São Paulo, domingo, 25 de março de 2001

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DEGELO

"Desta vez não é mentira", diz Cazé

Com a estréia do seu programa prevista para o dia 1º de abril, apresentador afirma que a Globo estava certa ao deixá-lo na "geladeira"

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

"TUDO BEM?" "É, agora tudo bem." Assim começou a conversa de mais de duas horas que o apresentador Cazé Pecini, 33, teve com a Folha em uma lanchonete de São Paulo. O ex-VJ da MTV pode respirar aliviado. Quase um ano e meio depois de ter sido contratado pela Globo, ele finalmente teve seu programa aprovado pela direção da emissora. "Sociedade Anônima", que irá ao ar aos domingos, após "Sai de Baixo", teve a estréia confirmada para 1º de abril. Ele garante: "Desta vez não é mentira".
Na entrevista, Cazé, ou Carlos José de Araujo Pecini, mostrou que vive atualmente uma mistura da euforia profissional com medo das consequências que a exposição na Globo pode ter na sua vida pessoal. Mas para falar do trabalho Cazé não se intimida. Leia trechos abaixo.

Você já mostrou que não gosta de expor sua vida pessoal. Não acha que será complicado quando estiver no ar na Globo? O que faria, por exemplo, se fosse convidado para participar daquele quadro do Faustão em que os artistas choram ao ouvir depoimento dos familiares?
Acho que participar de programas da casa é natural. Mas não assim. A Globo não pode me forçar a expor minha vida num quadro assim ou assado. Acho abominável. É a história do culto à personalidade. Eu me vejo como um profissional de TV. O que importa é o trabalho que eu faço. Gosto de preservar minha família.
O que pensa de ter ficado 15 meses à espera da estréia?
Quando eu estava de fora da Globo, tinha essa impressão de geladeira. A vivência que eu tenho lá dentro é diferente. É óbvio que eu gostaria de estar no ar há mais tempo. Mas acho que foi uma decisão acertada da Globo. A emissora investe em mim, e eu vou lá para apresentar aquilo que eu acho bom.
Existe diferença salarial quando se está fora do ar?
Sim, acho que depende do contrato, mas o salário é diferente. Quando estiver no ar, ganharei 30% a mais.
Por que você ficou tanto tempo à espera da estréia?
Tive o primeiro contato com a Globo, que foi com o pessoal do "Casseta & Planeta", em outubro de 99. Eles apresentaram o projeto de um programa comigo para a emissora, que topou, e fui contratado. Fui montando a equipe e desenvolvendo as idéias. Em maio de 2000, apresentamos para a Marluce (Dias da Silva, diretora-geral da emissora). Ela gostou, e começamos a trabalhar com outras questões: horário, dia. Quando fui para a Globo, pensava que, como fazia um programa diário na MTV, iria fazer um semanal com os pés nas costas. Não é assim. É bem mais difícil fazer um semanal na Globo que o diário que eu fazia na MTV. Assim, só fomos começar a produção em outubro. Depois vieram as questões práticas da produção, que envolve muita tecnologia. Mas não acho que fiquei na geladeira. É claro que foi chato ficar 15 meses fora do ar, mas havia muito a fazer.
Toda essa estrutura não pode atrapalhar sua principal característica, a espontaneidade?
Se eu tivesse estreado, como previsto, no dia 28 de janeiro, isso teria acontecido. Quando fizemos o primeiro piloto (programa-teste), eu estava havia quase um ano fora do ar. Eu não tinha nenhuma experiência em um estúdio da Globo, e a diferença para o da MTV é abissal. E tinha toda a pressão de estar fora do ar, pessoas cobrando... Gravamos o programa, e a Globo não aprovou.
O que você achou que estava errado?
Na época, eu achei muito bom. Mas, comparando com o que apresentamos para a Marluce depois, há uma diferença enorme. Não dá para explicar a pressão que sentimos gravando na Globo pela primeira vez. Com isso, fui apagado. Não conseguia ir à platéia, tirar as coisas das pessoas, fiquei preso.
A Marluce realmente deu carta-branca?
Eu ainda não recebi essa carta, né?! (risos). Acho que tenho bastante liberdade. Eu tinha bastante liberdade na MTV, mas ela também tinha seus interesses, já chamaram a minha atenção. Há muito dinheiro envolvido, o espaço é da emissora. Pode chegar o momento em que a Globo vai dar uma travada em mim. Se eu não conseguir fazer mais nada, não tiver liberdade, aí é preciso rever tudo. Mas não temos sentido isso.
Qual é a idéia do "Sociedade Anônima'?
Vamos valorizar o anônimo, celebrizar o cidadão comum. Estamos de saco cheio dessa história de famosos profissionais. No programa, teremos muita interatividade. Um dos pontos será o auditório virtual, em que as pessoas vão poder participar via Internet. Vamos colocar web câmeras em alguns pontos de São Paulo e Rio, e quem quiser pode ir até lá e participar do programa, que será gravado. A gravação será transmitida ao vivo pela Internet, como um making of.
Em alguns momentos, essa idéia de explorar a vida anônima, que se consagrou com os "reality shows", se mostra banalizada? De que maneira irá tratar o anônimo em seu programa?
Em parte, faremos isso de uma maneira que já vínhamos fazendo, debatendo questões com a platéia. Pretendemos evitar a coisa piegas. Um dos quadros é o de calouros, candidatos a profissões televisivas. A menina do tempo contra o apresentador, a atriz contra o locutor. Aí já iremos mostrar a vida anônima, conversar com os candidatos, tirar coisas divertidas da conversa. Outro momento é um "game show", que não estará em todos os programas. Apresenta-se um "ilustre desconhecido", e vamos tornar essa pessoa famosa, celebrizá-la. Será, por exemplo, um empreendedor. Vamos mostrar que, dentro desse universo anônimo, sem ajuda do governo, há quem consegue construir algo a partir de suas idéias. Vamos trazer esse cara, ele entra e ninguém vê o rosto. Então as pessoas tentam montar o rosto dele com um programa de computador de construção facial. Quem tiver computador em casa também poderá participar da disputa entre os internautas. Será uma espécie de retrato falado.


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