - Meu sonho dourado é
conseguir que os personagens possam
falar da maneira que as pessoas falam
em suas casas, em seus trabalhos. Isso
ainda não é possível na televisão de nenhum lugar do mundo, pois algumas
palavras ainda sofrem com o suposto
peso de sua fonética. Por exemplo, no
programa chamamos o órgão sexual
masculino de "pinto", o que já foi uma
conquista, mas todos nós sabemos que
em suas casas as pessoas têm um maior e
mais divertido espectro de opções, principalmente as que começam com a letra
"p". Mas esse não é
um problema ligado à Globo -na
NBC ou na CBS, as
sitcoms também
têm que usar apelidinhos mais tolos
para partes indiscretas do corpo.
Por que o Rui trai
mais que a Vani no
seriado?
Alexandre - Porque os homens
traem mais que as
mulheres.
Como será a intervenção de Rui e Vani
no "Big Brother Brasil"?
Alexandre - É uma espécie de teste para descobrir quem é o mais normal de lá
e o mais esquisito. O principal dos "reality shows" não é o humor. Os momentos de humor ali são incertos e variados.
"Nossa ideologia foi, desde o começo, fazer um humor que respeitasse a inteligência das pessoas e que não fosse um humor depreciativo"
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